O 3° Congresso de Organizações Políticas Anarquistas aconteceu nos dias 1 e 2 de Dezembro [de 2018] na Ocupação Mundo Nuevo, em Tessalônica (Grécia). Na manhã do primeiro dia, houve uma discussão acerca da conjuntura política e social, além de uma avalização do funcionamento da organização. Além dos coletivos que compõem a A.P.O. (coletivos anarquistas “Circle of Fire” e “Omikron 72” de Atenas, coletivo pelo comunismo libertário “Libertatia”, o coletivo pelo anarquismo social “Red and Black” de Tessalônica e o coletivo anarquista “Untamed Horse” de Patras), o coletivo anarquista “Pueblo” de Tessalônica também fez parte da discussão. Depois disso, foi acrescentado às posições do estatuto da A.P.O., questões acerca do processo educacional e da destruição do meio ambiente, também foi adicionado à estrutura de decisão e organização da A.P.O. os grupos de trabalho de contra-informação, de tradução e comunicação internacional, além do quadro editorial do jornal “Land and Freedom” e do grupo contra o patriarcado. Por fim, analisamos as ações tomadas pela A.P.O. durante este ano e formamos a estratégia política a ser executada até nosso próximo Congresso.
O Congresso foi completado com a validação das decisões tomadas acerca de posições políticas, estratégicas e táticas, e com o agendamento de nosso próximo Colóquio no verão de 2019, em Patras, além do compromisso com o próximo Congresso em 2020, na cidade de Atenas.
As posições dos coletivos membros da A.P.O. são baseadas no entendimento de que o coletivo é parte de um movimento maior contra a barbárie do Estado e do capital. Ao propor a ideia de um grande movimento anarquista organizado como algo realista e eficiente, os movimentos almejam se tornar o motor que transforma lutas parciais e protestos reflexivos em uma proposta revolucionária e unificada de anarquismo, construída a partir das lutas de hoje. A experiência adquirida no envolvimento a longo prazo com a luta nos levou a entender que a organização é uma condição fundamental para o desenvolvimento de um plano revolucionário concreto, que pode contribuir para as lutas locais, assim como as experiências das lutas locais contribuem para a construção de tal plano revolucionário.
Na conjuntura atual, o sistema não pode prometer nada além de guerras, exclusão e miséria. Para manter a austeridade, o sistema se fortifica militarmente contra a expressão social generalizada de descontentamento, em âmbito local e global. É o período onde os Estados e patrões estão tentando impor à sociedade o anúncio do “fim da história”, a fim de convencer as pessoas de que não existem outros sistemas políticos possíveis além deste, onde as pessoas são forçadas a viver na pobreza e na penumbra, entre guerras e ódio.
A Máquina Capitalista e Estatal tenta intensificar a desigualdade, a repressão e a exploração, criando guerras na periferia e estabelecendo o contexto sombrio do totalitarismo moderno. O Estado de emergência se expande, e ao estabelecer o estado de exceção como uma norma essencial para a organização da sociedade, cria uma espécie de “Sociedade baseada em Campos de Refugiados”.
Esse ataque generalizado das classes dominantes almeja impor controle total nas sociedades humanas e ter poder absoluto sobre elas, almeja também saquear e destruir a natureza. Da Síria aos EUA, de Istambul ao Leste Europeu e à América do Sul, os chefes políticos e econômicos têm como alvo os já explorados e oprimidos, impondo ainda mais repressão, destruição e morte.
Em paralelo, as infinitas lutas de libertação, que despertam por todo o globo, emergem contra essa aliança de elites globais e seus projetos de sociedades em guerra. De Rojava a Chiapas, das favelas no Brasil aos blocos antifascistas no Leste Europeu e nos Bálcãs, a causa da Revolução Social está viva, colocando barricadas para atacar o patronato e o Estado, formando as condições para a revolução.
A revolta popular aterroriza as classes dominantes de tal maneira que os faz recorrer às forças mais obscuras da história humana. Por causa da crise generalizada do capitalismo, a habilidade das classes dominantes de garantir legitimidade social para seus planos está chegando aos seus limites. É por isso que forças fascistas de extrema direita começam a agir, para garantir os interesses das classes dominantes via força. Bolsonaro no Brasil, Visegrád’s na Europa, Viradas à extrema direita na Itália e na França, Erdogan na Turquia, fascismo é a resposta do sistema a sua própria crise e suas próprias contradições. Contradições que são causadas pelo conflito incurável de seu princípio básico, a exploração e repressão de um contra o outro. Esses elementos, juntos da ameaça de guerra generalizada, formam o muro de ferro da autoridade, que vai se espalhando globalmente.
Na Grécia, as desilusões que a versão Social Democrata do totalitarismo moderno plantou nos anos passados são colhidas atualmente. O ataque do Estado e do capital continua, impondo a regra de exploração e opressão, tentando, ao mesmo tempo, estender a vida de um sistema já falido, por meio da decomposição dos órgãos de resistência de classe e uma falsa conciliação nacional. Em paralelo, por meio de uma retórica renovada sobre “sair do Memorando”, mais uma vez se tenta garantir legitimidade social do Estado, cultivando novamente desilusões em embelezar o sistema.
No mesmo contexto, forças reacionárias já se preparam para cumprir seu papel. No cenário do auto proclamado “Macedonian issue (Disputa pelo nome Macedônia)”, o nacionalismo vai se reestruturando para mais uma vez, pisar nos oprimidos e explorados. Grupos fascistas estão alinhados com a parcela mais conservadora do núcleo nacionalista, afim de construir um grupo contrarrevolucionário em defesa da classe dominante, ao mesmo tempo que enganam os oprimidos, fazendo-os enxergar problemas que não os reais problemas sociais, espalhando intolerância e ódio, trazendo o fascismo pro âmbito social.
Nessa realidade de decadência, a conquista de apoio social é algo muito almejado pela classe dominante. Entretanto, nenhuma solução eleitoral tem algo a oferecer para as classes exploradas, o caminho eleitoral só levará a intensificação das condições existentes de escravidão e a relegitimação da repressão política da democracia burguesa.
Por um lado, a continuação da administração politica atual vai levar a uma alienação ainda maior das resistências, desmantelando o movimento e cedendo cada vez mais sob o pretexto de barrar o avanço fascista sob o aparato estatal. Por outro lado, a reestruturação do Estado sob as bandeiras do neoliberalismo iniciarão uma nova guerra aos trabalhadores. A ideia é garantir autoridade e ordem para implementar os planos da elite econômica internacional, que pretende criar condições de trabalho similares aos campos de trabalho forçado.
Independente do resultado da eleição, é certo que os próximos dias marcarão o início de uma nova rodada de repressão social, especialmente contra os anarquistas, a fim de exterminá-los. A presença política desses anarquistas em todos esses anos, suas propostas de organização social dos de baixo, a visão de Revolução Social como a única saída realista para a sociedade estatal capitalista. A sombra do fascismo e as ruas sem saídas para as quais o reformismo nos levou faz dos anarquistas um perigo real para os dominantes, e é por isso que eles são o alvo principal da repressão.
Contra a perspectiva sombria do Totalitarismo Moderno, as resistências classistas e sociais, as lutas do povo no mundo todo para derrubar o capitalismo e o Estado, emergem como a única esperança. Nessas lutas, nós, anarquistas, vivemos e respiramos. Nós aspiramos, por meio da presença de nossa organização politica nas frentes existentes e na criação de novas frentes, conectar as reais necessidades dos oprimidos com a prática anarquista e seus horizontes, afim de transformar essas resistências em combustível para a emancipação dos oprimidos e oprimidas. Essas são as lutas que nos inspiram e nos dão força para continuar:
As lutas contra a guerra, bases militares e militarismo em geral, especialmente num tempo em que as nuvens de uma guerra maior estão se formando sobre a humanidade.
As mobilizações em solidariedade com imigrantes e refugiados, contra o Estado de exceção e campos de concentração. Pela liberdade de movimentação e solidariedade entre os povos.
As barricadas internacionalistas antifascistas. De Kamara a Propylaea e a frente Balcânica internacionalista que demonstraram solidariedade com a ocupação Libertatia em Tessalônica.
As lutas contra as forças paraestatais e grupos fascistas nas ruas, nos bairros e nas escolas.
As lutas em defesa de ocupações e espaços organizados de vida e resistência, como pontos de referência da Revolução Social. A reconstrução da ocupação Libertatia pelo movimento mostra que a solidariedade vencerá!
As lutas por direitos trabalhistas. Desde a defesa do Domingo como dia de folga, à preservação do direito a greve, construindo um sindicalismo combativo na base, como foi mostrado na greve de primeiro de novembro, que foi multi-setorial e organizada de baixo.
As lutas em defesa de direitos sociais básicos, e seu acesso gratuito pela população. Desde alimentação, moradia, eletricidade, água e transporte público.
As lutas das mulheres – do México a Turquia – contra o Estado, o capitalismo e o patriarcado, por emancipação e liberdade.
As lutas em defesa da natureza e das comunidades locais contra o saque de recursos naturais. De Acheloos e Skouries, a Lefkimi e Agrafa.
As mobilizações dinâmicas contra máfias e carteis, opressão estatal e canibalismo social em Exarchia.
As lutas por coletividade e solidariedade, contra o individualismo.
As demonstrações por preservação da memória social e pela construção de memória e história a cerca das revoltas atuais. Desde Primeiro de Maio até a revolta de 8 de Dezembro. Seja no Chile, no México, nos EUA, na França ou na Turquia, ou em qualquer outro lugar onde há resistência.
Contra a brutalidade da guerra e do totalitarismo, que vem se desdobrando mundialmente, nós devemos unir as armas da solidariedade social, internacional e de classe, entendendo que atualmente a conexão de todos os que lutam por liberdade ao redor do mundo é crucial. Em cada frente de atuação, onde quer que seja que a agressão capitalista e estatal esteja acontecendo, devemos buscar radicalizar as lutas por meio da conexão universal dos oprimidos de todo o mundo, rumo à Revolução Social.
Contra a distopia do totalitarismo moderno, onde a maioria é empobrecida e subjugada. Nós propomos uma sociedade libertária, organizada por meio de uma federação de conselhos sociais. “Pela liberdade de cada um e Igualdade de todos.”
PELO FIM DA DITADURA GLOBAL DO ESTADO E DO CAPITAL!
LUTEMOS PELA REVOLUÇÃO SOCIAL UNIVERSAL, ANARQUISMO E COMUNISMO LIBERTÁRIO VENCERÃO!
Janeiro de 2019
A.P.O.
Tradução > JP
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!