A última estátua do ditador espanhol Francisco Franco (1892-1975) foi removida nesta terça-feira (23/02) dos portões da cidade de Melilla, cidade autônoma que pertence à Espanha e está localizada na costa noroeste da África.
Sem muito alarde, um grupo de trabalhadores operou uma escavadeira mecânica e brocas pesadas para remover pedaços da plataforma de tijolos sobre a qual estava a estátua de bronze.
Depois, o monumento foi erguido por uma corrente em presa em volta do que seria o pescoço de Franco e carregado envolto em plástico-bolha por uma caminhonete. Segundo autoridades de Melilla, a estátua foi levada para um armazém municipal, mas o uso que será feito dela não foi especificado.
Erguido em 1978, três anos após a morte do ditador, o monumento celebrava o papel de Franco como comandante da Legião Espanhola na Guerra do Rif, um conflito na década de 1920 em que Espanha e França lutaram contra tribos berberes no Marrocos.
“Este é um dia histórico para Melilla”, disse Elena Fernandez Trevino, responsável ela educação e cultura na cidade, na segunda-feira (22/02), depois que a assembleia local votou pela remoção do monumento, apontando que era “a única estátua dedicada a um ditador ainda na esfera pública na Europa”.
Apenas o Vox, partido da ultradireita espanhola, votou contra a medida. Seus representantes argumentaram que a estátua celebra o papel militar de Franco, não sua ditadura.
Segundo o Vox, portanto, a Lei da Memória Histórica, que determina a remoção de todos os símbolos ligados ao regime de Franco, não se aplicaria a este caso. O Partido Popular, conservador, absteve-se de votar.
A lei foi aprovada em 2007, durante o governo liderado pelo socialista José Luis Rodríguez Zapatero. Além de remover monumentos da ditadura no espaço público, a legislação também prevê a renomeação de várias ruas dedicadas a figuras do franquismo.
O atual primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, fez da reparação e da reabilitação das vítimas do regime de Franco algumas de suas prioridades desde que assumiu o governo, em 2018.
Depois de uma longa disputa com os descendentes do ditador, o Executivo espanhol retirou os restos mortais de Franco de um enorme mausoléu nos arredores de Madri, onde ele havia sido sepultado, e os transportou, em outubro de 2019, para um discreto nicho familiar em um cemitério da capital.
O processo teve muito simbolismo porque o monumento se tornou um lugar de exaltação do franquismo – e nenhum outro país da Europa Ocidental tem espaços semelhantes dedicados a homenagear ditadores.
“A Espanha moderna é produto do perdão, mas não pode ser produto do esquecimento”, disse Sánchez, à época. “Um tributo público a um ditador era mais do que um anacronismo. Era uma afronta à nossa democracia.”
Em setembro de 2020, a Justiça espanhola ordenou a seis netos de Franco que devolvessem ao Estado um palácio em Sada, na Galícia, no noroeste do país, do qual a família desfrutava havia décadas.
O palácio havia sido doado por sua proprietária e adquirido por um órgão franquista em 1938, em plena Guerra Civil espanhola (1936-1939). Após o conflito, o ditador comandou o país até sua morte, em 1975.
Na sentença, o tribunal declarou a nulidade da doação de 1938, uma vez que a propriedade foi doada “ao chefe de Estado, não a Francisco Franco a título pessoal”.
Nascido em Ferrol, na Galícia, Franco foi um ditador que defendia ideias nacionalistas e fascistas. Como general, fez parte de um movimento de militares e conservadores que tentou dar um golpe contra um governo de esquerda, em 1936.
O golpe falhou, mas deu início à uma guerra civil. Franco comandou uma ofensiva militar para dominar o país e teve apoio da Alemanha nazista e da Itália de Mussolini. Do outro lado, os republicanos receberam ajuda da União Soviética e de defensores do comunismo. O conflito deixou centenas de milhares de mortes ao longo de três anos, em lutas armadas e execuções sumárias.
Quando assumiu, Franco implantou um regime que concentrava o poder em suas mãos de forma absoluta. Houve perseguição a opositores, censura e culto à sua imagem, além da defesa do catolicismo e de manutenção dos costumes. Após sua morte, a Espanha deu início a uma transição para retornar à democracia.
Fonte: agências de notícias
agência de notícias anarquistas-ana
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