por Yannis Youlountas | 15/06/2019
Obrigado às numerosas mensagens de apoio e solidariedade após a emboscada neonazista que sofri na quinta-feira (13/06) pela noite, próximo do Centro Social Livre Favela, no Pireu. Me recupero pouco a pouco dos golpes, dolorido mas determinado. Longe de estar abatido, estou orgulhoso de anunciar uma grande notícia para o Rouvikonas.
NÃO CEDER AO MEDO
Só há uma coisa a qual devemos temer: é o medo mesmo. Esta é a armadilha comum dos que se pretendem superiores: autoritários ou fascistas, legais ou facciosos, com seu grupo de policiais ou milícias. A criação do consentimento não só passa através de uma construção imaginária, uma representação simbólica, um alcance ilusório ao qual submeter-se que se apresenta como evidência, regra, dever. Esta servidão é, ademais, o produto do sentimento de impotência e insegurança que desperta o medo. Não importa se a ameaça é direta ou indireta: olhar para baixo quando ocorre é resignar-se; olhar ao outro lado quando outros estão sendo oprimidos é estar preparado para sofrer o mesmo destino. Por outro lado, não ceder ao medo é permanecer resolutamente fora deste círculo vicioso, este ciclo infernal, este acúmulo de coisas por dizer. Está gritando não, alto e forte, quando o silêncio é igual ao consentimento. Surpreende aos que pensaram fazer-nos obedecer, correr ou pedir compaixão. Não ceder ao medo é negar-se a olhar para baixo, olhar aos olhos de quem quer dominar-nos, explorar-nos, incomodar-nos e demostrar que não nos renderemos, que nos manteremos ao dia. Ontem à noite, os quatro neonazis que me prepararam uma emboscada pensaram que estava impressionado. Mas logo se deram conta de que o sangue frio e a determinação são mais que palavras. Certamente, ainda estou dolorido, mas provavelmente escapei de algo pior. Devo igualmente o final da emboscada à chegada de um bonde à estação próxima pouco depois do início do ataque. Esta multidão inesperada pode ter salvado minha vida. Uma vida que às vezes tem um fio: o do vínculo social, da presença, da solidariedade.
Não ceder ao medo é não retroceder ante as tentativas de intimidação. Os neonazis do Pireu estão furiosos estes dias ao ver que o CSL Favela celebra seu segundo aniversário e consegue o que parecia impossível: manter-se em um bairro difícil onde os fascistas e outros nacionalistas se estabeleceram. Com uma coragem exemplar e muitas ideias geniais, meus companheiros de Favela demostraram, uma vez mais, que as únicas lutas perdidas de antemão são aquelas a que não nos atrevemos a levar. Por isso chamo a todos os que estão na região Ática esta noite para participar do aniversário de Favela e mostrar sua solidariedade com sua presença numerosa nesta reunião, no coração do Pireu.
Não ceder ao medo é também não permitir que outros sofram injustiça e repressão. Esta solidariedade, no entanto, deve estar à altura da força esmagadora que as vezes cai sobre as vítimas. Ante as recentes represálias por parte do Estado grego, com uma severidade sem precedentes por meio de uma artimanha legal, o grupo Rouvikonas pareceu condenado a detenção e encarceramento de dois de seus membros. A soma a conseguir como depósito (custos futuros de reparação e multas diárias) parecia impossível de cumprir: 30.000 € para Nikos e outro tanto para Giorgos, o cofundador do grupo. 60.000€ no total, quer dizer de dez a vinte vezes mais que o habitual. Pois não! Ontem conseguimos trazer Nikos de volta a campo! Se bem que os meios de comunicação do poder já anunciaram o iminente encarceramento de nossos compas, conseguimos coletar e depositar a primeira grande soma de 30.000 euros, com o apoio de todo o mundo, jovens e velhos, inclusive migrantes com poucos recursos insistiram em participar modestamente: “Nos defenderam tantas vezes! É nossa vez de defendê-los!”.
Esta noite, não poderei participar na festa de meus companheiros na Favela, não só por minha convalescênça, mas também porque planejei estar, pela noite, com meus companheiros do Rouvikonas, antes de voltar a descansar.
Então, onde estamos exatamente? É muito simples. No momento de redigir este escrito, a quantia comum registra 26.700 euros, quer dizer, na realidade 22.400, já que 4.300 já se haviam retirado por dois julgamentos anteriores. Se contamos todos de cada vez (caixa de resistência + paypal + transferências + pagamentos em efetivo no K*vox ou na gira de Spiros), temos mais do dobro: 47 850 euros no total! Em outras palavras, já excedemos a metade da quantidade necessária para evitar que o Estado grego encarcere a Giorgos. Ficam 6 dias para encontrar 12. 150€ . 2.000 por dia até a sexta-feira 21 de junho, quando se deve depositar a soma para permitir que o cofundador do Rouvikonas saia de novo livre. 12.150 equivale a um quarto da quantidade arrecadada em três semanas. Isto parece quase impossível, dado o pouco tempo, mas ainda é possível, sempre que não nos rendamos tão próximo da meta. Com 47.850 de 60.000, fizemos 80% do caminho. Seria uma vergonha falhar estando a um tiro de pedra de uma demostração formidável dirigida ao poder; este poder que reina em dividir-nos, isolar-nos, fazer-nos indiferentes e, inclusive, enciumados uns dos outros.
Não ceder ao medo é recordar nossa capacidade para mudar o curso das coisas, por fim a ações, ideias, meios. O fato de que o apoio as vezes chega do outro lado do mundo simboliza perfeitamente a horizontalidade desta luta global contra os gigantes dos periódicos que ainda dizem que nos governam, nos julgam e nos prendem. Por isso as lutas contra o capitalismo e contra o fascismo são inseparáveis. De fato, são os dois lados da mesma luta: a luta pela emancipação individual e social, pela liberdade e a igualdade, pelo amor e a revolução, pela alegria de participar em um impulso que derrocará um dia o velho mundo autoritário.
Os tempos são difíceis. Sim, sempre foram. Os nazis rodeiam, atacam pela noite e, as vezes, inclusive à luz do dia. Meu corpo o atesta. O capitalismo se endurece, destroçando as conquistas sociais conseguidas primeiro e aprofundando as desigualdades depois. É um fato inegável que só os nazis se atrevem a contradizer. O poder está endurecendo, com novas armas, novas ferramentas para monitorar e novas leis para castigar. Certamente, tendo em conta o número de vítimas. O panorama é duro, mas não debe levar a render-se. Porque é precisamente porque os tempos são difíceis que estão abertos, que nada se acaba e que temos o impulso vital, cerebral e visceral para sair de tudo isso.
Devido a que esta sociedade é profundamente mortífera, não temos mais remédio que abandonar a pré-história política da humanidade para salvar vidas e compartilhá-las de maneira diferente. Devido a que me ameaçam, me pegam e querem roubar-me a vida, estou mais decidido a acabar com os que me atacam e com a sociedade que querem me impor. Onde nossos inimigos tentam despertar o medo, só aumenta a revolta: cada ameaça me inunda de adrenalina, cada golpe me agita o sangue, cada nova prova me faz agitar o punho cada vez mais. Não nos terão assim. Ainda estamos em pé. E, para manter o rumo e a força para continuar, o único que devemos temer é ao medo mesmo.
Tradução > Sol de Abril
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