Edições Crônica Subversiva. Porto Alegre 2020.
É a primeira versão em português de um livro que desde a década dos noventas vem enchendo de amor e ódio a quem o lê. Amor pela liberdade e ódio pelas prisões.
O autor, Xosé Tarrío, um anarquista que se faz tal sequestrado pelo estado espanhol, nos compartilha uma parte da sua vida, na que entra em prisão por um furto menor e termina encarcerado pelo resto da sua vida. Porém, ele é de aquelas pessoas que não decai na luta, que espalha cumplicidade e solidariedade, que nunca se submete, levando a dignidade aos extremos que nos torna seus cúmplices e odiamos, junto com ele, a cada carcereiro que procura humilhar os presxs.
O relato pessoal de Xosé Tarrío nos bate na cara com o retrato cotidiano das práticas miseráveis dos carcereiros e de todo o aparelho institucional que sustenta o sistema carcerário. Aí a importância de traduzi-lo, porque o cárcere aqui, e cada vez mais, está normalizado e se ampliando.
Ao estar cada vez mais normalizado, o sistema prisional termina por se inscrever nas valorizações cotidianas das pessoas que pensam, até sentem, a necessidade de que certo desequilíbrio, seja acidental ou proposital, seja restabelecido com anos de encerro daqueles que são considerados culpados; ativando fórmulas nada exatas com as que se calculam os anos de vida que pagam tal ou qual “injúria”.
Os julgamentos não procuram uma avaliação sobre um fato problemático, mas a construção de monstros sociais que “mereçam” ser jogados para longe da sociedade “ideal”. Omitindo as iniquidades sociais inerentes às rupturas e atos “criminosos”, como se fosse possível não tomar em conta a vontade de dominação, as procuras totalitárias, os moralismos hipócritas, todo o horizonte da desigualdade social, que são as que provocam a reação ofensiva que chamam crime. O cárcere, assim, se apresenta como o “destino marcado” para todo inconformado com sua condição (de escravo) na sociedade e que se rebela contra isso.
E Xosé Tarrío tem o acerto de nos lembrar da crueldade de habitar no seio dos que nada tem, o que ele vivencia desde seus primeiros anos de vida, e do preço duro e belo de não se render a nenhum desses destinos: nem escravo funcional, nem preso modelo. O livro é uma homenagem à fuga, e Xosé não se deixa abalar por tentativas frustradas…
Ao mesmo tempo, o livro é uma viagem para momentos importantes da luta contra as prisões.
Pela vigência da luta contra toda tirania e gaiola, alguns companheiros que bem conhecem e sentem as palavras de Xosé, participaram desta edição.
O Prólogo foi escrito pelo irredutível Gabriel Pombo da Silva, um companheiro de Xosé e de tantos outrxs anarquistas, que se encontra mais uma vez sequestrado pelo estado Espanhol por ser um digno inimigo dos “destinos sociais”.
Monica Caballero e Francisco Solar, recentemente presxs em Santiago do Chile, nos contam em Ampliando o olhar, sobre a atualidade do regime FIES na Espanha onde eles passaram 4 anos sequestrados pelo Estado.
E César, irmão de um dos presos assassinados no incêndio do Cárcere de San Miguel no Chile, em 8 de dezembro de 2010, colabora com esta edição com: Foge cara, foge, que temos mais do que 81 razões para lutar. César assim como Pastora Dominga González, a mãe de Xosé Tarrío, viraram guerreirxs contra o sistema penitenciário, da mesma forma como tantas pessoas que, desde fora, lutam por um mundo sem prisões, a partir da terrível experiência de ver um querido encerrado.
Todas essas colaborações são a vigência da comunicação cúmplice e afim entre aqueles que ao estarmos contra toda autoridade, vivemos na latente contradição de perder a liberdade lutando por ela.
É esperando que este livro deixe sua marca na pele, no coração, e, sobretudo na ação dos amantes da liberdade destas terras, que trazemos esta tradução, esse grito anticarcerário, e trazemos Xosé Tarrío, no seu passo guerreiro pela vida sequestrada pelo Estado.
Pela libertação total. Contra todas as prisões!
Porque toda tentativa de fuga é um ato de liberdade.
Porto Alegre
Primavera 2020
Apresentações em Porto Alegre e Blumenau.
A todos as pessoas interessadas no livro e na sua difusão e apresentação (feiras, distros, sebos, coletivos, espaços e individualidades) convidamos a nos escrever e contatar no e-mail: cronica-subversiva@riseup.net
agência de notícias anarquistas-ana
escreve
a tinta se esvai
o mar se expande
Seferis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!