Durante décadas os ucranianos tentaram esquecer o horror de 1933, tanto pela dor traumática como pelo medo de pôr em risco os filhos, já que quem falasse sobre o Holodomor era severamente castigado
Por Inna Ohnivets
Como se pode ler nas últimas publicações do Observador, este morticínio gigantesco, ocorrido há 87 anos, é um tema atual. Porém, é de lamentar que, apesar das suas dimensões, este crime continua ainda a ser desconhecido para muitos e, pior do que isso, continua a ser negado por muitos.
Hoje em dia temos livre acesso à informação sobre o tema, para que não tiremos conclusões erradas. Por exemplo, é possível visualizar os comentários do famoso historiador Norman Davis e testemunhos verídicos dos que sobreviveram a este genocídio, gravados num curto documentário “A História do Socialismo: O Genocídio na Ucrânia” de Edvins Snore, cineasta da Letônia.
Há um século atrás, os bolcheviques não conseguiriam garantir a sua vitória e manter o poder sem o controle sobre a Ucrânia. Deste modo, os comunistas consolidaram as suas forças para destruir a República Popular da Ucrânia, o novo estado independente que surgiu em 1918, em resultado da Revolução Ucraniana de 1917 a 1921.
Assim, o território ucraniano foi incorporado na União Soviética como uma República Socialista Soviética, embora na Ucrânia houvesse uma forte resistência ao comunismo. Havia, sobretudo, uma elite erudita de ucranianos, orientada para a independência da sua Pátria, bem como camponeses economicamente autônomos com uma forte consciência nacional.
Considerando isso como uma ameaça eminente à União Soviética, Josef Stalin encetou por uma tática severa – a morte pela fome, a qual agrupava cidades e vilas ucranianas numa lista negra, privando-as de receber produtos manufaturados e comida. Além disso, os camponeses ucranianos eram proibidos de sair das suas próprias vilas para sobreviver.
Os grupos de ativistas, mandados pelas autoridades de Moscou, chegavam às vilas ucranianas e confiscavam tudo o que fosse comestível, não apenas o trigo, mas também as batatas, beterrabas, abóbora, feijão, ervilhas, animais de quinta, etc.
O resultado foi uma catástrofe humana: mais de 7,5 milhões de ucranianos morreram de fome entre 1932 e 1933. Morreram porque a comida lhes foi tirada.
Apenas imaginem que, em junho de 1933, todos os dias morriam cerca de 35 mil pessoas. Morriam 1440 pessoas por hora, ou seja, 24 pessoas por minuto.
Aqueles que sobreviveram, conseguiram-no comendo relva e insetos, sapos e rãs, pele de sapatos e folhas. Houve incidentes de canibalismo que foram detectados pela polícia, os quais foram registrados e reportados às autoridades de Moscou, que nunca responderam.
Numa das cartas enviadas a Stalin lê-se: “enquanto nosso amigo, mentor e pai, quero descrever-vos a verdade que vivemos, não aquela que ledes publicada nos jornais (…) as pessoas comiam relva e até os seus próprios filhos (…) as pessoas morriam de fome, não porque não houvesse colheita, mas porque o estado a levou toda. Enquanto as pessoas morriam de fome, os cereais eram armazenados (…) e destilados para fazer álcool (…) as pessoas famintas que tentavam recolher comida na estação de comboios de Khorol eram abatidas como cães”…
Nos anos 1932-1933 o regime totalitário escondia o seu crime através da propaganda e mentira. Ao longo das décadas seguintes, o regime tentou não só esconder a verdade sobre o Holodomor na Ucrânia, mas também destruir para sempre a memória do mesmo. Não só era perigoso escrever sobre este tema na imprensa, em cartas aos líderes partidários ou a familiares no exterior, como ainda nos seus diários pessoais. Qualquer nota descuidada poderia significar a morte ou décadas passadas em campos de trabalho (Gulag). Porém, apesar de todos os perigos, havia pessoas que não podiam manter silêncio. Por exemplo, as fontes consulares documentaram o seu conhecimento do que se sucedia na Ucrânia naquela época.
>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:
https://observador.pt/opiniao/o-holodomor-de-1932-1933-genocidio-do-povo-ucraniano/
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