Por Christopher Arnott | 11/11/2020
Jerimaie Liesegang, que faleceu de câncer em 3 de novembro, aos 70 anos, era uma incansável defensora dos direitos trans, em Connecticut. Hoje, ela é lembrada nas redes sociais e nas ruas, com homenagens radiantes realizadas pela comunidade trans de Hartford que ajudou a transformar.
Liesegang era ativa em diversas organizações LGBTQ, antes de decidir se concentrar na comunidade trans local. No início dos anos 1990, ela fundou a “It’s Time Connecticut” (“Está na Hora, Connecticut), organização precursora da atual Coalizão Trans Advocacy Connecticut, que organiza a conferência anual “Vida Trans: A Intersecção Entre Saúde e Legislação”.
Ela também fundou a organização política Queers Sem Fronteiras, em oposição ao posicionamento dos EUA no Afeganistão e Iraque.
Liesegang foi a força por trás de alguns dos eventos que formaram a História LGBTQ de Connecticut. Marchou na primeira parada de orgulho LGBTQ de Hartford. Ajudou, junto com sua esposa, Anja Schaedler, a iniciar em Connecticut a celebração do Dia da Memória Trans, em 2002, meros quatro anos após a primeira celebração, em Boston, e antes mesmo de se espalhar para o resto do país.
Seu feito de mais orgulho, como contam os que a conheciam, foi a emenda do Ato Público de Connecticut No 11-55 No Que Diz Respeito À Discriminação, adicionando “identidade e expressão de gênero” à lista de protegidos. Liesegang lutou por uma lei antidiscriminação contra pessoas trans por mais de dez anos, até que finalmente fosse assinada pelo Governador Dannel P. Malloy, em 2011.
Liesegang também escreveu extensivamente sobre assuntos trans, inclusive como contribuinte da revista LGBTQ de Hartford, Metroline. Seus escritos até hoje inspiram: ainda este ano, a Youtuber ativista anarquista trans, Skylar Szabo, entrou online para ler o ensaio “Tirania do Estado & Libertação Trans”, escrito por Liesegang para a antologia “Queering Anarchism: Addressing and Undressing Power and Desire”, publicada em 2012.
Em uma longa entrevista para uma turma de Sociologia dos Estudos de Gênero da Central Connecticut State University, gravada no site mediaspace.ccsu.edu, Liesegang conta como foi trabalhar em um barco de pesca na adolescência e, mais tarde, se tornar cientista (com diplomas das universidades de Notre Dame e de Harvard). Em Hartford, onde desabrochou como uma mulher trans e uma incansável ativista, ela lutou contra práticas de contratação discriminatórias e conseguiu um trabalho na Companhia de Seguros de Hartford, onde permaneceu por 20 anos.
Diana Lombardi, diretora executiva da Coalizão Trans Advocacy Connecticut, diz que Liesegang ainda atuava no conselho da coalizão quando faleceu. A organização foi formada, em parte, como resposta aos legisladores federais, que sugeriram que uma mudança nacional era mais difícil de acontecer sem que houvesse mudança local primeiro.
O dramaturgo Jacques Lamarre conheceu Liesegang enquanto cineasta, através de sua conexão com o festival de cinema Out Film CT. Lamarre conta que “Em 2004, a Out Film CT exibiu seu filme ‘Enquanto Paris Queimava, Hartford Fervia’, um documentário sobre a crescente cena drag e de balls em Hartford nos anos 1990. Foi a última vez que o festival encheu a lotação do Cinestudio e tiveram que mandar pessoas embora.
“Diferente da Out Film CT e seu documentário, eu pude dirigi-la como atriz em ‘Eles Tiraram a Garota de Dentro do Meu Garoto… Ou Pelo Menos Tentaram’, a visão trans do [monólogo feminista de Eve Ensler] ‘Monólogos da Vagina’, no Centro Cultural de Charter Oak, em 2005. Ela também participou e ajudou a organizar o bate-papo pós-show sobre representação trans em ‘Hedwig – Rock, Amor e Traição’, [no verão de 2003].
“Jerimarie era doce e falava mansinho, mas também foi uma potente e corajosa ativista. Ela era uma ativista antigona e fez muita coisa por direitos e proteção trans no estado, através da CT Trans Advocacy.”
Um dos seus amigos mais antigos e queridos, Richard Nelson, ajudou Liesegang a terminar diversos projetos documentais ainda esse ano. Ele diz que “Ela ia fazer quimioterapia, então parava de trabalhar por mais ou menos uma semana, mas logo volta ao trabalho de novo. Ela era fantástica. Era 24 horas por dia, 7 dias na semana com ela: trabalho em tempo integral na Trans Advocacy, além de todos os outros assuntos que faziam parte de sua luta. Eu não tenho ideia de como ela fazia tudo. Ela tinha um montão de panelas no fogão.”
Nelson tem um longo, envolvente e emocionante tributo para Liesegang em seu blog furbirdsqueerly.wordpress.com. Para explicar o ativismo de Liesegang, ele cita a ativista de direitos civis de negras e lésbicas, Audre Lorde: “Não existe uma luta de um só tema, porque não vivemos vidas de um só tema.” Para Liesegang, Nelson diz que “todos os temas eram nossos temas. Ela ia trabalhar com outros grupos oprimidos. Ela dizia, ‘A gente não pode esperar um novo dia, esperar a revolução acabar. A gente tem que lutar por questões de sobrevivência imediata, mas também temos que ir além disso.”
Nelson se lembra de como, durante sua luta pela lei de identidade de gênero, Liesegang “teve de colocar de lado suas crenças pessoais no anarquismo, subir no salto e vestir um vestido bem bonito, no lugar das camisetas e jeans que ela preferia” para se encontrar com políticos. Ele também se impressiona com “o fim de semana que Jerimarie passou na cadeia em Washington D.C., por protestar contra as condições na Baía de Guantánamo.”
Um dos principais momentos em sua carreira conjunta no ativismo foi quando “nós estávamos em um protesto contra a guerra em 2002”, ele lembra, “e sempre que falavam sobre os grupos que estavam lá se opondo à guerra, deixavam de fora a comunidade LGBT. Nós trouxemos isso em nossa fala e uma mulher apontou pra gente e disse, sem papas na língua, que ‘eu não sabia que vocês, gays, se interessavam que outras coisas além de casamento.’ Eu queria atacar ela, mas Jeri disse, ‘não, a gente tem que mostrar a eles no que a gente acredita.’ Foi assim que formamos o Queers Sem Fronteiras.
“Não dava pra perceber que ela era tímida. Ela nunca quis realmente um holofote só pra ela. Ela não queria essas coisas. Ela tinha esse fantástico entendimento sobre as pessoas, e também tinha um maravilhoso senso de organização. Ela era a resposta para minhas preces queers.”
Em 10 de novembro correu um obituário feito por seus amigos na comunidade LGBTQIA. Além de diversos registros no blog de Nelson, furbirdsqueerly.wordpress.com, outros tributos podem ser encontrados em socialinsurgence.ord, nas páginas de Facebook da GLAAD, da Hartford Gay & Lesbian Health Collective, do New Haven Pride Center e muitas outras.
Em 18 de novembro, ao meio-dia, no Filley Park, na cidade de Bloomfield, a Brigada de Auto Defesa vai realizar uma live em tributo a Liesegang, honrando sua vida como “uma destemida guerreira pelas pessoas trans e por justiça social.”
Um tributo invencível e inigualável apareceu em uma parede no Parque de Skate Heaven, em Hartford, como um bastião da livre expressão. Foi pintado, horas após o anúncio do falecimento de Jerimarie Liesegang, no dia 3 de novembro, um símbolo que mistura a libertação trans e o anarquismo, junto a essas palavras: “Jerimarie Liesegang. Mulher trans, revolucionário e anarquista. Descanse em poder.”
Tradução > kai
agência de notícias anarquistas-ana
Inebria a rua —
perfume de gardênia
É primavera
Elnite
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!