[Chile] Chamado à autonomia revolucionária e ao antifascismo militante

O último processo eleitoral vivido no Chile durante 15 e 16 de maio, sem dúvida alguma foi uma surpresa que superou todas as projeções (ainda as mais otimistas) e cálculos dos centros de pesquisa, de intelectuais, assim como dos distintos espaços políticos tradicionais e emergentes. A erupção de independentes, o “aumento” dos votos para o reformismo (Partido Comunista) como para a nova social-democracia (Frente Ampla), e o fiasco da direita para a constituinte e o desconcerto provocou um verdadeiro tremor político de esquerda à direita.

O resultado das eleições e as luzes do espetáculo deslumbraram e iludiram muitos companheiros honestos, isto motivado principalmente pelos maus resultados dos conglomerados que representam e defendem, sem maquiagem alguma, o modelo atual de sociedade. Porém, este “tropeço” eleitoral não significa nenhuma derrota política, ideológica, nem militar desses partidos, nem da burguesia, pelo contrário, esta é uma oportunidade que se apresenta de um reordenamento interno, deixar atrás essa carga e amarração histórica com a ditadura, adaptando assim seus discursos para poder chegar a esses setores populares que hoje não votaram, mas que não os descartaram e/ou eliminaram como opção política no futuro. Neste contexto, se potencializará desde a UDI (União Democrática Independente) a ideia de uma “UDI Popular, na rua e de classe média”, por outra parte, alguns das exConsertación serão ainda mais oportunistas e não vão duvidar (já o fazem) em usar e manusear palavras e conceitos que eles mesmos, há anos, abandonaram e ridicularizaram como “socialismo”, “povo”, entre outros, evidenciando assim seu cinismo e oportunismo, engatilhado principalmente pela erupção dos independentes, que goste ou não terminaram capitalizando politicamente a “convulsão social” (estallido social). Nesta passagem o povo castigou, não deu a outra face, nos alegramos em um avanço, mas se este resultado não traz nitidez a respeito de que sociedade se quer construir, poderia ao final do dia revitalizar a confiança nas instituições da burguesia e seu sistema.

Não se trata de ser pessimista, pelo contrário, é correto analisar a situação tomando a maior quantidade possível de aspectos objetivos e subjetivos com a intenção de ir construindo um “que fazer” para o período.

Um “que fazer” que tenha claramente relação direta com os objetivos finais que persegue a autonomia revolucionária e o antifascismo militante. Dado os resultados, há de se alegrar, mas não se iludir, já que as margens da sociedade burguesa, ao fim e ao cabo, não estão sendo afetados pelo jogo democrático, instalado precisamente por eles mesmos. Apesar do desagrado, à burguesia não restou mais do que aceitar a novos atores políticos em sua mesa, já o fez o PC na Nova Maioria, já o fez com a FA, e sem dúvida não voltará a fazer com os independentes e tudo aquilo que cria ingenuamente, que por meio da legalidade burguesa e sem resistência de sua parte, se poderá construir uma sociedade distinta e melhor.

A pergunta é simples, por que os aceita? A resposta também o é; pois nenhum deles representa um projeto antagônico ao capitalismo. O que eles representam, para além de sua verborreia, não é outra coisa que humanizar e socializar o capitalismo, não substituí-lo. Eles não pretendem acabar com a burguesia como classe social, mas redistribuir os ganhos de algumas das famílias monopólicas da mesma, esses a que hoje em dia se chama “super ricos”, e dentro desta lógica “antimonopólica” certamente confluem e apoiam este objetivo, setores da média e pequena burguesia que aspiram obter uma parte deste suculento saque nas mãos de uns pouco, agora para uns poucos mais.

Muito bem, eles e seus objetivos são nítidos, porém o que fazer desde a autonomia revolucionária e o antifascismo militante? Ou melhor, o que estamos fazendo?

Devemos fazer uma autocrítica implacável, mas sobretudo ter visão de futuro. O que não se fez já é passado, não voltaremos atrás para modificar e fazer o que se supõe que se deveria. Porém, ainda temos oportunidade, o futuro está aberto a disputas, incidências e possibilidades, mas depende do que se faça no presente os resultados do futuro.

O passado recente nos indica que já não basta a ação pela ação, a espontaneidade e a informalidade, o voluntarismo e a reação emocional diante das circunstâncias políticas. Tampouco, basta o rechaço à tática e a uma estratégia de acumulação de forças para o desatar da revolução social. Tudo isto finalmente se traduz em que não serve à não organização, pelo contrário, foi precisamente a falta de organização o que nos levou a este estado de maginalidade (não influenciar) política e de derrota da qual não podemos sair.

É evidente que além dos bordões, não temos capacidade de oferecer uma alternativa política real para a sociedade em seu conjunto.

Se analisamos nosso panorama atual, não existem territórios controlados e/ou afins às ideias e objetivos da autonomia revolucionária ou a seus conceitos (poder popular/ autonomia/ território liberado/ autogestão). A pergunta é: por quê? E essa pergunta por agora a deixamos sem resposta e instalada para o debate.

A autonomia revolucionária tem um desafio: levantar-se e constituir-se como alternativa que cresce de maneira massiva, radical e ativa os objetivos históricos do povo e da classe trabalhadora chilena, originária e migrante. Já não é tempo de principialismos infantis, envelhecidos e paralisantes, mas tampouco é nem será tempo de oportunismos contextuais e vacilantes.

A autonomia revolucionária tem um propósito a curto prazo: se construir em um movimento político, que tenha a capacidade de coordenação, de incidência e de tensão de maneira local, regional e nacional. Segundo sejam suas capacidades, esta não deve rejeitar, a priori, nenhuma forma de luta, será a análise concreta da realidade concreta, o que permitirá avaliar aquilo que permite conquistar posições em benefício do povo e dos trabalhadores, e o que não.

O chamado é urgente, já não é tempo de lamentos do que pode ter sido, não é tempo de preguiça, nem desânimo, hoje mais que nunca é tempo de um convencimento absoluto nas ideias revolucionárias e seus métodos. Chamamos a todas as individualidades, grupos, coletivos e organizações a não se deixar encadear pela pirotecnia da burguesia e os cantos de sereia do reformismo de velho e novo tipo. A nos reencontrar na construção e na ação política. A romper com o desânimo e o estancamento. A instalar sobre as diferenças os encontros. Assumir os erros, as fraquezas e trabalhar para revertê-los, nos fazendo cada dia melhores filhas e filhos do povo em luta. Os convidamos a assumir com peso histórico o presente e trabalhar para um futuro vitorioso e libertário.

Preparar a Greve Geral e a Insurreição Popular!

Pela Autonomia Revolucionária e o Antifascismo Militante!

Pelo Comunismo e a Anarquia!

Maio, 2021. Santiago do Chile.

Tradução > Caninana

agência de notícias anarquistas-ana

Por este caminho,
Ninguém mais passa —
Tarde de outono.

Bashô