Anarquismo entre rejas. Rupturas, mutaciones y líneas de fuga.
William Andrés Mesa Cárdenas | Livros de Anarres
Um esforço para se inserir por outra perspectiva no assunto carcerário e penitenciário do controle e do domínio dos seres humanos que habitam a prisão, para compreender a prisão como uma instituição de miniatura social, como máquina panóptica, como poder molar articulado a uma engrenagem repressiva estatal.
Estas palavras apresentam o livro Anarquismo entre rejas. Rupturas, mutaciones y líneas de fuga [Anarquismo entre grades. Rupturas, mutações e linhas de fuga], são de seu autor, William Mesa Cárdenas, e são os temas de onde se parte para compreender, a partir das experiências de movimentos de organização política de presos, como se podem identificar linhas de fuga (em uma concepção delleuziana) e as conexões possíveis entre as realidades da prisão e a ação externa de grupos de apoio. Mutações, rupturas, novos olhares, visões práticas e métodos de resistência formam parte deste trabalho de pesquisa que o autor leva adiante, e que Libros de Anarres publica na Argentina.
Compartilhamos alguns dos conceitos apresentados nas suas páginas:
É nítido que, diante o exercício de domínio efetuado pelo sistema carcerário, se forjam diferentes perspectivas de resistências e reconfigurações de relações de poder que as pessoas presas passam a gestionar, desde suas diferentes trincheiras ideológicas, práticas políticas e métodos de luta, como são as organizações sociais, sindicatos e formas cooperativas de produção… reconfigurando a individualidade, o coletivo, a autogestão e a resistência móvel e nômade na prisão, em função do desejo como impulso criativo, vital e enérgico: o próprio desejo da liberdade.
O livro nos relata, para chegar a compreender esses assuntos, o desenvolvimento dos processos de organização carcerária: a Coordenação de Pesos em Luta (Espanha, 1975) e o Kamina Libre (Chile, 1994), ambas organizações libertárias são referências necessárias para a compreensão das resistências contra o sistema carcerário.
Em Carabanchel (Espanha), uns 40 presos davam forma à organização da Coordenação de Presos em Luta, eles montaram uma gráfica clandestina rudimentar, com a qual editavam textos de maneira artesanal e os enviavam a prisões de todo o país, mediante os companheiros transferidos… essas peças gráficas eram panfletos minúsculos, escritos a mão com letra pequena, que eram escondidos nas dobras das calças e até nas dentaduras para, assim, não serem descobertos.
Algo sobre a letra K, a qual é muito usada nos movimentos anarquistas latino americanos…
Essa letra é uma consonante velar, explosiva e surda, é genuína do idioma Mapuche e soa muito forte guturalmente… no Mapuche não existem nem o C nem o Q espanhóis, é por isso que se utiliza como uma demonstração contracultural.
Em ambos casos (o exemplo espanhol e o chileno), os movimentos intracarcerários se organizavam de forma vertical, ao estilo dos partidos políticos tradicionais (tanto de esquerda como de direita), no qual se responde ao mandato do líder e à cadeia de mando; a particularidade é que nesses dois exemplos, os mesmos integrantes começaram a discordar dessa forma de obediência ao poder (poder intraorganização que replica tanto ao poder político quanto ao institucional, os quais sempre são, tanto no capitalismo como no comunismo, verticais). Dizia que chegam a discordar com esta forma de poder o que os leva a formular outras possíveis formas de organização, em que o horizontal e a assembleia substituirá ao estabelecido como norma, convertendo esses movimentos em exemplos muito bons de organizações anarquistas.
A partir deste novo paradigma, se chegou a discutir em profundidade sobre a exploração e o domínio dos seres humanos sobre seus iguais, pondo em foco não só o processo necessário para obter a liberdade, mas em como acabar com o capitalismo e as instituições do estado, que o cuidam e incentivam.
Em um contexto como o carcerário, onde a desconfiança, a intimidação e a violência são parte estrutural, prática e cultural (promovidas a partir do mesmo sistema de controle penitenciário), a empatia como um dos núcleos de associação, poderia se converter em um elemento para a práxis rebelde, em um elemento revolucionário.
Muitas ideias, muita vida, muito ar novo… este livro nos aproxima de outra visão, muito próxima ao que, talvez se necessita aplicar, não só dentro dos contextos de aprisionamento regionais, mas que no conjunto de nossa sociedade e na maneira de nos vincularmos com o poder: começando pelo sistema por dentro. Porque se esperamos que mude por fora, desde os circuitos próximos ao poder e à justiça (que protegem e consolidam ao capital), seguiremos nos devorando entre iguais, entre cordeiros, enquanto o lobo aproveita o banquete.
Mais sobre Anarquismo entre rejas. Rupturas, mutaciones y líneas de fuga neste link:
http://www.librosdeanarres.com.ar/#!/producto/83/
Tradução > Caninana
agência de notícias anarquistas-ana
Sem ter companhia,
E abandonada no campo,
A lua de inverno.
Roseki
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!