No próximo sábado (31/agosto) a partir das 15h na sede da APEOESP em Santo André-SP, os pesquisadores Jairo Costa, editor da Revista MORTAL e idealizador do “Ano Castellani”, Kauan Willian, doutorando em História Social (USP) e Marcio Hasegawa , metroviário, debaterão as origens do movimento sindical no ABC Paulista através da trajetória de Constantino Castellani.
O debate na APEOESP é mais uma atividade desenvolvida pela Editora Estranhos Atratores e Revista Mortal para marcar o centenário de morte do anarquista.
Constante Castellani, chamado de Constantino pelos seus colegas, tinha 18 anos quando, com outros companheiros, fundou a Liga Operária e rebelou-se contra a exploração dos patrões, liderando uma manifestação de trabalhadores da tecelagem Ypiranguinha, exigindo redução da jornada, melhores salários e condições de trabalho. O episódio culminou com sua morte.
O pesquisador Jairo Costa conta que descobriu a história de Constantino enquanto realizava investigação sobre movimentos políticos no ABC no início do século XX.
Costa relata que na fábrica Ypiranguinha os operários, em alguns casos, eram obrigados a cumprir até 16 horas de trabalho, submetidos a constantes espancamentos e impedidos até de utilizar os banheiros da fábrica. Outra situação clássica de exploração era a das famosas dívidas contraídas nos armazéns e quitandas da fábrica. Os trabalhadores consumiam nestes estabelecimentos, suas dívidas ficavam enormes e o patrão transformava aquilo numa forma de segurar, sequestrar, escravizar o operário, exigindo que trabalhasse mais e não permitindo desligamento da fábrica até que a dívida estratosférica fosse quitada.
Contra todas essas injustiças, Constantino Castellani e seus companheiros da Liga Operária organizaram ato para o dia 5 de maios de 1919, que começou às 5 da manhã, e aglutinou mais de 500 operários entre mulheres, crianças e idosos, saindo em passeata pelas ruas de Santo André até chegar ao centro da cidade, na rua Oliveira Lima. Lá, em frente à fábrica de cadeiras Streiff, enquanto Castellani discursava pedindo a adesão de mais trabalhadores à manifestação, um tiro de fuzil disparado por membro da força pública cruzou a multidão, atingindo em cheio o coração do anarquista, que morreu instantaneamente.
A morte de Constantino Castellani causou comoção geral e a região viveu três dias de caos. Os operários tiraram o corpo de Constante das mãos da polícia e o levaram para o barracão da Liga Operária, atraindo milhares de pessoas para seu velório e sepultamento, sendo o maior séquito daquela época. O delegado Henrique Villaboim, que mandou prender o atirador logo após o incidente, foi misteriosamente demitido do cargo. O prefeito da cidade na época, Sr. Saladino Cardoso Franco, desapareceu dos eventos públicos com medo da população. Após o enterro do anarquista, dezenas de prisões foram realizadas por todo o ABC, o barracão da Liga foi novamente destruído e aquela organização foi proibida de atuar por cerca de dez anos.
Legítima defesa: o julgamento do soldado José Bernardino de Araújo, assassino de Constantino, ocorreu tempos depois e o militar acabou sendo absolvido por unanimidade. Em sua defesa surgiu uma versão dos fatos sucedidos na passeata do dia 5 de maio de 1919 em que Castellani é acusados de supostamente arremessar um tijolo contra a força pública, motivando assim a reação (desproporcional) de Araújo. No entanto, o tesoureiro da Liga Operária, Natalino Vertematti, que estava ao lado de Castellani na hora do tiro, negou qualquer ação agressiva do líder da Liga contra a força pública. A maioria dos “cabeças” da organização anarquista foi presa e torturada após o assassinato de Constantino. Muitos operários estrangeiros que militavam na organização sindical e trabalhavam na tecelagem Ypiranguinha foram presos e mandados para a Ilha Grande (RJ); outros com menos sorte, como foi o caso de Alexandre Português, foram deportados, banidos do país por sua ideologia.
CASTELLANI VIVE
Passados 100 anos desses fatos, Costa diz que a história de Constantino merece ser apresentada para as novas gerações principalmente agora que o país precarizou de forma completa as leis trabalhistas, a organização sindical está mais uma vez ameaçada e a aurora autoritária renasce no país.
O editor da Revista MORTAL afirma que Castellani ressurge um século depois como novo ícone de luta: “Constantino Castellani volta para inspirar uma nova geração de inconformados com o sistema! Ele foi um verdadeiro protopunk lutando contra os coronéis e o capital”.
O debate é gratuito e aberto ao público em geral. A APEOESP se localiza na rua Rua Xavier de Toledo, numero 471, no centro de Santo André.
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!