O que o termo “revolução” significa hoje? Embora seja óbvio que o significado social e político tem seu significado histórico, a possibilidade de grandes mudanças revolucionárias parece ter sido em grande parte banida da imaginação das pessoas de hoje.
Além disso, a questão torna-se importante, mesmo quando entramos na arena libertária, quando há a habitual e cansativa discussão sobre por que não votar em uma eleição. Em outras palavras, nunca se deve dizer que o voto é inútil, mas que não é de todo útil para mudar a sociedade, para uma transformação radical da mesma, em suma, para a revolução. Isso tem muito a ver com uma época em que, em conexão com o fim das ideologias, parecia há alguns anos atrás que o fim da história tinha sido alcançado. Uma estupidez tremenda, pois as sociedades humanas estão sempre sujeitas a mudanças históricas, mas é um discurso que, apesar das muitas crises que sofreu, tem permeado em grande parte a imaginação das pessoas. É verdade que, no horizonte, nenhuma grande mudança revolucionária parece estar à vista; mesmo o que tem sido chamado de “revolução” nos últimos anos nada tem a ver com os grandes eventos revolucionários do passado. Outra questão, segundo esta visão conservadora ou reacionária, já que teria havido uma prática bastante desastrosa no passado, é que elas não seriam desejáveis deste ponto de vista. Esta visão obviamente manteria o status quo, embora aqueles que a professam aceitem alguma mudança, geralmente através do sistema estabelecido e de uma forma bastante cosmética.
Diante disso, há aqueles de nós que acreditam que a transformação radical, a mudança revolucionária (em muitas áreas da vida), é mais necessária do que nunca, já que o capitalismo e os estados nos conduzem a um desastre considerável, para não dizer que já estamos sofrendo com isso. Digamos que, a priori, é uma questão de desejo revolucionário, que uma grande parte da população parece não ter, pois suas consciências parecem ser colonizadas por aquelas forças conservadoras, ou reacionárias, que afirmam que outro mundo não é possível. É claro que, na ausência de um desejo e consciência majoritária revolucionária, é impossível incentivar a mobilização e a mudança. Especialmente se falamos de ideias anarquistas, que não deixam de promover a plena participação da sociedade nas mudanças, um aprofundamento da democracia, se quiser chamar assim. Em primeiro lugar, deve-se dizer que o desmantelamento daqueles que afirmam que a mudança revolucionária não é possível é uma questão simples. A história nos mostra que as sociedades humanas são continuamente transformadas, às vezes gradualmente, às vezes por um grande evento, progressivamente ou não. Em suma, a mudança revolucionária é inerente à própria existência de comunidades formadas por seres humanos. A teleologia, a história da humanidade voltada para um fim ótimo, um conceito de origem religiosa, que acabou sendo de alguma forma secularizado, é algo, não só discutível, mas francamente rejeitado. O que é possível é a mudança inovadora e radical da sociedade, mas graças ao desejo e à vontade do ser humano, não a fatores externos. Podemos citar aqui Albert Camus e seu homem rebelde, que é capaz de dizer não à autoridade instituída e acaba mudando o que parecia imutável.
Tentemos, portanto, aceitar antes de tudo que é possível mudar o estado das coisas, uma concepção radical e inovadora da liberdade. Voltemos agora ao termo revolução. Essa possibilidade de transformação radical seria baseada no que Eduardo Colombo chama de “imaginário revolucionário”, nossa capacidade simbólico-institucional, que assumiria diversas formas, mas em sua versão anarquista seria formada pelos desejos e aspirações de uma liberdade baseada na igualdade, uma rejeição a todas as formas de dominação ou ação social sem intermediários, entre outras coisas, o que traria o grande evento revolucionário. Seria um imaginário social libertário, mais ou menos semelhante ao clássico, ao dos militantes quando o anarquismo nasceu no século XIX e seu posterior desenvolvimento. Entretanto, outros autores anarquistas, como Tomás Ibáñez, embora aceitando logicamente o desejo de mudança revolucionária, consideram que o imaginário que o favorece é, pela força, muito diferente hoje. Embora os traços que caracterizam o anarquismo sejam os mesmos, já que existem princípios e atitudes que são permanentes, o mundo de hoje é muito diferente e um grande evento transformador não seria possível hoje como no passado. As contínuas mutações do capitalismo, que se renova de forma inédita, juntamente com o desenvolvimento tecnológico e a era da Internet, fazem com que o mundo de hoje seja muito diferente do de um século atrás.
Este é um debate sobre a possibilidade de um imaginário revolucionário com alguma conexão com o passado, sobre os grandes eventos de mudança, ou sobre a possibilidade de um que aceite que as revoluções assumam formas muito diferentes. É a mesma polêmica entre os postulados da Modernidade, com sua grande confiança na razão e no progresso, e a situação pós-moderna, que é verdadeiramente incerta e aparentemente sem muito a que se agarrar. Diremos, como fizemos em outras ocasiões, que talvez seja um falso dilema: é necessário uma conexão com as raízes do Iluminismo, com razão crítica, bem como um questionamento feroz de tudo o que tem sido pernicioso no desenvolvimento da Modernidade (e que tem muito, ou tudo, a ver com o sistema econômico, exploratório e político dominante). Por outro lado, a análise da sociedade pós-moderna, tudo o que nela é crítico, antiautoritário e social, é muito interessante e deve ser levado em conta. O importante da mudança revolucionária, a priori, é aceitar que ela é sempre possível, manter intacto o nosso desejo por ela e trabalhar o melhor que pudermos para essa sociedade libertária. Se as consciências de grande parte da sociedade parecem ser colonizadas por um sistema que não nos agrada em absoluto, a grande tarefa é como provocar um novo cenário revolucionário em que o grande desejo do povo é de ampla liberdade e reconhecimento do outro, a solidariedade sobre a qual a sociedade anarquista se baseia. A resposta, como sempre foi, é começar a construí-la aqui e agora.
Capi Vidal
Tradução > Liberto
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duas casas de João-de-Barro
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Joaquim Pedro
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!