Declaração de 11 de junho de 2021 de Thomas Meyer-Falk
Milhões de pessoas estão nos cárceres e masmorras dos governantes do mundo. Um sem número de pessoas está no corredor da morte, outras estão ali durante dias, semanas ou meses, e outras estiveram ali durante décadas. Faz só umas semanas se anunciou na Alemanha que Hans-Georg seria liberado em 2021. Foi em 20 de janeiro de 1962 quando as portas da prisão de Berlim se fecharam para ele, que está detido desde esse dia. Havia disparado a duas pessoas após um roubo.
O encarceramento de longa condenação é, de certo modo, similar à pena de morte; só que, perfidamente, com a pena de morte o Estado é mais honesto e quer matar abertamente o delinquente. Com décadas de encarceramento, a morte é também a perspectiva geralmente realista de escapar dos muros, mas no caminho, o corpo e a alma se perecem.
Na Europa, além da cadeia perpetua, existe o instrumento da prisão preventiva. Segundo a interpretação oficial, as pessoas já não estão entre os muros do cárcere como castigo, mas como mera medida preventiva para evitar possíveis atos no futuro. Isto se baseia em previsões que não são muito melhores e mais confiáveis que a previsão do tempo para o próximo mês.
Ainda que as condições materiais do encarceramento geralmente possam garantir a sobrevivência física nestas masmorras da Europa Ocidental, é mentalmente esgotador. Os que têm contato com o mundo exterior podem compensá-lo um pouco, mas outros perdem a cabeça durante os longos períodos de encarceramento. Debatem-se contra os muros de concreto, fazem mal a si mesmos e aos demais. Bebem os produtos da indústria farmacêutica, distribuídos generosamente pelos médicos da prisão, ou se abastecem de drogas no mercado negro. Claro, isto não é uma peculiaridade dos presos de longa condenação, mas que se aplica também aos de curta duração.
As prisões de longa condenação são um dos lugares mais obscuros e sinistros da sociedade. Ali se supõe que se desterra, se encarcera, se erradica o suposto mal, mas basta dar uma olhada a qualquer diário, a qualquer programa de televisão: o mal não desapareceu, não foi desterrado. A ideia de que encerrar a centenas de milhares de pessoas durante décadas melhoraria o mundo num ápice é uma ilusão. Talvez uma que as sociedades e seus governantes necessitam, já como tela de fundo ameaçador para os próximos levantamentos: “Vejam, vamos metê-los nos buracos mais escuros e ali vegetarão até o final natural de suas vidas”.
Isto faz com que o 11 de junho seja ainda mais importante. O dia dá aos indivíduos um rosto, um nome, faz com que as pessoas saiam à luz pública. Dê força. Envie um sinal de coragem e determinação. O dia demonstra que há pessoas que se preocupam pelo destino dos que estão há muito tempo encerrados e que querem lutar pela mudança.
Junto aos que estão entre grades!
Ombro a ombro: Por uma sociedade sem cárceres! Liberdade! Já!
Thomas Meyer-Falk
z.Zt. Justizvollzugsanstalt (SV),
Hermann-Herder-Str. 8
79104 Freiburg
Alemanha
https://freedomforthomas.wordpress.com
http://www.freedom-for-thomas.de
Thomas é um anarquista que está no cárcere desde 1996 e foi condenado pelo roubo de um banco mediante o qual se planejava organizar dinheiro para projetos políticos. Por seu comportamento rebelde no cárcere recebeu mais duas condenações. Em 2013 terminou seu tempo oficial na prisão, mas o mantiveram em Sicherungsverwahrung (uma forma de “detenção de segurança” na Alemanha para os convictos que cumpriram a totalidade de suas condenações, mas que ainda se consideram um risco para a ‘segurança pública” e, portanto, estão detidos mais além do final de sua condenação) e ainda o está. Agora, em 2021, está já 25 longos anos no cárcere e não há forma de saber quando e se sairá dela, mas espera ser liberado em 2023.
Escreve muitas declarações sobre diferentes temas desde o cárcere e sempre se alegra de receber cartas.
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!