O arquiteto que ficou a cargo da ampliação da zona da Marina de Calafell aplicou conceitos modernos para a época.
Por José M. Baselga | 17/03/2021
Em meados dos anos 30 se vislumbrava em Calafell um exemplo de “cidade linear”. Um traçado de ruas paralelas onde – em uma ponta – estava el sanatorio Sant Joan de Deu (hoje é o hotel Ra Beach Thalasso-spa) que, entre outras coisas, servia de hospital para as crianças, moradores locais e também era uma espécie de centro social para os cidadãos de toda Calafell. Já – na outra ponta – estavam las Colonias de Vilamar, um grandioso e moderno centro educativo de autogestão infantil que serviu de exemplo para toda Espanha na época. Entre esses dois pontos estava a estação ferroviária municipal.
Esse modelo de cidade surgiu de um conceito anarquista do arquiteto Eugeni Duran, que chegou a Calafell para ser professor de engenharia de minas, e acabou indo trabalhar como arquiteto para a prefeitura local (ele tinha formação nas duas áreas).
No entanto, sua carreira profissional começa trabalhando na companhia Riesgos y Fuerzas Eletricas del Ebro, mais conhecida como “La Canadiense” (A Canadense). Ele foi um dos responsáveis pela extensão das linhas elétricas da cordilheira dos Pirineus, norte da Catalunha (divisa com a França, onde há hidroelétricas) até Torredembarra (sul da Catalunha), onde conheceu e se casou com a assistente de um açougue local.
A testemunha de toda historia aqui relatada, Modest Duran, nasceu dessa união. Por curiosidade, vale citar que o anarquista Modest, com 20 anos de idade, foi um dos “líderes” que lutou na guerra civil espanhola (1936-1939) ao lado dos “republicanos” (uma conveniente junção entre anarquistas e comunistas) contra os “nacionalistas” do ditador fascista Francisco Franco.
Mas enfim, Eugeni vivia os tempos da primeira grande guerra (1914-1918), na qual um dos donos da “La Canadiense” morreu no afundamento do vapor Lusitânia, que foi atacada por submarinos alemães. Alguns meses depois, desencadeou a histórica greve dos trabalhadores de companhia no inicio de 1919, uma das mais bem sucedidas conquistas do anarco-sindicalismo. Com isso, Eugeni Duran foi preso porque – além de apoiar a greve – escreveu um livro contra as companhias elétricas no qual ensinava como usar a eletricidade sem ter que pagar as contas. Seus ideais anarquistas fizeram com que as companhias elétricas não voltassem mais a contratá-lo.
Assim, Eugeni partiu para a cidade de Calafell na época da ditadura de Primo Rivera (1923-1930). O ajuntamento militar soube que, além de professor de engenharia de minas, ele também era arquiteto e lhe deixou a cargo do desenho do barrio de la Marina, como se conhecia o que hoje é o núcleo de la playa. Calafell nessa época era um povoado da zona costeira, na qual haviam algumas lojinhas de pesca (onde também guardavam os barcos). E foi aí que começou a surgir essa cidade linear que obrigou a redesenhar quase todo o layout da estrutura municipal anterior.
Em meados da década de 30, o projeto foi posto em prática de maneira um tanto irregular, alinhando as ruas e adaptando as licenças de construção “aos pontos de vista que deveriam levar em conta qualquer projeto de desenvolvimento urbano”. Fora isso, Eugeni, aproveitando o seu conhecimento em engenharia, foi encarregado de projetar o “estaleiro mecânico” do cais dos pescadores. Essa maquinaria, que foi recentemente restaurada, é um exemplo único na arqueologia industrial do mundo pesqueiro da costa da Catalunha. Apesar de tudo, ao que parece, a prefeitura de Calafell não lhe pagou devidamente pelos seus trabalhos.
Bonde elétrico
Além de arquiteto e engenheiro de minas ele também tinha vasta experiência com eletricidade e motores elétricos. Assim ele fez um visionário projeto de transporte público para interligar Comaruga, Sant Salvador, El Vendrell, a praia de Calafell e o seu centro. Uma ideia extraordinária e magnífica de conectar todas essas praias com o centro do povoado e o mercado local utilizando linhas de bondes elétricos, porém os prefeitos da época não tiveram coragem ou vontade de pôr o projeto em prática que, por fim, acabou caindo no esquecimento.
Os projetos de Eugeni Duran foram apresentados entre 1925-1926 com ideias muito avançadas para a época, o que não o impediu de pôr boa parte delas em prática. Felizmente, o seu nome e suas autorias foram resgatadas pelo seu filho (aos 90 anos de idade) antes de cair no total esquecimento. E o seu legado se manteve em Calafell, apesar da chegada do expansionismo descontrolado e o do crescimento turístico desmedido.
https://didcticadelpatrimonicultural.blogspot.com/2021/03/l-eugeni-duran-l-arquitecte-enginyer.html
Tradução e recompilação > Ligeirinho
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