Por Maurice Schuhmann
Como um dos maiores erros do anarquismo, Gaston Leval descreveu uma vez a tentativa dos anarquistas de interpretar o termo “anarquia”, que se usou negativamente nesse momento, positivamente. Ao contrário de outros movimentos sociais, o anarquista nunca conseguiu se desfazer do toque negativo. Como no passado, “anarquia” e “anarquismo” estão associados hoje com a desordem (“caos”), o terror e a violência. Em consequência, as manchetes jornalísticas do tipo “Há anarquia em xxx” podem se encontrar nos jornais de todas as partes.
A autodenominação “anarquista” remonta ao socialista francês Pierre-Joseph Proudhon, que em um diálogo fictício com seus leitores no transcurso de sua obra O que é a propriedade? Escreve:
“- És republicano?
– Republicanos, sim, mas a palavra não diz nada definitivo. República significa o bem estar coletivo, agora quem o queira, independentemente da forma de governo, pode chamar-se republicano. Os reis também são republicanos.
– Bom, então, és democrata?
– Não.
– Que! Então és monarquista!
– Não.
– Constitucionalista?
– Deus me salve disso.
– Então és um aristocrata?
– De nenhum modo.
– Estás a favor do governo moderado?
– Muito menos.
– Então que és?
– Sou anarquista.”
Proudhon provavelmente brincou com o uso pejorativo do termo utilizado na Revolução Francesa. Nesse momento era uma má palavra para o oponente político respectivo.
O termo, que reinterpretou positivamente, se converteu rapidamente em uma autodesignação no século XIX, apesar de todas as dificuldades. Depois de tudo, Proudhon era considerado o antepassado indiscutível da corrente no anarquismo social e individualista clássico, apesar de todas as críticas posteriores a ele. O anarco-comunista russo Peter Kropotkin mais tarde lhe outorgou o título honorífico de “Pai da Anarquia”, enquanto que o anarquista individualista estadunidense Benjamin R. Tucker utilizou uma declaração de Proudhon para o subtítulo de sua revista Liberty.
Além do termo “anarquista”, o termo “libertário” foi discutido como uma autodesignação em meados do século XIX. Foi criado em resposta a Proudhon como neologismo por Joseph Déjacque, um publicitário e autor em grande parte esquecido. Como conceito, se opõe ao liberalismo e foi divulgado pelo jornal Le Libertaire desde 1858. Outros editores anarquistas mais tarde nomearam seus cabeçalhos em consequência, incluído Sébastien Faure. Especialmente no espectro anarco-comunista, a criação dessa palavra caiu em terreno fértil.
Em países de fala francesa e espanhola, este termo é geralmente sinônimo de “anarquista”. A escolha do apelido tem que ver em parte com a percepção negativa do termo “anarquista”. O fato de que este termo também pode causar confusão se demonstrou na tradução ao alemão de um documentário de arte sobre a revolução espanhola, onde se chegou a dizer que a CNT havia lutado pelo comunismo liberal (sic!). Nos países de fala inglesa, o termo “libertarian” se usa quase só em relação com os anarco-capitalistas. Neste contexto, libertário em última instância só significa radicalmente “liberal econômico”. Um exemplo deste uso é o título do livro de Stefan Blankertz Manifesto Libertário ou a designação de liberais por empresariais estadunidenses como Robert Nozick como libertários. No espectro da cena alemã, o termo é geralmente mais amplo que “anarquista”, quer dizer, também inclui correntes e ideias relacionadas com o anarquismo (clássico). Isto se pode ver, por exemplo, na rotulagem paradoxal de pensadores individualistas como “marxistas libertários”. Também assinala superposições com o adjetivo “antiautoritário”, que não pode contar-se unicamente como anarquismo. Este é também um conceito de luta que Friedrich Engels escolheu como título para a ala não marxista na Associação Internacional dos Trabalhadores. Também na área da educação, tampouco parece claro seu significado.
Com essa carga de um termo que os anarquistas tivemos conosco desde os dias de Proudhon, nunca se devem usar as seguintes linhas do poema “Anarchy” de Mackay!:
“Mas tu, palavra, tão clara, tão forte, tão pura, que dizes tudo pelo qual estou ansioso, te dou o futuro! Esse futuro é teu, quando todos finalmente despertem”.
Início de inverno —
Minha filha de dois anos
Ensino a usar “hashi”
Gyôdai
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!