Um membro do Anarchist Communist Group (ACG) escreve…
Às vezes, quando falo para as pessoas sobre anarquismo, elas são interessadas e têm a mente aberta. Outras vezes, as pessoas são evasivas. O que eu ouço muito destas pessoas é “Isso nunca vai funcionar”. O anarquismo é dispensado por estas pessoas no momento em que elas ouvem a palavra. Sempre me pareceu que essas pessoas não estão interessadas nos detalhes, na teoria, prática ou história. É como se elas pensassem que é bom demais para ser verdade – que uma alternativa a um Estado parlamentar centralizado não poderia funcionar. Para mim, apenas afirmar que os coletivos anarquistas durante a Guerra Civil Espanhola foram mais eficientes e democráticos do que o capitalismo não é suficiente. Por essa razão, esse artigo se propõe a mostrar que o anarquismo pode funcionar e é melhor e mais democrático do que qualquer tipo de capitalismo. Os quatro exemplos que eu apresento são do Peter Kropotkin Conquest of Bread (“A conquista do pão”), publicado em 1902, mas que é tão relevante hoje quanto quando foi escrito.
Um dos princípios fundamentais do anarquismo é o Livre Acordo. Isso significa que a comunidade se reúne, discute os assuntos e chega a um acordo. Esse acordo é então colocado em ação e não é lei, não precisa de ministros, vereadores, diretores ou gerentes. É uma comunidade de indivíduos que se reúnem para, digamos, reparar uma estrada ou ferrovia, ou qualquer outra coisa. Kropotkin nos conta que, de sua pesquisa o Sistema Ferroviário Europeu foi construído, não por um Ministro Europeu Ferroviário, ou comitê, nem com a ajuda de um único Estado ou governo oficial, mas pelo Livre Acordo. Não precisou de nenhuma interferência do Estado. Precisou apenas de pessoas que soubessem o que era necessário para construir uma ferrovia e quem a construísse. Reuniões foram realizadas, delegados (não-estatais) enviados e questões resolvidas com o Livre Acordo. As propostas foram encaminhadas para serem rejeitadas ou aceitas e uma rede ferroviária continental ficou operacional. Kropotkin escreveu:
“Se um homem tivesse previsto isso cinquenta anos atrás, nossos avós o teriam considerado idiota e louco.”
Você pode argumentar que foram apenas corporações e uma grande quantidade de dinheiro que conseguiram isso, mas o que impede uma comunidade empoderada e melhorada, que consistirá, sem dúvida, de todos os tipos de pessoas que poderiam, por exemplo, construir ou melhorar uma malha ferroviária, unir-se e fazer a sociedade funcionar organicamente? A pessoa comum é apenas impedida de alcançar tais coisas porque é impedida de possuir e controlar os meios de produção, pela força, pela lei, pelo Estado e suas corporações aliadas. O fato é que não somos comuns, se rompermos nossas cascas, estaremos suscetíveis à verdadeira civilização.
Kropotkin então passa a nos informar sobre o sistema de canal holandês, escandinavo e báltico, que (pelo menos na sua época) não precisava de nenhum governo para executá-lo sem problemas. O sistema de canal foi organizado por sindicatos, associações livres/voluntárias que surgiram das próprias necessidades de navegação. A maioria dos proprietários de barcos viu os benefícios de se juntar às guildas e elas se espalharam pelo Reno, Weser, Order, e até Berlim.
Vamos para outra organização que opera no que poderia ser descrito como uma conduta anarco-comunista, a English Lifeboat Association (Associação Inglesa de Resgate dos Náufragos). Uma iniciativa completamente livre que surgiu da necessidade, foi deixada aos voluntários para fundar essa organização brilhante que não dependia de hierarquia ou liderança de nenhuma forma. Na época, Kropotkin escreveu:
“Em 1891, a associação possuía 293 botes salva-vidas. No mesmo ano ela salvou 601 marinheiros e 33 embarcações. Desde a sua fundação foram salvos 33.671 seres humanos.”
Outra associação que funcionou de forma anarquista é a Cruz Vermelha. Não precisamos entrar em grandes detalhes aqui por causa do gigantesco sucesso e reputação desta organização. Antes dessa associação ser criada, considerava-se impossível e um absurdo utópico. Mais uma vez, o Livre Acordo, sem liderança, imensamente bem-sucedido. É verdade, no entanto, que os estados nação tentaram tomar essa associação para si mesmos, a observaram e a apadrinharam muito. Kropotkin, porém, viu o sucesso da Cruz Vermelha pelo que era:
“O sucesso da organização não se deve a esse patrocínio. É aos milhares de comitês locais de cada nação, à atividade de indivíduos, à devoção de todos aqueles que tentam ajudar vítimas de guerra. Essa devoção seria muito maior se o Estado não se intrometer nela.”
Portanto, esses projetos bem-sucedidos não foram alcançados pelas próprias organizações anarquistas. Eles, entretanto, utilizaram o livre acordo e desse modo pode-se dizer que desempenharam um papel significativo, especialmente nos últimos três exemplos. São trechos como esses da literatura e da história que me convencem que o anarquismo é uma alternativa real ao capitalismo e algo que pode mudar as coisas para melhor e isso me deixa orgulhoso de ser anarquista. Espero que este artigo lhe dê esperança e inspiração de que existe uma alternativa à bagunça em que o capitalismo nos colocou e que nós, os trabalhadores, somos capazes de grandes coisas.
Fonte: https://www.anarchistcommunism.org/2020/06/02/on-free-agreement/
Tradução > Brulego
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Millôr Fernandes
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!