[Espanha] Um curta narra os últimos dias de Concha Monrás e Ramón Acín

Tomás Generelo apresentou ‘Cardelinas‘ (pintassilgas) em Huesca , com roteiro de Maite Abaurre, sobre a história do casal anarquista fuzilado em agosto de 1936, conta com Carmen Barrantes, Fernando Ramos e Elisa Hipolito

por Antón Castro | 17/09/2019

A história de amor e morte de Ramón Acín (Huesca, 1888-1936) e Concha Monrás (Barcelona, 1898-Huesca, 1936) é uma das mais belas, comoventes e terríveis, vinculadas à Guerra Civil. Historiadores como Carlos Forcadell e Eloy Fernández Clemente escreveram durante anos que Acín era “o Lorca¹ aragonês”. Ele era pintor, escultor, pedagogo e anarquista e muitos estudiosos recentes – García Guatas, Víctor Juan Borroy, Emilio Casanova ou Víctor Pardo Lancina, para citar alguns – abordaram sua rica personalidade e seu infame destino. Ao seu lado como sua companheira, esposa e musa, sempre estará Conchita, filha do professor Joaquín Monrás e destinatária das cartas de Acín. Em uma lhe dizia: “Serás sempre o consolo de minha aflição e a causa de minha alegria”.

A personalidade de Concha era inquestionável: jogava tênis, tocava piano (dizem que interpretava muito bem Mozart e Chopin) e se interessava pelo esperanto. Se casaram em janeiro de 1923 na igreja de Santo Domingo, apesar de terem iniciado sua relação cinco anos antes; quando Ramón Acín lhe mandou um de seus desenhos. Viveriam juntos treze anos.

O jovem cineasta Tomás Generelo, que recebeu uma bolsa de estudos para produzir seu curta metragem ‘Cardelinas‘, explica: “A historiadora Maite Abaurre sempre teve interesse em escrever uma historia sobre Ramón Acín. Tentou fazê-lo várias vezes, e conseguiu, mas não ficava contente ou convencida de toda a atmosfera da história. Mudou seu foco e se concentrou em Concha, Conchita Monrás, então percebemos que o roteiro funcionava. Creio que seja uma história comovente”.

Tomás Generelo criou um filme entre o espectral e o realismo mágico, com um fundo inevitável de crônica amarga de luta. “O conto recorda aspectos da história do casal. Ramón se escondia na casa, em um cômodo sombrio, porque todos os dias eles recebiam a visita de integrantes do bando nacional, sobretudo dos falangistas². Noite após noite, Ramón Acín presenciava sua esposa sendo vítima de insultos e maus tratos. E um dia, em 6 de agosto, não pôde mais aguentar e se entregou”. Concha saiu atrás dele aos gritos de “Moncico, Moncico, Moncico”, deixou suas filhas Katia e Sol em casa, e foi detida. Ramón foi fuzilado nessa mesma noite e Conchita também seria, de modo impiedoso, em 23 de agosto.

O curta transcorre nessa época. Entre a detenção e a morte. “Passei a abordar a crueldade da guerra, há espaço para a ternura, para a magia, para a amizade e, claro, para o medo. Concha estabelecerá relação com outra presa, jovem, que talvez seja retratada”. A atriz Carmen Barrantes, protagonista de ‘Bendita calamidad‘ ou ‘Como estávamos bem (Ferretería Esteban)’, dará vida à Concha Monrás, e está comovida. Ela conta que é um dos personagens mais emotivos que havia feito, dos que arrepiam a pele e a alma. Já a jovem Adela é representada por Elisa Hipólito, filhado ator Carlos Hipólito, garota na qual Concha crê encontrar amizade e camaradagem e que costumava relatar.

“Conchita Monrás era uma das mulheres a frente de seu tempo: tenista, pianista e defensora da língua universal. Mas nem à guionista nem a mim isso despertara tanto quanto outros detalhes: sua condição de esposa, de mãe, suas emoções, sua intimidade e, principalmente, seu medo”, disse Tomás Generelo.

A culpa, a dor, o amigo

Acrescenta: “O medo, sem dúvida! Esse desamparo crescente. Mas também há algo mais: junto aos diálogos entre as duas mulheres, na prisão, Concha Monrás tem a sensação de que está do lado do próprio Ramón Acín, e conversam, então aparece o remorso, o sentimento de culpa”.

Tomás Generelo, já iniciara a edição do curta, e explicou que o intitula ‘Cardelinas’ porque Ramón e Concha não tinham pássaros em gaiolas em sua casa, mas sim passarinhos de papel, ou cartas em forma de passarinho de papel, escultura tão querida pelo artista. “Ramón e Concha eram pacifistas e viviam em um ambiente acolhedor, artístico, onde se perceba um poço da licença poética do encontro de Concha e o fantasma de Ramón Acín. Aqui as autênticas pintassilgas seriam as duas amigas que estavam na cela, Concha e Adela; talvez elas não voltariam a voar”. O filme tem um tom intimista, emocionante, “de verdade, desprendimento, dor e sonho”, confessa Generelo.

O elenco se completa, entre outros atores, com Fernando Ramos, que deu vida a Ramón Acín em ‘Buñuel en el laberinto de las tortugas‘ (Buñuel no labirinto das tartarugas) de Salvador Simó. O projeto, que conta com uma extensa equipe de profissionais do cinema aragonês, recebeu o apoio da Assembleia Provincial de Huesca e da Fundação Ramón y Katia Acín.

Fonte: https://www.heraldo.es/noticias/ocio-y-cultura/2019/09/17/un-corto-narra-los-ultimos-dias-de-concha-monras-y-ramon-acin-1334241.html

>> Foto em destaque: Ramón Acín e sua esposa Concha Monrás com suas filhas Sol e Katia.

>> Notas:

[1] Federico García Lorca (1898 – 1936) foi um poeta e dramaturgo espanhol, e uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.
[2] A Falange Española (FE) foi uma organização política Espanhola de inspiração fascista ativa em 1933 e 1934.

Tradução > Daitoshi

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