Os Estados Unidos foram construídos com base na escravidão, a de milhares e milhares de africanos e africanas sequestradas do seu continente para trabalhar em plantações e como empregados domésticos. Foram construídos com base no genocídio dos povos nativos americanos. Foram construídos com base na exploração da classe operária, muita da qual tinha fugido da Europa por causa da pobreza e da fome, da perseguição e da intolerância.
Apesar do suposto objetivo da Guerra Civil de ser travada para libertar os escravos, na verdade, essa guerra, a primeira guerra envolvendo meios modernizados de assassínio em massa, foi travada para estabelecer a ascensão dos capitalistas industriais do norte sobre os proprietários de plantações do sul. A opressão das negras e dos negros americanos continuou com uma forma de apartheid até à década de 1960 no Sul. Esta opressão foi reforçada por justiceiros racistas como a Ku Klux Klan e por uma força policial igualmente racista, que levou a cabo uma campanha de terror através de espancamentos e linchamentos. No Norte, para onde muitos negros do sul fugiram para trabalhar nas fábricas, formas flagrantes de apartheid não existiam, mas a discriminação ainda estava muito viva e muitos negros americanos lá viviam em guetos.
A classe dominante dos EUA sempre teve medo de insurreições e rebeliões contra o sistema contínuo de opressão e discriminação racial, desde a revolta de Nat Turner e o ataque de John Brown, passando por insurreições em Los Angeles, Detroit e Memphis na década de 1960 até a agitação de hoje.
O que é significativo sobre a última agitação é que ela está acontecendo durante a pandemia que custou mais de 100.000 vidas nos EUA. As várias crises que o capitalismo enfrenta estão se unindo cada vez mais e vemos o quão frágil é todo o edifício capitalista e como uma revolução social poderia arrancar.
O terrível assassinato de George Floyd pela polícia de Minneapolis mais uma vez incendiou o barril de pólvora de raiva que ferve entre as e os negros americanos. Houve demasiados tiroteios, demasiados espancamentos, demasiados assassinatos judiciais por parte da polícia racista.
Foi agravado pela declaração do Procurador do Condado de Hennepin Mike Freeman, que disse que havia “outras provas que não suportam uma acusação criminal”. Isto, apesar da evidência do vídeo, que mostra claramente o policial Chauvin fortemente apoiado com o joelho no pescoço de um Floyd algemado e roubando a sua vida. Freeman é o procurador municipal que não conseguiu acusar policiais pelo assassinato de Jamar Clark em 2016, o que provocou dias de tumultos. Ele atrasou seis meses na acusação do policial que disparou sobre e matou Justine Damond em 2017. Há uma incredulidade generalizada de que o sistema legal possa trazer justiça no assassinato de George Floyd. Derek Chauvin já tinha 18 acusações de má conduta criminal contra ele, mas foi autorizado a continuar como policial.
Milhares invadiram as ruas de Minneapolis. A agitação logo se espalhou para a cidade gêmea de St. Paul do outro lado do rio. Grandes armazéns como a Target e a Urban Outfitters foram queimados, bem como uma delegacia de polícia. Mercadorias retiradas da Target foram distribuídas entre a multidão. Os protestos não envolviam apenas negros americanos, mas muitas pessoas de diferentes origens étnicas. Também importante foi que as gangues em guerra estabeleceram tréguas, numa frente comum contra vigilantes de extrema direita. Motoristas de ônibus recusaram-se a transportar pessoas presas pela polícia durante os protestos. As igrejas locais ofereceram ajuda àqueles e aquelas que foram atacados com gás e agredidas pela polícia e pela Guarda Nacional.
Os protestos espalharam-se para outras trinta cidades. Doze destas, incluindo Minneapolis, foram colocadas sob um toque de recolher noturno, que foi ignorado por muitos.
Apesar da violência policial maciça, milhares apareceram em Minneapolis todas as noites. Em Phoenix, Arizona, a multidão atacou a delegacia da polícia. Em Los Angeles, um carro da polícia que atropelou manifestantes teve as suas janelas quebradas. Houve grandes manifestações em muitas cidades, com a polícia respondendo com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Em Columbus, Ohio, o edifício da Assembleia Legislativa foi atacado. Em Louisville, Kentucky, barricadas foram levantadas. Aqui, além da raiva pela morte de Floyd, o assassinato de Breonna Taylor pela polícia em março foi um fator para trazer pessoas para as ruas.
Oscar Grant, Mike Brown, Tamir Rice, Eric Garner, Freddie Gray, Sandra Bland, Philando Castile, Marcus David Peters, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery, Justine Damond, George Floyd, apenas alguns e algumas das que foram mortas sob custódia policial. E apesar dos muitos protestos ao longo dos últimos anos, apesar do movimento Black Lives Matter, a natureza assassina da polícia cada vez mais militarizada e fortemente armada, a sua arrogância e o flagrante racismo homicida não diminuiu.
Enquanto isso, os tuítes de Trump encorajam a polícia. Os comentários de Trump dizendo que pilhagens levam a tiroteios, os seus “cães cruéis” e “armas ameaçadoras” dão incentivo a uma força policial profundamente racista. Em Nova York carros da polícia foram filmados conduzindo diretamente sobre manifestantes.
Trump também tuítou sobre “anarquistas” estarem por trás dos protestos. Certamente anarquistas participaram em manifestações em várias cidades em solidariedade, mas a agitação em Minneapolis e em outros lugares não foi o trabalho de “agitadores externos”, mas de uma população local cada vez mais irritada. Liberais podem lamuriar sobre o saque da Target e os ataques às delegacias da polícia, mas não conseguem ver a raiva incandescente de muitos negros americanos, para não dizer nada sobre as comunidades latinas e asiáticas.
No passado, a Ku Klux Klan, na maioria das circunstâncias, realizava os seus linchamentos à noite. O assassinato de muitos negros americanos em plena luz do dia são linchamentos modernos. A supremacia branca faz parte do capitalismo americano, está integrada no sistema.
A pandemia amplificou os protestos. Os números são muito maiores nestes protestos do que anteriormente. Muitos estão em dificuldades por causa do confinamento, muitos estão sem emprego. O assassinato de George Floyd, tem agido como foco, não apenas pela raiva sobre assassinatos racistas pela polícia, mas por uma insatisfação geral com o sistema.
Fonte: https://www.anarchistcommunism.org/2020/05/31/the-fire-this-time/
Tradução > Ananás
agência de notícias anarquistas-ana
Casa abandonada—
a aranha faz sua teia
na porta de entrada
Regina Ragazzi
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!