A 2 anos da partida do Negro.
Hoje quero escrever por um único, por um belo ser que deixou memórias indeléveis que se relacionam diretamente com a luta nas ruas. Hoje, quando completam 2 anos de que não está conosco, me vêm a mente belos momentos.
Mobilizações estudantis; discursos sensacionalistas, reformismo, cidadania e politicagem por um lado. Por outro bom e belo, distúrbios na asquerosa cidade, encapuzadxs anti-gambé que queriam o caos, também aquelxs que procuravam propagar ideias anarquistas e outrxs o prazer do ataque. Lá nos encontrávamos todxs e ali mesmo naquela mesma calçada estava o Negro com seus latidos inconfundíveis.
Não consigo esquecer quantas vezes estando encapuzado, dando a bastarda polícia que ele estava ao nosso lado e nos dava um imenso entusiasmo e alegria, principalmente quando se é amante dxs animais.
Lembro de uma greve nacional bastante caótica de 26 de junho de 2013, estávamos várias individualidades anárquicas na UCEN [Universidad Central de Chile] preparando um fechamento de rua para as 07h00 da manhã, enquanto coordenadamente da mesma UCEN e da UTEM [Universidad Tecnológica Metropolitana] saíram mais grupos. Aquela manhã começou com fogo nas ruas em vários pontos da cidade. À tarde as mobilizações começaram na (Avenida) Alameda, caos durante todo o dia; e, claro, sabem onde o Negro estava… À noite, cansadxs de um dia inteiro de enfrentamentos, fomos mais uma vez, novamente saem da UTEM e da UCEN, horas de enfrentamentos até depois das 10h00 da manhã e o Negro ainda estava lá, quanto fôlego! Era engraçado vê-lo como avançava latindo junto com todxs nós quando atacávamos ao piquete e depois recuávamos pelo gás lacrimogêneo, e ele, é claro, também fazia. Naquele dia o Negro foi parte do caos.
E assim foi na UCEN, na UTEM, na USACH [Universidad de Santiago de Chile] em muitos enfrentamentos, combates por toda a Alameda, no Parque Almagro quando tudo transbordou, nas tomas [ocupações] universitárias e quando os estudantes compartilhavam “algum goró”, também houve, como não! Devem haver muitas histórias não contadas e anedotas que têm o Negro por lá…
Lembro quando organizamos algumas saídas na UCEN, materiais prontos para a luta nas ruas, pneus, tinta, molotov, propaganda anarquista, estávamos mudando para algum lugar e chega ele… Estava latindo do lado de fora! Não podíamos acreditar, poderíamos ter descoberto os guardas antes do tempo, fechariam as portas da universidade e teria sido uma sorte sair. Rapidamente abrimos a porta para ele entrar e os sorrisos surgem por um momento. “Este maluco deve ter um chip”, como chegou! Diziam algumxs companheirxs e carinhos para o Negro, é claro, contagiava com uma alegria imensa. Não seria a última vez que faria isso antes de uma saída incendiária e/ou protesto. Queria ser parte da desordem e o aceitávamos.
São muitas as ocasiões de luta nas ruas e sabotagens também, quando um ônibus da transantiago foi incendiado nos arredores da USACH no contexto de uma manifestação solidária com a revolta em Aysén¹ em 20 de março de 2012, o Negro também estava lá. Na verdade, lembro desse momento porque o ônibus estava fora do caminho, descemos porque o motorista estava obviamente assustado e dissemos “Bom cara, isso não é contra você” e ríamos apertando as mãos e abraçando ele, o motorista se acalmou, riu e saiu, depois a máquina se tornou lixo. Então todos xs anônimxs desaparecemos e o Negro, é claro, também sumiu. Ele era danado! À noite, impune e ainda com a adrenalina a mil, vejo o asqueroso canal de tv BíoBío e há uma entrevista com supostxs passageirxs do ônibus, uma velha dizendo que o ônibus estava cheio de gente, com idosxs e mulheres grávidas, que porra mais falsa! Não falo isso para que os chorões saiam gritando montagem. A ação incendiária foi realizada por anarquistas e encapuzadxs, é foda como a imprensa consegue inventar tantas merdas… Como na época a entrevista do palhaço Matías del Rio com “supostos companheiros de Mauricio Morales” por exemplo. Bem, são táticas da imprensa burguesa e do poder que é impossível esquecer, então quis contar.
Para terminar este texto, já se passaram dois anos desde que o Negro morreu, ainda me lembro quando soube no mesmo dia e me caíram lágrimas, neste momento estou emocionado ao escrever este texto e sei como muitos também o fazem para sentir esse vazio e nostalgia ao lembrar momentos que marcam a pessoa indivíduo em luta. De todo modo, sua lembrança permanece mais viva do que nunca, sua história foi se multiplicando pelas redes sociais, fotografias, notas da mídia asquerosa, documentários e até mesmo fora do território chileno o conhecem; ao Negro “Matapacos”, o cão das marchas que está do “lado dxs encapuzadxs”, que lindo! totalmente à altura do cão grego que andava nas mesmas andanças do outro lado do oceano nas mesmas datas de Loukanikos.
Aquela época não foi uma rebeldia temporária nem uma moda juvenil, mas um crescimento em experiências que tivemos pelo enfrentamento, a sabotagem e a luta anarquista que continuamos AQUI e AGORA. O Negro também é outro impulso -como são nossxs irmãxs combatentes mortxs- para o incêndio, para continuar a atacar a polícia e os símbolos do poder, para continuar alimentando ideias anti-sistêmicas. Enfim, o Negro é puro Caos, e nossa melhor homenagem a ele é continuar nesse caminho. Não fica atrás de outrxs compas.
COM A MEMÓRIA SEMPRE VIVA!!
NEGRO “MATAPACOS” PRESENTE!!
CONTINUAR A LUTA SEM TRÉGUA CONTRA O PODER!!
Um anarquista encapuzado
26/08/2019
[1] http://www.laizquierdadiario.cl/A-4-anos-de-la-revuelta-de-Aysen
Tradução > keka
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agência de notícias anarquistas-ana
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