Duas macrofotos de tamanho real recordam o passado revolucionário da cidade
Os anarquistas sabiam muito bem que queriam explicar através das fotografias que encarregavam e pagavam a fotógrafos profissionais e militantes, que captavam a revolução que se propagou pelas ruas de Barcelona entre julho de 1936 e maio de 1937. Mas este episódio da memória recente era pouco conhecido, para que as fotografias, algumas rodeadas ainda de muitas questões, haviam saído pouco dos arquivos.
A exposição Gráfica anarquista. Fotografia e revolução social, 1936-1939, que se pode ver no Arquivo Fotográfico de Barcelona até 18 de outubro, e os dois livros que saíram do projeto, um já publicado e outro a ponto de sair à luz, ajudaram em parte a mostrar os rostos da revolução e a retaguarda.
Mas o Observatório da Vida Cotidiana, que com a Fundação Anselmo Lorenzo de Estudos Libertários e o Ateneu Enciclopédico Popular organizaram a exposição, queria que as fotografias ocupassem o espaço público. “Queríamos fazer um itinerário fotográfico que rememorasse o contexto revolucionário, recordar que Ciutat Vella foi o epicentro do estouro revolucionário durante a Guerra Civil, mas ao final só pudemos fazer duas instalações fotográficas”, diz o antropólogo e documentalista Andrés Antebi, do Observatório de Vida Cotidiana. Uma destas imagens ocupa a praça do negreiro (escravista) Antonio López e a captou Margaret Michaelis (Czechowice-Dziedzice, 1902 – Melbourne, 1985), uma fotógrafa de origem polaca que documentou a revolução promovida pelo anarquismo. A macrofotografia mostra trabalhadores com a estátua de bronze de Antonio López aos pés. A fundiram e fizeram balas.
Com o franquismo López voltou. O monumento acabou de ser restaurado em 1944 e em 1952 se acrescentou aos pés da parte frontal uma placa com versos da Atlántida de Verdaguer. O conselho retirou a estátua de Antonio López em 4 de março de 2018 mas deixou o pedestal. A praça, hoje sem a escultura, segue sendo chamada Antonio López apesar de que o conselho anunciou faz mais de dois anos que desapareceria do catálogo de nomes de locais, mas o TSJC declarou nula a multi-consulta sobre a mudança de nome.
“Escolhemos fotografias que pudessem dialogar com o presente”, diz Antebi. No caso da fotografia de Michaelis se enlaçam dois momentos em que López, no que em 1936 se batizou como o Negro Domingo, em alusão à fortuna supostamente feita com o tráfico de escravos, caiu do pedestal: “Agora a imagem da praça é como se tudo tivesse ficado no meio do caminho, segue havendo o pedestal e continua se dizendo praça Antonio López. Há a vontade de transformar mas não se terminou o processo, diz Antebi. Em 1936 o povo organizado atuou de maneira mais expedita”.
A outra fotografia é anônima e recolhe uma homenagem ao anarquista Buenaventura Durruti e a colocaram ante a sede de Fomento do Trabalho. Recorda que o edifício foi ocupado pela CNT e foi o centro de operações da revolução.
Paralelamente à exposição também se organiza “Una Revolución Detenida”, um itinerário de autor, guiado por Ricard Martínez, historiador e fotógrafo. “Depois de ver a exposição, vamos aos mesmos lugares onde ocorreram os fatos, de alguma maneira visitamos os restos daquela revolução através das fotografias e também do que fica da arqueologia que ainda é visível”, diz Martínez.
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!