[Grécia] Koukaki sente o peso sobre si

Desde 2017, a Koukaki Squat Community (composta pelas ocupações Matrozou 45, Panaitoliou 21 e Arvali 3) estabeleceu um exemplo de vida comunal diferente e relevante no centro de Atenas. Projetos abertos de habitação comunitária, banheiro público e lavanderia, compartilhamento de roupas, espaços para eventos públicos e uma biblioteca multilíngue foram formados através de procedimentos horizontais, trabalho coletivo e persistência. Funcionando em uma vizinhança residencial que vem sendo transformada em resort turístico de primeira-classe, a Koukaki Squat Community formou um aterro contra as políticas repressivas e econômicas do Estado e dos patrões, contra o fascismo, o racismo, e o patriarcado. Uma lareira viva de resistência que apoiou e conectou ativamente outros esforços, projetos políticos e assembleias públicas [1].

Uma comunidade como esta, de igualdade e solidariedade, não poderia deixar de ser noticiada. Como muitas outras ocupações e projetos políticos em Atenas, as ocupações em Koukaki foram visadas várias vezes pelo Estado, tanto pelos governos do Syriza [esquerda] como do Nea Dimokratia [direita], e também por ataques fascistas [2]. Os camaradas enfrentaram evacuações e repressão, mas resistiram e defenderam sua comunidade retomando as casas e fazendo intervenções dinâmicas. Sua forte resistência veio a se tornar uma questão política central em 18/12/2019, quando a polícia evacuou as três ocupações, e em 11/01/2020, com operações de despejo espetaculosas nas casas de Matrozou 45 e Panaitoliou 21, que tinham sido retomadas por camaradas mais cedo naquele mesmo dia.

Retomar e defender as ocupações foi uma ação contra o medo a qual a repressão estatal nos submete… Uma justa resposta à irracionalidade de um sistema financeiro que joga pessoas violentamente na sarjeta, nas ruas e em campos de concentração, enquanto milhares de prédios permanecem abandonados e vazios [3]. Através de sua firme resistência, os camaradas responderam à violência imposta a todas as ocupações e àqueles que lutavam em meio a despejos, prisões, terror e medo. Por meio de resistência coletiva, estes camaradas deram uma resposta simbólica ao Estado e ao ataque do capital ao trabalho, à saúde, à educação e à moradia, à pilhagem neoliberal dos recursos naturais e ao gerenciamento necropolítico de vidas. Uma resposta simbólica à violência onipresente que os poderes estatais semeiam diariamente nas cidades, comunidades locais e fronteiras, desde o campo de refugiados de Moria, da prisão de Petrou Rallie de Korydallos, até a mina de trabalho prisional de Skouries, a resistência local em Agrafa e as margens do mar Aegean.

O ódio com que a polícia atacou os camaradas da Koukaki Squat Community, bem como os residentes locais e os camaradas em solidariedade, veio sem surpresa. O Estado tem ciência de que as resistências coletivas e a solidariedade devem ser golpeadas implacavelmente, pois assim não se tornam um exemplo a seguir por todos aqueles que (podem) negar e desafiar a individualização e a competição selvagem do livre-mercado, um exemplo a seguir para todos aqueles que resistem ao tomar suas vidas nas próprias mãos. No entanto, o que eles não entendem é que nossos laços coletivos, esforços e ideias não estão confinados a paredes e não podem ser despejados. Continuaremos solidários com nossos camaradas, com todos aqueles que resistirem nas lutas sociais que se desenrolam. Porque a luta não é legal nem ilegal, é justa.

SOLIDARIEDADE ÀS OCUPAÇÕES E PODER PARA OS PRESOS

TUDO É NOSSO PORQUE TUDO NOS FOI ROUBADO

OCUPAÇÃO NAS VILAS E CASAS ABANDONADAS

POR UM MUNDO DE SOLIDARIEDADE, AUTO-ORGANIZAÇÃO E LIBERDADE

Dervenion 56 Squat, Fevereiro de 2020, Atenas

[1] Mais sobre a KoukakiSquat Community:

https://athens.indymedia.org/post/1602457/ | https://athens.indymedia.org/author/Κοινότητα

[2] Despejos em 12/3/2018, 18/12/2019 e 11/1/2020, e ataques fascistas em 26/02/2018 e 14/03/2018.

[3] Texto para a retomada de Matrozou 45 e Panaitoliou 21 em 11/1/2020: https://athens.indymedia.org/post/1602470/

Tradução > Sid Sobral

agência de notícias anarquistas-ana

mar não tem desenho
o vento não deixa
o tamanho…

Guimarães Rosa