Por Ainara Lertxundi| 22/04/2021
Fuzilaram o pai de Mercedes Colás Irisarri de Meroño por ser anarquista. Ela, com onze anos, teve o cabelo raspado. Junto de sua mãe e irmão, voltou à Argentina. Em 1978, a ditadura arrebatou sua única filha. A vice-presidenta das Mães da Praça de Maio [Madres de la Plaza de Mayo] morreu aos 95 anos.
Mercedes Colás Irisarri de Meroño, vice-presidenta das Mães da Praça de Maio, associação encabeçada por Hebe de Bonafini, faleceu aos 95 anos em seu domicílio argentino na Villa Devoto. Em sua longa vida aconteceu de sofrer a repressão e a ditadura franquista, e o terror imposto por Rafael Videla na Argentina depois do golpe de Estado de 24 de março de 1976.
Ainda que nascida na Argentina em 1925, em 1931 a família emigrou a Nafarroa, concretamente a Lodosa [Espanha]. Seu pai, José María Colás, era construtor e anarquista da CNT, motivo pelo qual foi fuzilado pelas tropas franquistas. Rasparam a cabeça dela, com onze anos, na praça do povoado como forma de escárnio público por ser a filha de “um vermelho”.
Junto a sua mãe e irmão regressou à Argentina. Em 5 de janeiro de 1978, os militares argentinos sequestraram sua única filha, Alicia Meroño. Tinha 31 anos. Ainda segue desaparecida.
Em uma série de testemunhos gravados pela associação presidida por Hebe de Bonafini em 2017, pelo motivo do 40º aniversário da primeira marcha das Mães da Praça de Maio, ressaltou seu orgulho por “os filhos que parimos, e por sua vez eles no pariram na luta. Em nossa época, as mulheres lavavam, passavam, cozinhavam (…) Por sorte, aprendemos a fazer política, o que se chama política verdadeiramente, não o palavrão da política. A política de não se vender, a política de ter as ideias nítidas e a política de saber que o outro sou eu”.
“Quando a levaram, fiquei seis meses olhando pela janela esperando que a minha filha voltasse, e se eu e meu marido saíamos juntos, deixávamos um aviso dizendo onde estávamos, porque sempre esperávamos que voltasse. Me voltou tudo o que passei na Espanha. Lá fuzilaram meu pai, cortaram o meu cabelo à zero e pensei ‘não pode ser, o fascismo duas vezes!’. E foi!”, afirma em um vídeo divulgado pelas Mães da Praça de Maio.
“Um dia, meu marido, que tinha ficado no centro, me disse “Poro, as mães estão marchando”. Fomos à praça. Comprei um lenço, um desses que se usam nas festas, um triângulo. Estava em um banco. Veio uma mãe que logo depois nunca mais voltei a ver. ‘E você, o que te aconteceu?’, me disse, porque eu chorava. Então, ela me disse ‘aqui não se vem para chorar, se vem para lutar’. Me levantou, e desde então até hoje estou na Associação”, relembrou.
“Estou orgulhosa do velho – o pai – e da filha que eu tive. Não posso falhar a nenhum dos dois”, remarcou.
Em um comunicado, Mães da Praça de Maio informaram de seu falecimento. “Se foi devagarinho. Ela era uma das Mães que tinha passado duas vezes pela tortura e o horror (…) Seguramente estará agora dizendo ‘ai, Lodosa, minha Lodosa’, como sempre nos dizia”.
Tradução > Caninana
agência de notícias anarquistas-ana
Há trafego intenso —
Vendo o ipê amarelo
Meus olhos descansam.
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!