A Ocupação de Habitação para Refugiados e Imigrantes Notara 26 abriu suas portas pela primeira vez em 26 de setembro de 2015.
Num período onde o fluxo de refugiados atingiu o seu maior nível, numa época que será lembrada na memoria coletiva como um período de dor e angústia.
Durante esse período, nós presenciamos naufrágios que resultaram em números sem precedentes de mortes por afogamentos, reassentamentos, tanto como ataques fascistas contra refugiados e imigrantes.
Nós vimos pessoas tendo a sorte de ter escapado da guerra, de conflitos e naufrágios, mas que mesmo assim foram levadas a um aprisionamento. Pessoas que mesmo escapando de mortes certas no Mar Mediterrâneo ou em Evros, acabaram sendo presas em campos de concentração como o de Moria, ou virando sem-teto.
As ocupações de habitação foram criadas visando oferecer a essas pessoas, e a todos que precisam, um lugar seguro e decente para viver a vida.
As ocupações foram criadas para ser um lugar onde as pessoas possam viver e, de fato, serem seres humanos, e não apenas números em alguma estatística.
Em nossa visão de valores, é mais do que evidente que propriedades degradadas e blocos vazios de apartamentos devem ser ocupados por pessoas necessitadas. A ocupação Notara 26 operou e ainda opera sem qualquer colaboração com ONGs, sem qualquer financiamento, sem qualquer apoio institucional.
A ocupação hospedou até hoje mais de 9.000 pessoas, sendo de curtos ou longos períodos, pelo tempo que elas precisassem, e continuaremos fazendo isso pelo tempo que for necessário. Neste lugar, refugiados, comunidade LGBTQI +, crianças, pessoas com deficiência, pessoas de todas as idades tentaram, e poucas delas conseguiram superar um passado traumático e encontrar uma perspectiva futura melhor.
Auto-organização, solidariedade, processos horizontais e os cuidados criaram um ponto no mapa, mais um pequeno lugar de liberdade, que muitas pessoas chamam e ainda consideram como “lar”. Foi principalmente isso: um lar. Um lugar de luta diária, antifascista, de resistência e emancipação, longe de cercas, “guardas humanos”, torturadores, cassetetes, comida mofada e desespero. Um lugar onde as pessoas eram e ainda são capazes de manter sua essência humana e dignidade.
Na manhã do dia 12 de julho, a primeira ação de opressão indireta ocorreu quando funcionários da Companhia Pública Energética cortaram a eletricidade no prédio da Ocupação de Habitação. Segundo os funcionários, eles estavam agindo sob ordens policiais. A mesma ação foi tentada no Hotel “Oneiro”, mas sem sucesso, dada a intervenção dos camaradas.
Sabemos muito bem que os despejos das ocupações estão na agenda do novo ministro da Proteção dos Cidadãos Michalis Chrysochoidis, seguindo a mesma agenda política do Syriza.
Além disso, a doutrina da “Lei e Ordem” que eles já estão tentando impor requer ações simbólicas, que praticamente destroem vidas humanas como as dos refugiados e outros grupos vulneráveis. A fim de cumprir sua micropolítica, é mais do que certo que eles tentarão privar as pessoas de um lugar justo em suas vidas. Todos nós sabemos que a criminalização da solidariedade sempre foi presente em sua agenda. Nós também sabemos muito bem, sem entrar em pânico ou operando com pensamentos ou movimentações descontroladas, que haverá uma ação repressiva multi-facetada, opressão maciça e desumana como os que apenas Michalis Chrysochoidis e a polícia grega sabem como orquestrar. Não será a primeira vez e nesta batalha nunca houve a “última vez”.
A única resposta e única solução para qualquer tipo de opressão, direta ou indireta, é novamente a luta. Contra a intimidação, os misantropos e o canibalismo empregado pelo Estado para “limpar Exarchia”, nosso dever é proteger esses pequenos pontos de liberdade que desenvolvemos e criar muito mais. Acreditamos que esta batalha deve ser dada pela formação de uma frente comum, que foi, ainda é e sempre será imperativo porque tudo o que ganhamos até agora foi ganho quando nos encontrávamos lado a lado. Sem medo, com excesso de esperança e realismo, nós nunca deixaremos ninguém nos privar dos lugares onde os seres humanos possam permanecer seres humanos.
Convidamos todos para a criação de uma assembléia comum conjunta contra a repressão do Estado.
Quinta-feira, 18 de julho, às 19h00, no Gkini, Escola Politécnica de Atenas
Tradução > Ludolf L.
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