PorMumia Abu-Jamal | 23/04/2021
Mumia: Vocês, os irmãos de “Os 3 de Angola”, passaram uma espantosa condenação no buraco [regime de isolamento]. Como foi que o Estado justificou prendê-los durante tanto tempo?
Albert: Então, no estado da Luisiana, onde o poder do sistema carcerário é indiscutível, sem controle. Herman, Robert e eu estávamos lutando para manter nossa dignidade, orgulho, autoestima e amor próprio, e basicamente isto foi a justificativa. Os diretores nos viram como uma ameaça ao que eles consideravam a única função da prisão. O infame diretor Burl Cain uma vez me descreveu em uma declaração juramentada como “o homem mais perigoso na América”. E desde que eu saí dali, eu gostaria de pensar que as minhas ações lhe deram razão.
Mumia: Como aguentaram passar 40 anos no buraco?
Albert: Aha! É a pergunta mais difícil. Suponho porque tínhamos uma consciência política que veio de sermos integrantes do Partido Panteras Negras. E você sabe, dizem que o conhecimento é poder. Entendemos o propósito do confinamento na solitária, ou o isolamento em uma cela. Então, durante essas décadas, mostramos fortaleza, determinação, valores e princípios. E sempre nos mantivemos ativos. Também buscamos inspiração nas ações de homens, mulheres, meninas e meninos na sociedade que estavam lutando para fazer as mudanças em suas condições. Nunca permitimos que a cultura carcerária nos desse exemplos sobre como viver nossas vidas.
Mumia: O que te deu esperança?
Albert: Já sabe, a minha maravilhosa família e vários esplêndidos companheiros formaram uma coalizão internacional, Free The Angola 3. Também tivemos uma excelente equipe de advogados. Mas mais que nada, o que me deu esperança era as pessoas na sociedade, na luta social que se formava, os sacrifícios que faziam, o espírito indomável que nunca que abalou. E uma coisa em particular que me inspirou foi o desenvolvimento do movimento Black Lives Matter. Acredito que é um grande movimento, e me deu orgulho de ver todos os jovens homens e mulheres atuando. De fato, depois que saímos da prisão, antes da pandemia quando Robert e eu estávamos viajando juntos e falando em eventos, sempre dizíamos ao anfitrião que gostaríamos de conhecer alguns dos jovens desse movimento. São algumas coisas que me davam esperança: muito amor da humanidade, o espírito indomável das pessoas, e a luta que se dá na sociedade continua.
Albert: Mumia, meu irmão, dado a preponderância das provas que te exoneram e a falta de provas contra ti, como se sente em permanecer na prisão?
Mumia: Irmão Albert, no espírito de Os 3 de Angola, te saúdo. Sabe o quê? Estou pensando nos primeiros dias antes de que meu julgamento começasse. Foi uma audiência prévia ao julgamento. Eu tinha lido um livro sobre direito que tratava de casos da Suprema Corte dos Estados Unidos. Seguramente com base na Constituição, não? Fui à Biblioteca Jurídica, li estes casos e escrevi petições. Apresentei uma moção formal em um tribunal. De imediato o tribunal recusou minha moção. Não pude acreditar. Mas me fez entender que o tribunal, esse tribunal que a maioria das pessoas conhece ao ter um caso, não atua de acordo com a Constituição ou com ditames da Suprema Corte. Faz o que quer fazer, porque não se trata da lei. Se trata do poder. O mesmo juiz Sabo disse mais tarde, 15 anos mais tarde, que no meu caso “a justiça é somente um sentimento emocional”. Cito Malcom X: “Não se escandalizem quando digo que estive na prisão. Enquanto se encontrem ao sul da fronteira com o Canadá, todos vocês estão na prisão. Todo poder ao povo!”
Albert: Meu irmão, qual foi a sua perda pessoal mais dolorosa?
Mumia: As perdas de minha mãe e minha filha, Edith e Samiyah. Tive sonhos de andar com elas em liberdade. E, por suposto, com outros familiares, irmãos, irmãs, primos, cunhados (inaudível), Lydia, Jimmy. Vivem em minha memória e meu coração.
Albert: E meu irmão, qual é a sua prioridade número um quando por fim te chegue a liberdade?
Mumia: A mesma de sempre: Servir às pessoas e trabalhar a seu favor, trabalhar por um mundo onde a Libertação Negra seja uma realidade, não simplesmente palavras. Como dizem os Rastas: A liberdade é fundamental.
Obrigado irmão Woodfox.
Fonte: https://amigosdemumiamx.blog/2021/05/02/entrevista-con-albert-woodfox/
Tradução > Caninana
>> Sobre “Os 3 de Angola”, ver:
Conteúdos relacionados:
agência de notícias anarquistas-ana
Noite de lua cheia
Dentro do céu nublado
Ainda incendeia
Alice Ruiz
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!