Mal posso acreditar que outro ano já se passou e é J11 novamente. Sou muito grato por este ponto de contato anual como uma oportunidade para alcançar minha comunidade do lado de fora e fazer um balanço do ano. É difícil entender que estou trancado há mais de uma década, e ainda mais decepcionante ao perceber quantos camaradas têm sido encarcerados por MÚLTIPLAS décadas. Eles têm minha infinita admiração por manter sua integridade e por manter sua visão viva por tantos anos.
Eu sempre quero agradecer a todas as boas pessoas que fazem eventos de solidariedade para marcar este dia. Tenho certeza de que, assim como eu, todos os prisioneiros anarquistas atraem muita força e coragem ao saber que todos vocês estão nos apoiando e que trabalharam arduamente para enviar esse imenso amor através das fronteiras e através das grades. Tem havido muito ódio e “alteridade” ao redor das fronteiras nos dias de hoje. É uma mensagem poderosa enviar amor em vez disso e questionar a legitimidade de quaisquer fronteiras que nos separam ou desvalorizam como seres vivos, todos igualmente compartilhando este planeta.
As coisas estão bem comigo. Eu continuo defendendo minha transição médica e trabalhando em nosso comitê de diversidade aqui para educar sobre questões trans. Minha transferência para a Instituição Correcional Federal de Danbury, em uma instalação de baixa segurança, revelou ainda outro tipo de espaço criado para o encarceramento. É bem espaçoso, escala menor (cerca de 150 presos) e ao mesmo tempo mais e menos restritivo. Estou começando a saber quais são as regras básicas, conhecendo meus companheiros de prisão aqui. Não tenho tido muitos lugares no mundo livre, mas eu sinto como se agora tivesse visto uma série de lados para o B.O.P. (Bureau of Prisons, Agência de Prisões). Pretendo escrever mais sobre este lugar em breve.
Recebo muitas das minhas informações sobre o mundo livre de livros e gostaria de compartilhar um pouco sobre dois deles. Taking the Rap: Women Doing Time for Society’s Crimes (Tomando a culpa: Mulheres cumprindo pena para os crimes da sociedade, em tradução livre) de Ann Hansen realmente ressoou comigo ao descrever os efeitos dos diferentes níveis de autonomia pessoal em diferentes tipos de prisões nas quais ela vivia (de uma segurança máxima a um condomínio sem cercas/casa de grupo) – mas também em quão difícil poderia ser navegar como um prisioneiro político poderia oferecer apoio aos seus companheiros de prisão respeitosamente. O conceito de acompanhamento, que eu ouvi pela primeira vez de Alice e Staughton Lynd fazendo trabalho de organização em lugares pobres, parece realmente aplicável a muitas das observações de Hansen. Eu senti muitas vezes este ano que a melhor ajuda que eu poderia oferecer aos outros prisioneiros era caminhar com eles para confortar e ouvir, para ser um mentor no programa RDAP (reabilitação de drogas) em Carswell e para participar do programa FIT aqui em Danbury – para cantar com eles, para envolver-se em discussões dinâmicas de valores e história e para incentivar a ajuda mútua e o respeito. É importante manter aqueles que estão doentes ou debilitados, especialmente, pois isso gera força para todos nós.
Isso significa uma mudança significativa na perspectiva da mudança social para mim. Muito do meu trabalho político tem sido reativo, assunto único e conflituoso. Sempre acreditei firmemente na interseccionalidade, movendo-me entre questões, movimentos e identidades – mas não fui muito eficaz em construir ou mesmo articular uma visão clara do mundo que eu esperava ajudar a criar. Isso me leva ao segundo livro que achei tão inspirador,Emergent Strategies: Shaping Change, Changing Worlds (Estratégias emergentes: Moldando a mudança, mudando mundos, em tradução livre) de Adrienne Maree Brown. O livro reúne muitas vozes que pedem e desenvolvem colaborações para criar soluções viáveis para problemas compartilhados de forma a incorporar a sociedade igualitária que desejamos. O que eu amei tanto sobre o livro foi a adoção do processor, em vez de focar no resultado final… e ver esse processo de mudança como uma vitória em si mesmo.
O que é verdade é que troquei minha liberdade e tudo que eu amava no mundo livre por uma chance de construir um novo mundo resistindo ao velho. Eu cometi muitos, muitos erros e algumas decisões terríveis nessa busca apaixonada. Sou humilde por isso, mas não amargurado. Porque, se houver diálogo, reflexão e análise – então talvez possa haver alguma lição valiosa encontrada em minha experiência que poderia beneficiar qualquer movimento de resistência em seu crescimento. E é esse estudo da nossa história coletiva e legado de luta que me ajuda a ver meus esforços como um pequeno fluxo que se une a esse grande rio de mudanças. Brown fala disso em seu livro; que podemos aprender a ser como a água, sempre nos adaptando às condições e nos tornando o que precisamos ser para nos empurrar para a liberdade.
Marius Mason
supportmariusmason.org
Tradução > sapat@
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!