O editorial a seguir analisa a recente Revolta em Minneapolis no contexto tanto da pandemia do COVID-19 como da guerra social geral nos chamados EUA.
Interminavelmente, ouvimos “por que estão eles saqueando e queimando a sua própria comunidade?” Como se por proximidade geográfica, as Targets, Autozones e McDonalds e até mesmo as sagradas pequenas empresas tivessem alguma vez pertencido às e aos trabalhadores e pobres que agora os acendem em chamas. Numa época em que números históricos de desemprego e de disparidade satisfazem os lucros em ascensão das empresas e o advento do primeiro “trilionário”, ouvimos as repreensões e os defensores da ordem presente mobilizando-se para envergonhar aqueles e aquelas que estão reivindicando o seu tempo, o seu trabalho e as suas vidas. Estes recordam-nos que existe uma forma “correta” de fazer as coisas, que há canais e representantes pelos quais temos de passar para procurar justiça. Enquanto isso, as lojas estão ardendo, as pessoas estão fazendo a polícia recuar e estão dançando nas ruas.
A vida de George Floyd foi roubada pela Polícia de Minneapolis. Outro nome numa longa lista de vidas negras que foram interrompidas pela violência policial. Oscar Grant, Mike Brown, Tamir Rice, Eric Garner, Freddie Gray, Sandra Bland, Philando Castela, Marcus David Peters, Breonna Taylor… todas as cidades têm a sua lista. No entanto, continua a acontecer. O script é sempre repetido, desgastando as pessoas, re-traumatizando famílias e comunidades e, no final de contas, deixando as instituições e forças policiais que o perpetuam no mesmo lugar onde estão — com pequenas reformas, na melhor das hipóteses. Como aconteceu em Ferguson, Baltimore, Charlotte e em outros lugares, desta vez as pessoas decidiram inverter o script.
Vemos imagens de carros da polícia queimados e esmagados, linhas de polícias de choque, gás lacrimogêneo, transmissões ao vivo instáveis e pessoas sangrando de ferimentos por munições policiais, um espetáculo que é ao mesmo tempo horrível e aterrorizante, de partir o coração, ultrajante, mas também há um vislumbre de outra coisa. Apesar da tristeza de grande parte disto, vemos enormes sorrisos no rosto das pessoas à medida que elas se observam fazendo coisas que nunca pensaram que poderiam fazer. O caminho a que as suas vidas estão amarradas todos os dias é interrompido e surgem espaços a partir dos quais podem realmente fazer qualquer coisa.
Os escâneres da polícia gritam “precisamos de reforços”, “estamos ficando sem gás lacrimogêneo”, “estamos recuando”, “perdemos o controle”. Os agentes da ordem, que assumimos serem invencíveis e onipotentes, estão em retirada. Conscientemente ou não, as linhas imaginárias das leis e do Estado são apagadas e as relações de propriedade quebram-se. Tudo para todos. A realidade é despojada à sua forma mais simples e a linha é clara: é toda a gente contra os policiais, os proprietários, os diretores e os líderes. O saque torna-se a recuperação das nossas vidas e do nosso tempo e um edifício em chamas torna-se uma fogueira.
Num momento em que o desemprego pode muito bem subir até 25%, muitos dos e das nossas amigas estão agora com receio em relação de como vão pagar o aluguel, comprar alimentos ou manter as luzes acesas. As leis e os pacotes econômicos passados pelos partidos do governo são falados como se fossem um bote salva-vidas, quando a realidade é que eles não passam de um incentivo para a classe proprietária e para os senhorios. Agora estão nos chamando para voltar ao trabalho, para sermos pagos 10$/h para jogar roleta russa com uma pandemia que só neste país já reclamou 100 mil almas. Dizem-nos que devemos estar gratos pelos restos que nos lançaram, jogando com a generosidade de cheques de $1.200 e pagamentos de seguro de desemprego irregular. Mas basta olhar para as letras pequenas para ver que o que foi dado aos pobres e trabalhadores deste país é uma fração dos resgates e pagamentos feitos para manter os níveis da bolsa de valores subindo e as corporações que confortavelmente dominam as nossas vidas. Mal podemos dormir estando preocupados e preocupadas em sermos despejadas, enquanto o Jeff Bezos [presidente da Amazon] está se tornando o primeiro “trilionário” do mundo.
E esperam que nos sintamos indignados com uma loja Target [rede varejista] saqueada.
Para todos e todas que percebem a sua demanda histórica seja através de uma pedra atirada à cabeça de um policial, uma TV retirada pela porta da frente, ou de grafites espalhados, vocês nos dão esperança de que as coisas não precisam de ser assim. Mesmo quando eles telefonam freneticamente para a Guarda Nacional, o que vocês fizeram foi iluminar um caminho em frente. A ordem das coisas está nos esmagando. Os nossos empregos estão desaparecendo, estão nos pagando uma ninharia para jogar nossas vidas para um ossário, estão matando os indisciplinados nas ruas e roubando a vida de pessoas negras em vídeo para todo o mundo ver. Este é um mundo que temos de recusar porque nunca deu nada para nós. Este é um mundo que devemos destruir.
O novo mundo luta para nascer, tentando abrir o seu caminho através do tempo e espaço para o nosso momento presente.
Lembramo-nos de Marcus David Peters.
E lembramo-nos do George Floyd.
De Richmond a Minneapolis, foda-se a polícia!
Fonte: https://itsgoingdown.org/between-looted-targets-trillionaires/
Tradução > Ananás
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Como que levada
pela brisa, a borboleta
vai de ramo em ramo.
Matsuo Bashô
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…