Por Carlos Taibo
A consciência dos problemas das mulheres não foi particularmente sólida no anarquismo do XIX. Ainda que Bakunin e Kropotkin tenham escrito a respeito textos iluminadores, o certo é que a irrupção de um tipo de feminismo libertário correu a cargo das próprias mulheres, sem que nenhuma destas se enquadrasse, no entanto, aos preceitos anarquistas, configurados exclusivamente por varões que eram, também claramente ocidentais. Enquanto isso se impuseram geralmente ideias que, como a que sugeria que a revolução social resolveria de uma canetada os problemas das mulheres, não pareciam singularmente lúcidas.
“Nos bastidores o que se percebe é a intuição, clara, de que quando uma feminista pega as coisas pela raiz o mais simples é que se situe, espontânea e afortunadamente, em posições libertárias.”
Nesse magma, cheio de contrastes, se delineou em 1936, na Espanha, um movimento chamado Mujeres Libres. Se a iniciativa surgiu, claro, para fazer frente à condição aberrantemente patriarcal da sociedade espanhola do momento, em uma de suas dimensões principais obedeceu também ao propósito de dar réplica à presença, infelizmente consistente, de condutas machistas no próprio mundo libertário. E ao delinear, paralelamente, organizações especificamente femininas.
O ascendente de Mujeres Libres foi muito poderoso na determinação do que hoje se entende por anarcofeminismo. Creio que este último é, das correntes do pensamento libertário, a que experimentou um maior crescimento e, acaso, a que suscita maior atenção. Ainda que seus fundamentos sigam sendo em essência os mesmos que os de 1936, a eles se agrega agora a necessidade de contestar muitos dos tópicos e concessões que acompanham o feminismo de Estado. Essa contestação sublinha a dimensão de classe que deve acompanhar o questionamento da sociedade patriarcal, ao mesmo tempo em que recorda que o grosso do feminismo realmente existente parece empenhado em integrar as mulheres plenamente, e em fictícia igualdade, no mundo, hierarquizado e explorador, perfilado pelos homens.
“O anarcofeminismo é, das correntes do pensamento libertário, a que experimentou um maior crescimento e, acaso, a que suscita maior atenção.”
Para que nada falte, na trama do anarcofeminismo se manifesta uma aguda consciência no que faz ao que ocorre com as mulheres nos países do Sul. A duras penas pode ser casualidade que as iniciativas que tomaram corpo em Chiapas e em Rojava tenham colocado em primeiro plano a condição e a emancipação daquelas. Nos bastidores o que se percebe é a intuição, clara, de que quando uma feminista pega as coisas pela raiz o mais simples é que se situe, espontânea e afortunadamente, em posições libertárias.
Fonte: https://www.cnt.es/noticias/muy-libres/
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?
Guilherme de Almeida
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!