Mesmo tendo havido protestos diários desde o dia 30 de Maio, a sensação no ar é que as coisas estão tornando-se mais e mais “domadas” na maioria das partes. Ainda resta bastante energia no movimento mas junto a ela um forte medo de que o movimento em si seja cooptado pela agenda liberal popular ou suprimido pela repressão estatal. No entanto, com uma curiosidade sobre o rumo que as coisas tomarão, e com expectativas bastante baixas, eu fui até as demonstrações barulhentas convocadas pelo FTP.
Muitas pessoas chegaram atrasadas à concentração. Houve conversas sobre não haver pessoas o bastante, sobre o horário marcado ter sido muito cedo e se deveríamos esperar mais um pouco, iniciar alguma ação direta, ou voltar para casa. Muita hesitação e indecisão entre as pessoas. Felizmente, apesar da manifestação ter sido anunciada na internet, não houve presença policial inicialmente, e os 25 presentes decidiram prosseguir.
Mesmo após começarmos a andar as coisas ainda pareciam um pouco estranhas e quietas demais. Marchamos pelas ruas em direção ao presídio federal (FDC). Algumas paredes e vans da polícia foram pichadas, e quando chegamos ao FDC as coisas começaram a ficar barulhentas. Haviam dezenas de fogos de artifício e bombas de fumaça, “fodam-se as prisões” foi pichado no chão de modo que os prisioneiros pudessem ver, pessoas gritavam e batiam nas placas da rua. Houveram algumas palavras de ordem, mas bem pontuais. As pessoas lá dentro estavam ansiosas para nos enxergar, piscavam suas luzes e batiam nas janelas. Suas reações tranquilizaram muitas das dúvidas que tivemos pouco antes sobre executar ou não o ato.
Assim que terminamos com os brinquedos mais barulhentos, não ficamos muito tempo mais no local uma vez que um pequeno esquadrão de policiais (que nos superavam em número) deu as caras. Nos dispersamos de uma forma apressada e desleixada, mas no fim todo mundo saiu bem e de bom humor.
Após a demonstração eu fiquei com algumas coisas na cabeça:
Demonstrações barulhentas são uma excelente oportunidade para pessoas com menos experiência “entrarem mais fundo na água gelada”, com um pouco mais de risco envolvido. Isso se deve ao fato dessas demos serem um pouco mais rápida que as marchas comuns, mas não são tão assustadoras quanto os ataques pesados, dão ao pessoal um grande senso de poder e prática em mover-se pelas ruas com grupos em situações arriscadas. Independente do tipo de ação direta que vamos participar, é importante vir com nossos próprios objetivos e uma flexibilidade para adaptar-se aos objetivos dos outros ao nosso redor.
Um jeito de permanecer preparado é sempre usar as melhores práticas de esconder nossas identidades. Seja para assegurar que estamos com os rostos e tatuagens tampados antes de chegarmos perto das câmeras e dos policiais, seja usando luvas toda vez que usarmos algum objeto ilegal que possa ser deixado para trás. É importante ficarmos fora do radar, irreconhecíveis, irretratáveis.
Ao nos movermos juntos, precisamos melhorar ainda mais e não entrar em pânico! Quando estamos muito espalhados em momentos de risco isso nos deixa vulneráveis. Policiais nos seguindo nem sempre resulta em policiais nos capturando. Quando fugimos desnecessariamente apenas estamos nos colocando em maior risco. É importante saber diferenciar quando faz sentido e quando não faz sentido correr.
Por fim, é excitante imaginar todas as possibilidades do que poderíamos executar com um grupo tão grande quando não há policiamento por perto!
Em épocas como essa, onde a repressão está diminuindo, é especialmente importante mostrar solidariedade e contra-isolamento.
Grite para todos que estão com raiva transformando a raiva destes em ação, direcionando-a para a revolta. Solidariedade a todos aqueles que recentemente foram capturados pelo Estado, vocês estão em nossos corações e suas ações foram bravas.
Espero que possamos espalhar e continuar o momento dos recentes levantes diretamente mirando a polícia, o Estado e suas prisões, pois sem sua total destruição nós nunca seremos livres.
Pela destruição do Estado, suas jaulas e seus apoiadores.
Pela criação de algo melhor que qualquer coisa que eles jamais nos ofereceram.
Tradução > AnarcoSSA
agência de notícias anarquistas-ana
As cebolinhas
Lavadas e tão brancas —
Que frio!
Bashô
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!