Porto Alegre, uma ameaça de bomba paralisou a Rua Alberto Bins no dia 13 de maio. Rua fechada, policiais com cara de posso morrer hoje, pessoas filmando com o celular, e um cordão de segurança ao redor de uma sacola plástica que continha “a bomba”!
Algum policial explicava que não sabia para quem estava dirigida, mas por segurança chamaram, para a desativação do “explosivo”, bombeiros, brigada militar, batalhão da bope, a EPTC e até um robô.
Todos ficaram desiludidos ao ver que dentro da sacola, estava um artesanato construído com um botijão de gás, cabos e um relógio.
Mas, porque deixar uma sacola com essa oferenda precisamente ali, e nesse dia? Na Internet, onde tudo é possível, os repórteres da extrema direita e do totalitarismo, postaram a noticia: Nesse dia, no salão nobre do Hotel Plaza São Rafael, celebravam a chegada de Bertrand de Orleans e Bragança, para a comemoração da abolição da escravidão. Esse personagem, para aqueles com espírito de súditos, é o príncipe do Império Brasileiro e estava, naquele dia, disposto a falar da sua antepassada Isabel, como se fosse a bem feitora dos escravos e um exemplo de “mulher brasileira”. Mas ele não é apenas isso, ele também é militante defensor da reposição da monarquia e parte ativa da TFP (Tradição, Família e Propriedade), altamente conservadora, hierárquica, racista, patriarcal, classista e católica.
O monarca foi deposto, o império caiu, até teve rei e príncipe assassinados, mas você sabe como é que é, tirano é tirano e sempre quer mandar. A monarquia quis lavar seus crimes outorgando o que ninguém pode outorgar, e fizeram da abolição da escravidão, seu gesto de bondade, e você sabe, tirano é tirano, e ainda que sem trono, ele se sente o superior. Assim, Dom Bertrand pretendia festejar o gesto magnânimo do seus ancestrais, num evento organizado pelo Circulo Monárquico do Rio Grande do Sul, ignorando que todos nós sabemos que qualquer membro da família de Orleans e Bragança que delire com a permanência da monarquia, é a continuidade dos colonizadores destas terras, é representante da escravidão, do genocídio dos povos livres que habitavam estas terras antes da sua invasão, e é a atualização dos tiranos que tentaram dominar tudo e ainda persistem nas suas tentativas.
Estamos em tempos de delírio totalitário, em que até se tira a poeira da monarquia. O presidente cogitou, antes das eleições, que um deles fosse seu vice-presidente, Luis Phillipe de Orleans e Bragança. Em Brasília, um dos seus cachorros, Eduardo, quis realizar uma sessão solene com Luis Phillipe, em homenagem à Princesa Isabel pelos 131 anos da abolição da escravatura, evento interrompido quando Integrantes do Movimento Negro ocuparam o plenário da Câmara Federal com uma faixa com o rosto de Marielle e gritando repetidamente: Parem de nos matar!
E você sabe como é que é, quem lembra sabe e quem sabe se revolta, e rebelde é rebelde, e não tem jeito não. Em Brasília interromperam a sessão solene e em Porto Alegre, alguém, um bobo da corte, ou um inimigo do rei, deixou uma simples sacola, um artesanato, e estragou a festa real.
Que os tiranicidas nunca se acabem
Da Crônica Subversiva N° 4. | Porto Alegre, Inverno 2019
>> Da mídia corporativa:
https://rdctv.com.br/noticias/ameaca-de-bomba-no-plaza-sao-raphael-mobiliza-a-policia/
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Seu olhar segue
o voo do pássaro –
será que desce?
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!