[Argentina] Primeiro festival “Nem uma a menos nas prisões também”

Transbordar a capacidade de um lugar talvez possa ser sinônimo de “sucesso”, mas o que se caracteriza esta tarde-noite de domingo (06/10) é por um transbordamento de solidariedade para com as pessoas que sofrem na pele a violência estatal. Familiares e companheirxs, tanto abaixo como acima do palco, enfatizam que não apenas hoje se organizam e visibilizam diversas problemáticas atravessadas pela lógica do Estado, mas que constroem lutas que são sustentadas no cotidiano.

Da violência inerente que exalam os muros das prisões até os assassinatos perpetrados pelos patrões nas oficinas clandestinas, da guerra que os Estados de diferentes territórios perpetuam contra o povo até o “gatilho fácil” como política de Estado, diferentes vertentes do mesmo sistema patriarcal-estatal-capitalista que nesta tarde são repudiadas e contestadas pela organização solidária, pela difusão, pela arte.

As paredes estão cobertas de bandeiras com frases de memória e de luta que decoram o espaço e as palavras, as rimas, o grito poético da arte comprometida se erguem como punhais flutuantes no ar. A qualidade de diversos artistas nos nutrem com suas guitarras libertárias, suas poesias de partir o coração, suas chacareras dissidentes, seus teatros incisivos, seus punks raivosos, seus hip-hops combativos, suas performances disruptivas. Artistas que estão no palco para compartilhar suas experiências, seus olhares e suas vozes comprometidas contra as lógicas opressivas e por uma vida de luta.

Por sua parte, Alfredo Cuellar, da fortaleza, humildade e comprometimento que o caracteriza, fechava a noite deste primeiro encontro com as seguintes palavras:

Companheirxs, do coletivo de familiares da China Cuellar¹, queremos agradecer, em primeiro lugar, o grande número de companheirxs que vieram participar do 1º festival Nem uma a menos nas prisões também; em segundo lugar, pedir mil desculpas pela decisão tomada no último momento, que afetou os artistas que ainda iam tocar. Tudo isso tem a ver com a massiva concorrência de companheirxs que excederam a capacidade do local e que levaram a tomar essa decisão, não apenas para preservar o lugar, mas também a integridade das pessoas […] Desde já um enorme abraço libertário, obrigadx por esse tremendo acompanhamento. Abaixo os muros, nem uma menos nas prisões também.

Hoje, 06 de outubro de 2019, se gritou novamente: Não estamos todxs, faltam xs presxs! Neste primeiro festival pela Nem uma a menos também nas prisões, familiares e companheirxs deixam claro que, diante do silêncio cúmplice e a baixa visibilidade, se solidarizam com xs compaheirxs que diariamente sofrem torturas, constrangimentos, transferências compulsivas, discriminação e isolamentos dentro das delegacias, destacamentos, penais e institutos para menores. Porque a justiça é machista, patriarcal e misógina, se posicionam com a #niunamenostambiénenlascárceles por aquelxs manas e manos que o Estado repressor invisibiliza criminalizando por ser faveladxs, migrantes, negrxs, por abortar, por ser mães, lésbicas, trans, travestis, por se defender.

Ao viver em uma sociedade que apoia o estuprador femicida, que prende e assassina aquelxs que não se curvam a nenhum tipo de opressão, fazem este festival com a intenção de ser os olhos e ouvidos dessas pessoas silenciadas, separadas. Para que o grito de #niunamenos transcenda os muros das prisões e que nenhum caso fique impune!

• PELAS QUE CONTINUAM DENTRO PASSANDO POR TODO ESTE CONSTRANGIMENTO • PELAS QUE O SERVIÇO PENITENCIÁRIO E A SOCIEDADE PATRIARCAL SE ENCARREGOU DE ASSASSINAR •

Fonte: https://periodicogatonegro.wordpress.com/2019/10/08/primer-festival-ni-una-menos-en-las-carceles-tambien/

>> Nota:

[1] Florencia Cuellar, “La China”, esteve presa durante 4 anos na prisão de Ezeiza. Em 23 de dezembro de 2012, ela apareceu morta em sua cela. Apesar dos golpes em seu corpo, o Serviço Penitenciário Federal argumentou que era um suicídio.

Tradução > keka

agência de notícias anarquistas-ana

Pela última vez,
vou espantar as moscas
do rosto do meu pai.

Issa