[Portugal] Che Guevara: a verdade por detrás da lenda, por Larry Gambone

Índice:

O jovem Che ou “Don’t cry for me, Argentina”. / As raízes fascistas da concepção do mundo do Che. / O Che stalinista. / O Che executor. / O Che burocrata. / A tragédia de Che Guevara. / O Che morreu pelos nossos pecados. / Notas. / Anexo: Os anarco-sindicalistas cubanos nos anos 1950. / Outras Leituras / Nota do Tradutor

“O Che foi o ser humano mais completo da nossa época” – Jean-Paul Sartre     

Uma camponesa acende uma vela ao santo e reza para que o seu filho fique bem e a colheita de batatas seja boa este ano. As suas preces, e as preces de outros camponeses, já antes foram atendidas, dizem os aldeões. “Parecia-se mesmo com Nosso Senhor ali deitado morto na escola”, contava ela ao jornalista da televisão. O nome desse santo milagreiro? Ernesto Che Guevara! (*1)

Não se riam desses camponeses. Não os olhem do alto da vossa arrogância de “mundo desenvolvido”. Não há qualquer dúvida de que o Che “intervém” nas suas vidas fustigadas pela pobreza — tal como fazem todos os outros santos. E quem somos nós para pretender ter um conhecimento absoluto do mundo e do espírito humano e de todo o seu funcionamento?

O que diria o Che do incenso e das velas queimados em seu nome? Enquanto militante comunista e ateu, teria rejeitado tudo isso como superstição primitiva herdada de um passado reacionária. Que ironia que tal pessoa se tenha tornado um santo. Mas não são apenas os camponeses bolivianos que veneram o guerrilheiro morto. Trinta anos após o seu assassinato, a sua imagem está colada nos muros de metade das residências universitárias do mundo. O seu olhar severo e ascético fixa-nos desde inúmeras camisolas, autocolantes e distintivos. A mística do Che Guevara está divulgada universalmente.

Não adianta perguntar se ele merece essa idolatria. À primeira vista, é fácil responder afirmativamente sem qualquer reserva. Ele é aquele que tinha a posição número dois em Cuba e que dela desceu para combater na selva pelo que acreditava ser a libertação. Sofrendo de asma e com um reduzido grupo de seguidores, foi perseguido e assassinado pelo exército boliviano. Guevara era também a personagem romântica perfeita — belo, carismático e sinceramente amado pelas mulheres. Não um palhaço intelectual sem vida como Staline, nem um perverso misterioso como Mao ou um megalômano como o seu velho amigo Fidel, mas um homem real. Poderia ter saído de uma novela romântica.

E parece-se realmente com o Cristo, jazendo morto naquela fotografia célebre.

Sim, é possível compreender o fascínio que inúmeras pessoas, particularmente os jovens, têm por este homem. Mas compreender um fenômeno é uma coisa, se ele dá uma verdadeira imagem da realidade é outra. Para isso, é preciso olhar para além da mística.

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