Uma das maiores diferenças que existem hoje em dia entre as pessoas que habitamos no mundo, e que de alguma forma ou outra nos determina, é a quantidade de dinheiro que possuímos. É o dinheiro mesmo como matéria física e metafísica a que reproduz esta diferença tão determinante e que inclusive, em algumas pessoas, os condiciona vitalmente a viver uma vida digna ou indigna. O dinheiro, a moeda, se converteu em uma necessidade vital, mais vital que a comida (ainda que a cédula não se coma), pois para obter comida se necessita dinheiro, um paradoxo contraditório e bastante decadente da modernidade.
No Chile, uma lei do Estado como muitas outras, outorgará dinheiro às pessoas, no entanto, esta lei diferente de outras, outorgará às chilenas e chilenos um dinheiro que por direito lhes pertence faz muito tempo, o qual, foi roubado durante uma ditadura milico estatal para criar uma nova elite burguesa que pudesse administrar o país. Quem foram os ladrões? Esta mesma elite burguesa criada por Pinochet e fundamentada nos Chicago Boys com seu paradigma neoliberal. Que se fez? Com este roubo a ditadura milico estatal consolidou as hierarquias econômicas que hoje nos governam (por exemplo: a família Piñera), mas pior ainda, as consolidou com dinheiro que pertenciam ao povo. Hoje em dia está em voga a retirada de 10 por cento das Administradoras de Fundo de Pensões (AFP) criadas em 1980 pelo irmão do presidente atual no Chile, se existe uma maneira de demonstrar a profunda determinação que significa o dinheiro em si mesmo para as pessoas, é este acontecimento. Este acontecimento nos demonstra duas coisas principalmente: uma, a necessidade vital que significa o dinheiro nas pessoas para manter uma vida digna, cômoda e sem grandes penúrias, e duas, a diferença entre os que tem mais e os que têm menos, mas inclusive pior: os que têm mais possuem mais porque tem nosso dinheiro investido em outros lugares, quer dizer, são ricos a nossa custa e por isso nos governam, seja política ou economicamente!
Como anarquistas propomos que o dinheiro deve ser abolido pois é inaudito que uma especulação determine nossa condição humana e não nos permita viver de uma forma digna. A única forma de abolir o dinheiro é fazendo-o desde uma batalha cultural, pois sem eliminar esse pensamento capital individualista, ainda que o dinheiro seja abolido a miséria seguirá existindo assim como o egoísmo e a propriedade privada, fatores que hoje se contradizem com o amor que promove a anarquia; naturalizada no bem estar humano das pessoas. Não obstante, tampouco somos cegos para o que acontece em nosso entorno e sabemos que o dinheiro das AFP nem sequer deveria pertencer a privados e menos ainda ao Estado, o fundo de pensões que antes pertencia às mutuais de socorros mútuos e mancomunais, quer dizer, organizações obreiras, após a imposição do código do trabalho em 1931 durante o período ditatorial de Carlo Ibáñez del Campo passaram às mãos do Estado do Chile, o qual, após grandes reformas, até o dia de hoje chegou a privatizar este dinheiro. Como anarquistas propomos que as AFP deveriam deixar de existir e o dinheiro passar às mãos dos trabalhadores e estudantes do país, já que, o dinheiro não é de privados, mas que da mesma gente que através de seu sacrifício, imposto por uma economia capitalista teve que realizar durante toda sua vida, menos ainda deveriam decidir os políticos que não nos representam o que se faz com esse dinheiro e não deveríamos agradecer a eles que nos entreguem migalhas que se convertem em nossa pseudo-riqueza com cheiro de fome, aquisição e consumo.
O que hoje em dia está fazendo o Estado de Chile é algo que devia ter feito há muito tempo, mas não nos enganemos, todos e todas sabemos que isto não eliminará a hierarquia econômica já imposta e criada com nosso dinheiro, pois para os donos das AFP, e todo seu monopólio cíclico, isto não será mais que uma crise financeira que com o tempo melhorará graças ao nosso trabalho, portanto, continuarão nos explorando e mentindo como o fazem hoje. Como anarquistas não nos deixamos enganar e sabemos que a história cor-de-rosa marcará esta lei como uma passagem a uma vida mais justa e digna, mas a história negra, marcada pela desumanidade da verdade, marcará esta lei como o que é: a mancha mais imunda do Estado chileno presidido por sua hierarquia econômica que, submetida ao império da lei e da especulação monetária, degrada a humanidade de todos e todas, escravizando-nos obrigatoriamente ao dinheiro por fome. Por último, é verdade que para qualquer ideologia a realidade é implacável, mas é melhor dar-se conta como estamos submetidos a acreditar que somos livres.
“Liberdade política sem igualdade econômica é uma pretensão, uma fraude, uma mentira; e os trabalhadores não querem mentiras.” – Mijaíl Bakunin
Que viva a anarquia, amor, solidariedade e fraternidade!
Sindicato Ofícios Vários Santiago
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Um trovão estronda –
e os trovõezinhos ecoam
na selva em redor.
Nenpuku Sato
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!