I – Porque.
Este projeto nasceu da urgência de reagir face ao desencadeamento fascista das sociedades, quer ela seja brasileira (ler Eduardo Rébua, Le Monde Diplomatique Brasil n°138), ou dos países ditos desenvolvidos ou sub-desenvolvidos, países regidos pelo capitalismo-neo-liberalismo mundial. O capitalismo, atingindo níveis insuportáveis de controle do imaginário coletivo a um tal ponto que “Hoje é mais fácil de imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo” (Jean-Claude Michéa), ele ameaça assim não somente o ser humano, mas também o eco-sistema planetário na sua integralidade.
Se torna então necessário, vital, organizar as relações sociais através de um outro paradigma.
A proposta que segue, não corresponde a uma melhora, um curativo ou a um paliativo do sistema, nem a uma experiência visando a diversão (ler Guy Debord, A sociedade do espetáculo) ou qualquer estágio de iniciação a ecologia.
Ela se propõe a estabelecer relações de Vida, Políticas e Militantes no espírito antiautoritário, libertário, anarquista.
II – Como.
Para dar vida ao projeto, gostaríamos de encontrar pessoas que tenham o senso da responsabilidade, da ética, da honestidade, da decência, da honra e uma visão da vida alinhada com os princípios de orientação do projeto. Elas precisam estar disponíveis, ter um pouco de experiência prática do trabalho, de resistência e resiliência física, de competências intelectuais gerais e específicas, de ser capazes de investir-se humanamente e de ter condições econômicas básicas para que se alcance a auto-suficiência coletiva; pois os primeiros passos já foram dados, mas ainda há muito a realizar.
Se você deseja iniciar conosco este projeto apresente-se, formule sua participação ao nível político, humano, material e econômico e entre em contato conosco.
III – Orientação do projeto.
1) Viver e trabalhar juntos:
– Igualdade total entre as pessoas.
– Moradia comunitária, vida cotidiana, coletiva e laica.
– Organização autogestionária e antiautoritária: as propostas são discutidas coletivamente e as decisões, sejam elas de ordem econômica, social ou política, são tomadas por todos em unanimidade. Isto significa que cada um seja responsável, capaz de se auto-gerir individualmente em função das decisões coletivas, o que torna obsoletas as noções de responsabilizado e de responsabilizador e também a hierarquia, o chefe e o submisso. Assim, a organização aliada a espontaneidade pode enriquecer cada um e a comunidade.
– As assembleias deverão ocorrer de forma periódica. Toda decisão pode ser discutida novamente.
– No caso de delegação de poder, esta só pode ser pontual e por um mandato preciso. Os mandatários tem que seguir a orientação dada pela comunidade e prestam contas da missão.
– A educação, o bem-estar e o ensino das crianças são uma prioridade e estão sobre a responsabilidade da comunidade inteira.
– Todo mundo trabalha e se completa em companheirismo, respeitando à rotação das tarefas especialmente nas mais ingratas.
– Cada pessoa é responsável por suas palavras e pelos seus atos e capaz de segurar as rédeas do seu destino sem “Senhor”, seja ele terrestre ou divino.
– Nenhuma questão ou problema interno deve ser resolvido através da justiça do Estado.
– A comunidade deve fazer tudo que for necessário para defender e proteger contra todos os desvios e ameaças internas como externas, os princípios anticapitalistas, antiautoritários, anarquistas estabelecidos na orientação do projeto.
2) Atividades em agricultura e pecuária:
– Procura de um equilíbrio entre o trabalho humano e a natureza de maneira a preservar, enriquecer e embelezar o meio-ambiente (ler Murray Bookchin).
– Agricultura e criação animal orgânica, ecologista, procurando a auto-suficiência e uma produção excedente (ler Ana Primavesi).
3) Desenvolvimento da autonomia para lutar contra o capitalismo e abrir assim uma fenda na sua carapaça ideológica:
– Produção alimentícia abundante e variada.
– Energia renovável (solar, hidroelétrica, lenha, produção de metano).
– Conservação das nascentes.
– Produção agrícola e pecuária independente do agro-negócio, tanto para a produção (agro-tóxicos, fertilizantes químicos, rações…) como para a comercialização (multinacionais, grandes grupos…).
– Desenvolver a comercialização direta da produção sem intermediários.
– Para sair do comércio do dinheiro promover outras maneiras de circular a produção como a troca, a dádiva e a contra dádiva.
– Saber dar, receber e retribuir (ler Marcel Mauss)…
– Cooperação social, cultural e econômica com estruturas locais: cooperativas, sindicatos, associações…
4) Atividades militantes e de enriquecimento humano:
– Abertura de contatos com outras iniciativas libertárias no Brasil e em outros países.
– Participar dos movimentos sociais que combatem as injustiças e desigualdades (ex: MST, MPA, MOB, etc.).
– Organização de festas e encontros culturais com uma gestão coletiva.
– Estabelecer contato com a população local (ex: feiras, mutirões…)…
Viver sem Estado não é uma utopia!
IV – Apresentação dos iniciadores.
Nós, ateus e libertários, somos: Olívia, 54 anos, brasileira e Didier 63 anos, cidadão do mundo de origem francesa; morávamos na França e éramos respectivamente produtora de plantas medicinais em agricultura orgânica e professor de eletrônica. Temos várias competências e conhecimentos em agricultura, criação de animais, construção, eletricidade, marcenaria, artesanato etc…
Somos caprichosos, gostamos do que é bonito e temos vontade de aprender cada vez mais.
V – Descrição do lugar.
A área que chamamos La Cecília em homenagem a colônia anarquista instalada em Palmeiras no Paraná de 1890 a 1894, tem uma superfície de 116 hectares (menos de 4 módulos rurais) de natureza preservada.
Situada no sul de Minas Gerais (longitude -45,203903 e latitude -22,112426), esta área em forma de bacia (entre 900m e 1200m de altitude) se divide a 50% entre florestas e prados, ela tem 3 antigas represas, 2 nascentes, 3 riachos e uma cachoeira. Uma estrada de terra de 7 kms leva da BR460 até La Cecília.
VI – Proudon vive sempre: a propriedade é o roubo.
Nós somos proprietários da fazenda La Cecília: como nosso projeto é anarquista, ou seja comunista antiautoritário, não é questão para nós de propriedade. Então nossa ideia é de achar uma solução jurídica que proteja a comunidade anarquista. Será necessário estabelecer um contrato de locação com um valor simbólico de 1R$ anual, estipulando que o proprietário assim como os herdeiros são obrigados a renovar automaticamente o contrato de locação todos os séculos a condição que os membros da comunidade respeitem os princípios antiautoritários e anticapitalistas estabelecidos pelos fundadores da comunidade no projeto inicial. A todo momento no caso contrário, ou seja não respeito dos princípios pré-citados, a comunidade perde seus direitos, o contrato fica inválido e as terras voltam para os proprietários ou seus herdeiros.
VII – O que já foi realizado em 2 anos por nós dois sozinhos.
– Renovação de uma casinha (80m²) com fogão de lenha e energia elétrica solar.
– Construção de um galpão (84m²) para o trator, os implementos e as ferramentas de trabalho.
– Construção de um canil (15m²).
– Construção de um aprisco (240m²) que pode receber até 200 ovelhas.
– Instalação de uma central elétrica solar (3KW).
– Terraplanagem para a construção de uma outra casa (1000m²).
– Terraplanagem para a construção de uma estufa.
– Construção de uma ponte de pedras e renovação das antigas pontes existentes.
– Canalização das águas de duas nascentes.
– Abertura e limpeza das estradas.
– Limpeza e renovação dos prados (5 ha).
– Jardim de plantas medicinais.
– Horta de plantas alimentícias.
– Pomar.
– Plantação de Moringa stenopetala, Cajanus cajan, Cratylia argentea, Gliricidia sepium, Leucaena leucocephala para a alimentação animal.
– Instalação de várias colmeias de captura de enxames selvagens.
– Criação de um rebanho de ovelhas (73 Dorpers e Lacones).
– Adestramento de dois cachorros de pastoreio.
– Uma galinha!
Saudações libertárias.
Olivia e Didier
Contato: E-mail: stelacaldeira@msn.com
Telefone – WhatsApp: +55 35 9 8414 0735
Endereço postal: Olivia e Didier Laffon Caldeira
Fazenda La Cecília
Zona Rural
Caixa Postal 18
CEP 37472-000 Carmo de Minas
Minas Gerais, Brasil
agência de notícias anarquistas-ana
sol em plenitude
uma rã pula — em versos
barulho de Vida
Roséli
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!