Ela foi uma notável pensadora e oradora anarquista, mas a história esqueceu-se profundamente de Voltairine de Cleyre.
por Matthew Wills | 27/03/2019
Nascida no Michigan em 1866, Voltairine de Cleyre recebeu esse nome em homenagem a Voltaire. Quando ela morreu, 45 anos mais tarde, ela tinha vivido com a reputação de pensar livremente e causar problemas, como seu xará. A famosa ativista Emma Goldman chamou de Cleyre de “a mulher anarquista mais talentosa e brilhante que a América já produziu“.
De Cleyre escreveu:
O primeiro ato da nossa vida é um pontapé contra o decreto injusto dos nossos pais e, ficamos desde então, inflexivelmente, ligados ao princípio do pontapé. Agora, se a palavra pontapé tem para você uma má reputação, substitua por não-submissão, insubordinação, rebelião, revolta, revolução, ou qualquer nome que expresse a não aceitação à injustiça.
O pai dela era um imigrante francês da classe operária que ganhou a cidadania americana lutando na guerra civil. A sua mãe era filha de abolicionistas. Os seus pais enviaram a jovem Voltairine para uma escola do convento, onde aprendeu a ser oradora e ateia. Ela escrevia poesia aos 6 anos. Aos 19, escrevia e fazia leituras em Pensamento Livre, a ideia filosófica de que a verdade deveria basear-se na razão e no empirismo, ao invés da autoridade e do dogma.
O radicalismo de Cleyre era, acima de tudo, “uma retórica de autodescolonização, direcionada a interromper a configuração ideológica da vida interior de seus leitores, libertando-os para que rearticulassem as suas vidas”.
Na sua curta vida, ela publicaria “centenas de trabalhos – poemas, esboços, ensaios, palestras, panfletos, traduções e contos”, escreve a acadêmica Eugenia DeLamotte. E, ainda assim, de Cleyre seria amplamente excluída da história no século seguinte devido a sua radicalidade. DeLamotte descreve o radicalismo de Cleyre, acima de tudo, como “uma retórica de autodescolonização, direcionada a interromper a configuração ideológica da vida interior de seus leitores, libertando-os para que rearticulassem as suas vidas” e imaginar mudanças.
De Cleyre teve uma vida precária na Filadélfia ensinando inglês a comunidade imigrante judia. Ela também escreveu incessantemente, editou, palestrou e organizou. Os eventos da Revolta de Haymarket em Chicago, em 1886 – a qual levou a execução de quatro anarquistas após um julgamento duvidoso, como parte da luta pela jornada laboral de 8h – transformou-a em uma anarquista.
No seu ensaio sobre de Cleyre, a estudiosa em comunicação, Catherine Helen Palczewski, explora a crítica radical de Cleyre sobre a “questão do sexo” em textos como “The Gates of Freedom“, “Sex Slavery“, “They Who Marry Do III” e “Why I Am an Anarchist“.
De acordo com Palczewski, reformistas contemporâneas como Emma Goldman, Margaret Sanger, Crystal Eastman, Helen Gurley Flynn e Louise Bryant o casamento é comparável à prostituição.”De Cleyre, pelo contrário, desenvolveu uma critica geral dos papéis sociais e instituições, rejeitando o casamento e defendendo que a mulher é estuprada no casamento e não prostituída por ele”. Nas próprias palavras de Cleyre, “E isso é estupro, onde um homem se força sexualmente sobre uma mulher, seja ele licenciado pela lei do casamento ou não. E essa é a mais vil tirania, onde um homem obriga a mulher, que ele diz amar, a aguentar a agonia de ter crianças que ela não deseja”.
De Cleyre também rejeitou o movimento de pureza social da época e a supressão da obscenidade que o acompanhou. Informação sobre controle de natalidade, por exemplo, era então considerado obsceno.
Palczewski chamou de Cleyre de “uma importante figura retórica e feminista, porque seu anarcafeminismo foi um precursor precoce para muitas das críticas radicais da condição sexual das mulheres que saíram da ‘segunda onda’ do feminismo.”
Intelectualmente feroz, de Cleyre teve uma vida curta e difícil. Ela escreveu o seu próprio epitáfio: “Morro, como vivi, um espírito livre, uma anarquista, sem qualquer dever de lealdade aos governantes, celestiais ou terrestres”.
Fonte: https://daily.jstor.org/voltairine-de-cleyre-american-radical/
Tradução > Ophelia
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!