Na região colombiana, está ocorrendo uma explosão social que está agora em seu 45º dia de mobilização permanente em todo o comprimento e largura do território. Como aconteceu em várias ocasiões, a mobilização tem sido marcada pelo terrorismo de Estado em várias manifestações, incluindo a repressão brutal das mobilizações pela Polícia Nacional, os aparatos judiciais e os assassinatos sistemáticos. Infelizmente, estas situações não são novas no país, pois o Estado colombiano é caracterizado por alianças íntimas com o paramilitarismo e o tráfico de drogas. Como exemplo disso, podemos mencionar que em 2020 houve 76 massacres com um total de 272 pessoas mortas, de acordo com números oficiais do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR); Desde 28 de abril – dia em que começou a greve nacional – até 11 de junho, a Campanha Defender a Liberdade indica que 78 pessoas foram mortas, 3086 detenções arbitrárias, 84 pessoas desapareceram, 79 vítimas de lesões oculares e 106 casos de violência sexual. Vale mencionar que a maioria dessas ações foi perpetrada pelas forças de segurança e civis armados através de estratégias paramilitares.
Em resposta à explosão social, o Estado, liderado pelo Presidente Iván Duque, estabeleceu o roteiro habitual que reforça o discurso do inimigo interno, apontando os manifestantes como vândalos sob ordens de grupos armados ilegais. O tratamento dado ao protesto social é criar um cenário de guerra frontal contra organizações étnicas, camponesas, de bairro, estudantis e sindicais que permaneceram em constante mobilização contra anos de políticas criminosas dos governos em exercício que estiveram sob o mandato de Álvaro Uribe Velez, ex-presidente que foi investigado várias vezes por crimes contra a humanidade como os chamados “Falsos Positivos”, ou seja, execuções extrajudiciais de civis mortos pelas forças militares para apresentar resultados e obter benefícios, o que, segundo a Jurisdição Especial para a Paz (JEP), chega a um número escandaloso de 6.402 assassinatos.
Os protestos que começaram com um chamado do Comitê Nacional de Greve (uma plataforma que reúne alguns setores sindicais de trabalhadores, pensionistas, professores e camponeses) cresceram em ações, graças principalmente aos jovens que viram a ação direta nas ruas como seu principal motivo de protesto.
Enquanto a burocracia sindical representada no Comitê Nacional de Greve está em espaços de conversa e mediação com instituições estatais, as ruas têm mantido um nível de beligerância e organização distante desses velhos métodos de conciliação típicos da burocracia, levando em conta que esses “negociadores” fazem parte dos partidos de “centro” e de “centro-esquerda”.
Com base nisso, foram organizados espaços de resistência em diferentes partes do país como Cali, Bogotá, Buga, Popayán, Bucaramanga e em rodovias no sudoeste da Colômbia e no nordeste, nos quais os métodos de luta são baseados na horizontalidade, na ação direta e no apoio mútuo. É importante destacar a relevância das linhas de frente como método de contenção da violência policial, estes grupos organizaram não apenas jovens, mas também professores, mães e até padres; estes grupos acumularam um nível de resistência e legitimidade bastante importante neste momento, mesmo em lugares como Cali, eles são interlocutores legítimos e reconhecidos com as autoridades governamentais.
A situação hoje, após 45 dias, é agridoce, pois ainda há pessoas mortas e feridas que fazem parte das manifestações que terminam em confrontos com as forças públicas, além da impunidade diante das práticas de guerra, como as agressões contra as comissões de verificação dos direitos humanos nas ruas e as missões médicas que ajudam os feridos. O Estado fez uso de métodos macabros para aterrorizar, tais como cortes de energia e internet, pressões de grupos paramilitares, assembleias judiciais de manifestantes e métodos de censura, tais como restrições à transmissão ao vivo de protestos.
Por outro lado, as razões da Greve Nacional foram ampliadas, assim como a retirada da Reforma Fiscal com a qual os protestos começaram, a retirada da Reforma da Saúde (um ataque às classes mais baixas), e a renúncia de 3 altos funcionários do governo (Ministro da Fazenda, Ministro das Relações Exteriores e Alto Comissário para a Paz) podem ser contados como conquistas da mobilização. Embora as consideremos como pequenas realizações, sabemos que o governo, pressionado pelas grandes empresas, sempre buscará reformas para alimentar e apoiar seus interesses de classe, enquanto os trabalhadores e suas famílias continuam a sofrer a pobreza; na Colômbia, mais de 40% da população está na pobreza (números do DANE). As exigências que se ouvem nas ruas e rodovias vão desde o pedido de demissão de Ivan Duque e todo seu gabinete, a desmilitarização dos territórios, reformas estruturais até as forças militares e policiais, a não perseguição de pessoas que foram capturadas no contexto de protesto social, a efetiva implementação dos acordos de paz assinados entre as FARC-EP e o governo, garantias para os líderes sociais e ambientais em territórios rurais e urbanos, o fim da pulverização de glifosato e fracionamento, entre muitos outros.
Sabemos que estamos vivendo um momento histórico, o resultado de anos de terrorismo de Estado e políticas criminosas que tornaram precárias as condições de vida de milhões de pessoas no campo e nas cidades. Neste momento, vemos o acúmulo das greves de 2018, 2019 e a explosão social de 2020 no mês de setembro, brutalmente reprimida. Agora, o protesto social fixou sua atenção nos processos sociais, trabalhou no fortalecimento do tecido social em bairros, veredas, municípios e cidades inteiras realizando atividades com vizinhos, construindo assembleias ou mesas de trabalho de acordo com suas necessidades concretas pouco a pouco, passo a passo, porque mesmo as formas de organização são muito dispersas e sem um horizonte claro, mas a raiva e os métodos de assembleia estão latentes em um povo que procura mudar sua história condenada em busca de uma boa vida, de condições de vida dignas.
Não podemos esquecer o papel fundamental desempenhado pelas comunidades indígenas organizadas no Conselho Indígena Regional do Cauca (CRIC) e nas Autoridades Indígenas do Sudoeste (AISO), que com sua resistência e bravura deram ímpeto e oxigênio à mobilização social, e também nos convidaram a questionar a parte da história que sempre nos foi contada, aquela que vê os conquistadores como heróis e os povos nativos como selvagens.
Finalmente, fazemos um convite para acompanhar de perto o processo que a Colômbia está passando, pois as garantias de protesto e de vida para o Estado só existem no papel e, prova disso, é a negação do tratamento da guerra que tem sido dado ao protesto social pelo Ministro da Defesa, o comandante do exército e da polícia. Somente a organização popular e os observadores internacionais podem registrar o massacre que o Estado está cometendo neste momento. A difusão e as ações internacionalistas de pressão sobre o governo da Duque são essenciais para o processo que estamos vivendo.
Diante da repressão do Estado, organização popular!
Arriba los que luchan!
Coletivo Contrainformativo SubVersión
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
A abelha voa vai
vem volta pesada
dourada de pólen
Eugénia Tabosa
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!