Por União dos Verdes Libertários
No mundo inteiro, autoridades, quer fossem chefes de Estado ou líderes religiosos, tentaram – e conseguiram – muitas vezes censurar a arte. Nos dias sombrios da história, na época dos regimes de extrema direita, a arte foi um dos primeiros alvos dos governos. Pois, como disse Ronald Harwood, “só as tiranias percebem o poder da arte”.
Na Grécia, durante o fascismo, um dos critérios “proibitivos” era a presença de nudez nas pinturas, que eram quer proibidas de exposições (como os nus de Dekoulakos que eram consideradas em 1973 como ofensas à decência pública pelos visitantes e pela polícia), quer destruídas (como as de Hatzinikos que foi condenado em 88). Além disso, as cenas eróticas ou de nudez eram consideradas ofensivas e, portanto, proibidas mesmo nos filmes dos anos 70.
Durante a ditadura, livros de autores como Dostoievski, entre outros, e o ensino do Epitáfio de Péricles de Thucydide, da República de Platão e do Antígono de Sófocles foram proibidos por causa de suas ideias subversivas. Os livros considerados uma afronta à religião ou à pátria deixaram de ser publicados e seus autores foram presos. Além disso, as canções de Theodorakis tiveram sua difusão proibida, porque eram vistas como “perigosas”, assim como outras – com letra revolucionária ou anarquista/de esquerda – como as obras do poeta Ritsos. Nos anos 80, filmes com conteúdo político foram censurados, como “O Homem com o Cravo”, sobre Belogiannis, ou outros que ofendiam a religião, como “A Última Tentação” de Kazantzakis.
Agora, em 2021, nossas autoridades decidiram, seguindo uma diretiva europeia, restabelecer a censura na arte com uma nova lei que proíbe de publicar na Internet qualquer material de um criador(a)-artista ou qualquer usuário(a), se “incluir incitação à violência ou ao ódio e incitação pública a um crime terrorista, caso contrário ele ou ela será processado.”
Quem decidirá o que constitui incitação à violência, uma vez que artistas já foram presos na Europa por forças especiais por letras que diziam “Não conseguirão me dobrar”, porque viram isso como incitação ao terrorismo? Isto lembra bastante a proibição, durante a Junta, de músicas por letras perigosas ou referências à polícia. Além disso, críticas às políticas de outros países fizeram com que vários(as) artistas fossem processados por expressarem “ódio político” contra aqueles países. É óbvio que esta lei é suficientemente vaga para que possam censurar qualquer coisa que vá contra a ideologia do Estado e a propaganda de países seguros com democracia policial e cidadãos pacíficos.
Chegarão ao ponto de dizer novamente que palavras, pinturas, filmes, literatura são perigosos? Que incitam e seduzem? Que podem inspirar? Pois é o que fazem. Toda arte foi, é e será perigosa. Porque tem o poder de trazer mudanças. Uma ideia se tornar discurso, poesia, pintura, livro, filme. E pode, por sua vez, alimentar a esperança, gerar raiva, revolução, criar liberdade. Porque a arte é a forma mais sincera de pensamento humano que pode falar profundamente aos corações e mentes de toda a sociedade. A arte pode invadir sem armas, sem violência, sem política e sem retórica, porque é uma das armas mais perigosas. E todas e todos os artistas sabem disso. Assim como os líderes. Se têm medo da arte, vamos mostrar-lhes o quanto estão certos.
Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1610332/
Tradução > Alainf_13
agência de notícias anarquistas-ana
ipê amarelo
até a calçada
floresce
Ricardo Silvestrin
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!