Por Elena Martínez | CNT Sierra Norte
Uma invasão consentida. Assim dizem elas, eles, elxs. As/os/es companheirxs Zapatistas. Vêm à Europa para compartilhar, para dar uma volta nesse patamar da vida que se enrosca no capitalismo e no patriarcado uma e outra vez. Querem fazer o caminho de volta cruzando o Atlântico para nos trazer sua revolução. Para nos contagiar dessa rebeldia que soma e essa resistência que cresce. E se em algo querem nos conquistar, é em construir um mundo em que caibam muitos mundos, porque sabem que isso não impede de somar, entrar em consensos, construir espaços comuns. Odeiam as guerras. As violências. Sua arma é a palavra.
Esta pandemia que nos tem amarradas não lhes importa, mas seguem todas as precauções próprias de quem sabe cuidar da saúde coletiva. Estão em quarentena durante quinze dias na réplica da embarcação que construíram na “sementeira Comandanta Ramona”.
As dificuldades que envolvem cruzar o oceano Atlântico em um cargueiro tampouco as/os/es detiveram. Vêm com seu olhar no horizonte para levar para longe, o mais longe possível, seu pensamento, esse que vive no coração. E para compartilhar também o nosso.
Aos 20 anos da Marcha da Cor da Terra, Zapatistas, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e o Congresso Nacional Indígena (CNI), entre os que se encontra a Frente de Povos em Defesa da Água e da Terra de Morelos, Puebla e Tlaxcala, vem “para dizer ao planeta que, no mundo que sentimos em nosso coração coletivo, há lugar para todas, todos, todoas. Simplesmente porque esse mundo só é possível se todas, todos, todoas, lutamos para levantá-lo”.
Vêm “buscando não a diferença, não a superioridade, não a afronta, muito menos o perdão e a lástima”. Vêm para encontrar o que nos faz iguais, para compartilhar conosco esse sonho comum que desde sempre a humanidade teve: a busca da justiça, da igualdade, da liberdade e da solidariedade.
Na casa de trinta países europeus se preparam para recebê-lxs. Desde que se conheceu a notícia, coletivos de toda Europa estão se organizando, e desde Outubro do ano passado se preparam agendas, financiamentos, espaços e atividades. Esta Revolução que foi possível, que segue viva, quer ampliar horizontes. Acender essa chama que ponha fim a um sistema depredador que nos afoga. Querem colocar a Vida no centro, e falam de Humanidade. Querem que essa chama que acenderam naquele primeiro de janeiro de 1994 se estenda como um caminho de pólvora por toda a superfície deste mundo impossível que caminha ao desastre. E seu grito tem a voz da Terra e ao sabor da esperança.
“Escutaram? É o som de seu mundo caindo. É o do nosso ressurgindo”.
Organizadxs em territórios, desde a península ibérica, centenas de coletivos se coordenaram nesta aventura, e abaixo e à esquerda, aprendemos e desaprendemos a entrar em consensos, a dividir a trabalhar no melhor dos ideários do zapatismo, e nesse caminho se desperta a consciência e se avivam as ânsias de revolução.
Também participamos muitas companheiras e companheiros da CNT. Desde a Regional de Extremadura com cinco sindicatos. Cáceres-Norte, Cáceres, Trujillo, Badajoz e Mérida. De Catalunya-Balears, Premiá, Sabadell y Cornellá de Llobregat e comarca. Em Madrid, Comarcal Sur, Aranjuez, Sierra Norte e o núcleo de Colmenar Viejo. O Sindicatos de Aragón-Rioja, Huesca, Zaragoza, Teruel, Fraga, e CNT Málaga, CNT Miranda, CNT Burgos e CNT Sabadell. Vinte sindicatos e um núcleo.
Sabendo que xs compas preferem “uma tour pelas ruas e bairros onde A libertária enfrenta ao fascismoem suas diferentes acepções, assembleias comunitárias e sindicais, bairros e fábricas, acampamento de imigrantes, conhecer os povoados da Espanha esvaziada, as zonas rurais, os esforços na defesa da natureza, as lutas contra megaprojetos e contra todo tipo de imposições em nome ou não do progresso e da civilização”, esperamos vocês com inquietação e muita alegria. Com vontade de dividir e praticar de tudo em comum, desse mundo novo que levamos em nossos corações.
Foram muitos meses de assembleias, mas aqui estamos, e este próximo 3 de maio zarpa por fim a primeira delegação Zapatista desde Isla Mujeres, Quintana Roo, México. No esquadrão 421. Sete compas, sendo quatro mulheres, dois são humens e uma é outroa. Lupita, Carolina, Ximena e Yuli. Bernal e Darío. Mas será Mariajose quem primeiro pisará nesta terra a torto e a direito. E o sub Galeano fazia uma piada sobre o que gritará Mariajose primeiro ao pisar o solo europeu: “Rendam-se caras pálidas hétero patriarcais que perseguem o que é diferente!!”
E vêm até esta terra que é sua meta sem duvidar e com um sorriso. Olhando para o horizonte onde sai o sol do oriente. Navegando em La Montaña, que é como se chama o cargueiro em que zarparam rumo a nossas costas. Pela metade do mês de junho chegarão às costas galegas.
Uma montanha navegando a contrapelo da história. Para semear sementes de liberdade. Para que se desperte de uma vez por todas a consciência coletiva e se abandone o individualismo e a submissão desta Europa esquizofrênica.
Esperamos vocês. Não duvidamos que sairá o arco íris sobre todo o planeta Terra e se escutará um grito unânime de despertar. Boa viagem, companheirxs! Esperamos vocês!
Tradução > Caninana
agência de notícias anarquistas-ana
Roupa no varal —
O brilho da lua se estende
entre os grampos
Alvaro Posselt
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!