Uma declaração do grupo Outlive Them NYC acerca dos protestos recentes e uma chamada para se rejeitar colaboração com a polícia e com o Estado.
O que se segue abaixo foi escrito por membros do Outlive Them NYC em resposta ao que vimos nas ruas e ouvimos pelas nossas redes de informação espalhadas ao longo da cidade. Como judeus abolicionistas lutando pela liberdade, nós apoiamos a rebelião por George Floyd contra o racismo e contra a polícia. E uma organização antirracista e antifascista nós agregamos judeus negros e pardos em nossas fileiras, assim como nos posicionamos junto a pessoas negras e pessoas oprimidas ao redor do mundo.
Estamos emitindo um chamado urgente para outros judeus radicais e todos aqueles comprometidos com esses esforços para rejeitar totalmente qualquer colaboração, coordenação e cooperação com a polícia. Judeus que colaborem com policiais não só põe negros e pardos não-judeus em risco como também põe judeus não-brancos. Não deixaremos nossos irmãos e irmãs não-brancas serem sacrificados, dedurados ou subjugados por um Estado que busca o extermínio destes.
O que isso significa? Não fale com policiais, agentes federais ou outros agentes do Estado diretamente. Não compartilhe evidência com eles indiretamente através das redes sociais (que são intensamente monitoradas pela polícia). Não renuncie à ação militante de outras pessoas (o que legitima a estratégia repressiva de dividir-e-conquistar do Estado). Qualquer um dos atos acima não só põe você mesmo em risco, como também pessoas do seu grupo, e incontáveis outros dos quais você não possui conhecimento.
Como foi amplamente mostrado pelo departamento de polícia de Nova York (e pelas forças da lei em todo o país) a polícia continuará atacando manifestantes, independente de quais sejam nossas táticas, e usarão qualquer meio disponível para reprimir essa rebelião.
Através da nossa história de sobreviver sob regimes opressivos, judeus têm um longo entendimento dos perigos em informar nossa comunidade e cooperar com os opressores. A lei judaica proíbe o mesirah (um judeu que informa / denúncia sobre outro judeu a um estado secular) porque este coloca outros judeus em perigo mortal. Denunciar um companheiro judeu a um governo opressor é equivalente a persegui-lo violentamente você mesmo. Apesar de mesirah ser algo polêmico nas comunidades judaicas contemporâneas, esse conceito pode nos ajudar a entender não-cooperação com a polícia como um ato sábio de autodefesa para comunidades que são alvo de violência e repressão estatal.
Estão praticando uma salvação suicida aqueles, especialmente não-negros, que fazem acordos ou entregam evidências à polícia que impeçam terceiros de lutar contra as forças policiais.
Para ter qualquer chance de eliminar a violência da polícia nós devemos ser capazes de empregar um arcabouço variado de táticas. Cada vez que nós marchamos juntos nas ruas, estamos aprendendo a revidar, a subverter as vastas forças despachadas contra nós, a escalar nossas ações contra a polícia enquanto mantemos seguros uns aos outros, e aprendemos como diminuir o poder policial ao aumentar nossa coragem e capacidade de executar ações estratégicas pela cidade. Políticas de respeitabilidade, narrativas forjadas para criar uma falsa dicotomia entre manifestantes “pacíficos” e “violentos”, bem como a insistência em estratégias exclusivamente pacíficas, só vão servir para nos dividir e enfraquecer. Nós vemos através dos políticos “progressistas” que aparecem nos protestos do Black Lives Matter para tirar fotos para redes sociais enquanto aprovam a construção de novas cadeias e ampliam as forças policiais de Nova York. Também rejeitados autodeclarados “lideres” que desmobilizam e desmoralizam nova-iorquinos com marchas simbólicas rumo a lugar nenhum. Eles não são confiáveis para nos guiar e nem devem ser autorizados a cooptar nossos corpos para suas próprias finalidades.
Convidar polícias para controlar nossas marchas e ditar nossas táticas resultará num levante suprimido e indeciso. É isso que os políticos, corporações, e outros inimigos do movimento querem. Eles não podem apoiar ou monetizar uma rebelião longa. Colaboradores que julgam a si mesmos pacíficos estão trabalhando para afastar o apoio popular da justa raiva da juventude negra proletária que acendeu o fogo que hoje alimenta protestos por todo o país.
O Estado já tomou muitas medidas para impedir que as massas se reúnam nas ruas para demandar justiça: gás lacrimogêneo, toques de recolher, spray de pimenta e reformismos baratos. Mas a violência estatal é uma resposta baseada no medo que busca conter séculos de resistências nos brutalizando no presente. O pânico do Estado não tem poder eterno; nós sobrevivemos e superaremos isso.
Nossos profetas não profetizaram em particular ou de forma pacífica. Durante o cativeiro babilônico, é dito que Hashem comandou ao profeta Ezekil que ele fosse completamente repugnante à sociedade civil: para viver nos arredores da cidade e permanecer ao lado desta enquanto usavam suas próprias fezes como combustível para o fogo. Para ser parte dum movimento profético na Babilônia hoje é preciso ser contra os valores da Babilônia, contra supremacia branca e dominação tanto neste mundo anti-negro quanto no mundo por vir. Numa sociedade onde é aceitável que pessoas negras sejam mortas impunemente, nós não podemos esperar que os que se revoltam façam isso em meios sancionados pela mesma sociedade violenta e racista.
Se você se encontrar lutando para compreender como pôr estes valores em prática, entre em contato conosco. Fale conosco se quiser recomendações de livros, zines, filmes, ou exemplos históricos de táticas contra-insurgentes sendo usadas para pacificar movimentos em diversos tempos e lugares. Se você deseja marchar conosco nesses tempos de crise, nos encontre nas ruas, se quiser construir algo coletivamente nós estaremos aqui para isso!
Amor e solidariedade!
Tradução > AnarcoSSA
agência de notícias anarquistas-ana
Depois de horas
nenhum instante
como agora
Alexandre Brito
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!