Por Cristina Cobo Hervás, extraído do CNT nº 423
A educação é uma vocação. É uma dessas verdades absolutas, ou melhor, frases, sobre minha profissão. E não sei se estou pronta para aceitar a renúncia, a quase dedicação vaticanista, que esta pergunta implica. Porque eu sou uma MESTRA. E em meu aluno há dezenas de olhos que não questionam nada do que eu digo, apenas o que eu faço. Não há julgamentos imparciais porque as classes geralmente te amam apenas por colocar os pés na sala de aula. E esse perigo potencial, o do amor incondicional, é a janela de que precisamos para deixar entrar ar fresco na escola pública, herdeiro de cheiros e cartas sangrentas.
Já faz alguns anos que o termo “inteligência emocional” começou a ser ouvido no mundo educacional. A partir das teorias desenvolvidas na década de 80 por Wayne Paine, tornou-se popular graças ao livro homônimo de Daniel Goleman e começou a transcender o campo da psicologia para se inserir em outros, especialmente na educação.
Segundo Goleman, a Inteligência Emocional nos permite adotar uma atitude empática e social que nos proporcionará muito mais possibilidades de desenvolvimento pessoal, ajudando-nos também a tolerar pressões e frustrações profissionais e, da mesma forma, acentuando nossa capacidade de trabalhar em equipe.
Milhares de professores estão começando a desenvolver projetos e dinâmicas para implementar esta nova teoria na sala de aula. As emoções começam a estar presentes na prática diária, a ponto de começarmos a nos perguntar como temos sido capazes de evitar o desenvolvimento emocional em nossas aulas e sua influência na aprendizagem e evolução de nossos alunos.
E é aí que é necessária uma reflexão sobre o que a educação se tornou nas últimas décadas, se for preciso lembrar que o que é produzido na sala de aula não é apenas um ato pedagógico, mas um ato global, holístico, no qual trabalhamos com dimensões do ser humano, um ser social, em suma. O “sujeito da aprendizagem” que foi repetido em nossas notas universitárias tem sentimentos.
E paralelamente ao reconhecimento das emoções na sala de aula, as primeiras tentativas legislativas surgiram para inserir o conceito de igualdade na prática do ensino, da coeducação e da diversidade.
A evolução do sistema educacional em nosso país é um semblante de erros burocráticos e cargas legislativas que nunca conseguiram canalizar o massacre que os arquivos sobre a purgação do corpo docente da ditadura fizeram com as experiências pedagógicas do século XIX, deixando a educação nas mãos da igreja e dos militares aposentados com uma sensibilidade particular, pelo menos, para o fato educacional. Existem, naturalmente, antecedentes para esta luta, como o Congresso Pedagógico Hispano-Luso Americano de 1882, no qual as contribuições de Concepción Arenal e Emilia Pardo Bazán, entre outras, foram muito valorizadas:
“Pedimos, portanto (…) que as portas de todas as cadeiras, oficinas e escolas especiais sejam abertas às mulheres, para que elas possam se preparar para seu futuro, cada uma de acordo com sua vocação”.
E apesar dos progressos feitos durante a Primeira e Segunda República e da introdução de ideias anarquistas através, fundamentalmente, da figura de Ferrer i Guàrdia, o revés causado pela interferência da ditadura no mundo da educação ainda tem ecos em nossas classes.
Entretanto, este texto não tenta estabelecer nenhum tipo de estudo diacrônico sobre a evolução das políticas coeducacionais nas escolas, pois seria tão longo quanto enumerar todas as siglas da legislação sobre o assunto ao longo dos últimos 40 anos. Basta dizer que na Andaluzia, minha comunidade, o Plano de Igualdade é obrigatório para todas as escolas públicas e pseudoprivadas. Ele deve ser coordenado por uma pessoa que tenha a garantia de treinamento e que, ao final de cada curso, deve completar toda uma série de relatórios atenciosos sobre seu trabalho. E sim, está estabelecido que a igualdade deve ser um conceito transversal que impregne todo o currículo, mas a realidade é que não vamos além de arranhar a superfície do problema, inundando as escolas com laços roxos e brancos nos dois eventos de rigor relacionados ao projeto: 25 de novembro e 8 de março.
Apesar de termos mais e mais treinamento emocional, nossa intuição ainda nos falha. E os professores ainda não conseguem entender que a lacuna dos sonhos, aquele momento em que as meninas deixam de desejar ser algo mais do que apenas algo envolvido no mundo do trabalho relacionado ao cuidado, é um buraco que ajudamos a criar, especialmente porque nos recusamos a investigar e fornecer referências a nossos alunos. Todos os tipos de referências em todos os campos do conhecimento. E não querer fazer isso, não aperfeiçoar nossa prática para tornar nossas garotas completas e não meio-nadas, e deixar-se levar pelo modelo masculino predominante é trair a confiança e aquele amor incondicional de que estávamos falando antes. Porque nós, professores, somos os eixos de transmissão do patriarcado.
É verdade que é necessária uma revolução educacional. E o ponto de partida é a internalização do conceito de justiça social. Introduzir a realidade das desigualdades na sala de aula, experimentar as assimetrias que continuam a existir, fazendo-as experimentar a violência do insulto, aquela que degenera em feminicídio de mães, casais, amigos, abusos e agressões, não pode ser adiada ou protegida pelo fato de estarmos falando com pessoas pequenas.
O trabalho de uma coeducadora é solitário e cansativo, porque implica em tomar posição contra muitas pessoas, professores e famílias, que consideram seu trabalho uma aberração. Portanto, você tem que estar ciente de que o primeiro passo deve ser sempre desenhar a trincheira emocional onde você pode se proteger da crítica e dogmatismo da extrema direita, da ignorância e do analfabetismo funcional voluntário. Nós somos professoras. Nós somos janelas.
Para comprovar que a educação primária é possível:
https://genevalibera.wixsite.com/misitio/inicio/
https://blogsaverroes.juntadeandalucia.es/ceiprenidero/plan-de-igualdad/
Fonte: https://www.cnt.es/noticias/la-trinchera-coeducativa/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Sentada na grama
a menina chora,
orvalho de flor
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!