Proeminente no pôster para a nova prequel de “101 Dalmatas”: um “A” em um círculo. Isto não está indo bem.
Por Kelly Weill | 18/02/2021
Cruella de Vil é elegante, sugere a nova campanha publicitária do filme da Disney. Ela é rica. Ela tira a pele de cachorros para se vestir. Ela é uma anarquista.
Espera aí, dizem os anarquistas de verdade. O quê?!
O próximo filme da Disney, Cruella, é uma prequel live-action de 101 Dálmatas, um clássico da animação sobre um vilão enlouquecido que sequestra cachorrinhos para que ele possa vestir suas peles. Estrelando a atriz Emma Stone, o filme tenta explicar exatamente qual é o problema da Cruella de Vil.
Proeminente no pôster está um símbolo comum anarquista: um “A” em um círculo.
Essa é uma notícia indesejável para os anarquistas, que afirmam que seu movimento é declaradamente a favor da libertação animal. Embora ninguém queira ser associado com caçadores de cachorrinhos, a associação é um tapa na cara a mais para pessoas que dizem que realmente se esforçam muito para promover os direitos dos animais.
Ryan Only, um vegano de longa data e membro do grupo de relações públicas anarquista Agency, disse ao The Daily Beast que o veganismo é comum no movimento político.
“Para muitos anarquistas, praticar o veganismo – abster-se de apoiar a exploração ou o uso de animais para comida e outros fins – é vista como uma base para viver uma vida ética”, eles disseram, sugerindo que era “com um espírito semelhante daqueles que praticam um compromisso com o anti-racismo ou anti-sexismo”.
“Se trata de demonstrar através da ação, uma consistência entre meios e fins”, acrescentou Only. “Se acreditamos em um mundo sem opressão, precisamos nos desmontar e nos desvencilhar dos sistemas que são responsáveis por ela”.
Apenas apontamos para uma longa tradição de zines veganos e potlucks (“festa americana”) nos espaços anarquistas e a participação conjunta nas ações contra as indústrias de peles e instalações para testes em animais.
Os anarquistas se opõem às hierarquias: as mais famosas o governo e as disparidades de classe, mas frequentemente entre espécies também. Isso pode fazer com que comer um bife – muito menos abater filhotes – seja um ato controverso no movimento.
O Conselho de Coordenação Anarquista Metropolitano (Metropolitan Anarchist Coordinating Council), um coletivo baseado na cidade de Nova York, disse ao The Daily Beast que seus membros não queriam nada com a vilã da Disney – ou melhor, nem com o próprio Walt Disney.
“A figura de Cruella, uma narcisista e sádica obcecada pelos ares de riqueza e luxo, fica na direção contrária aos princípios anarquistas de coletivismo, anticapitalismo e proteção de todas as formas de vida (humana, animal e ecológica)”, disse a porta-voz do MACC (sigla em inglês para Conselho de Coordenação Metropolitana Anarquista), Keira Anderson, ao The Daily Beast. “Nós também dirigimos nossa critica para a própria Walt Disney, uma corporação oligárquica que mantém visões anti-sindicalistas, sexistas e racistas e há rumores de ter sido uma simpatizante nazista. Como antifascistas comprometidos, nós condenamos o mau uso dos símbolos anarquistas e o desrespeito de nossa orientação social e política no projeto desse filme”.
As relações de Walt Disney com os nazistas estão em debate há muito tempo, com ele recebendo uma cineasta nazista em seu estúdio, mas depois fazendo filmes anti-nazistas para o governo do Estados Unidos. A Disney, empresa de cinema, não respondeu um pedido para um comentário sobre se a Cruella de Vil era canonicamente uma anarquista. A descrição oficial da empresa para o filme descreve-o como “ambientado em Londres dos anos 1970 em meio à revolução punk rock”.
Mas mesmo se Cruella foi uma punk “hardboiled” dos anos 70 no Reino Unido, ela não seria necessariamente uma assassina de cães.
Joe Strummer, guitarrista da banda The Clash e um dos punks mais famosos da época, se tornou um vegetariano fervoroso após testemunhar uma cena perturbadora em um show dos anos 70. Durante um show em 1971, ele viu a amada galinha de estimação de um músico voando sobre um crucifixo, que estava prestes a ser incendiado.
“Todos nós na audiência vimos Hector, o galo de estimação no crucifixo, e ainda assim os roadies estavam tentando desesperadamente acender seus fósforos contra o vento. Todos começaram a gritar, mas os roadies não ouviram”, Strummer disse em entrevistas décadas mais tarde. Eventualmente o galo foi resgatado e seu dono fez um discurso improvisado pedindo a multidão para lembrar do incidente “na próxima vez que você comer frango frito no Kentucky Fried Chicken (KFC).”
A mensagem pegou, e Strummer desistiu de comer.
Raras vezes nos filmes de heróis de grande orçamento, os anarquistas parecem ter entrado em conflito especialmente com a Disney nos últimos anos. Em Falcão e o Soldado Invernal, futura minissérie da Marvel Comics, propriedade da Disney, há rumores que seu foco é um conflito entre os amigos do Capitão América e um grupo anarquista chamado de “Flag-Smashers”.
O trailer de Cruella pode ter a estética punk-rock, mas Cruella de Vil provavelmente não está interessada em teoria política não-hierárquica.
“No trailer, parece que Cruella de Vil está desafiando a noção do que significa ser uma mulher no mundo semeado de caos e exercer seu poder pessoal”, disse Only. “Mas é improvável que a personagem realmente veja a si mesma como uma anarquista. Em vez disso, ela parece ser apenas mais um exemplo em que o status quo tenta descartar qualquer ameaça a si mesmo como o caos e, em seguida, define caos como anarquia”.
Fonte: https://www.thedailybeast.com/anarchists-tell-disney-that-cruella-de-vil-cant-sit-with-us
Tradução > Brulego
agência de notícias anarquistas-ana
barro já seco
por pegadas de sapato
passeiam formigas
Jorge B. Rodríguez
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!