Democracia é um regime político que nasceu na Grécia Antiga. Sua etimologia provém do prefixo “demo” que significa povo, e “cracia” governo. A partir deste ponto, possuímos uma ideia iminente de como funcionaria este governo do povo. Como citado na charge da Mafalda, democracia é a forma de governo no qual a soberania é exercida pelo povo, entretanto, na democracia contemporânea, pouco funciona assim. Mikhail Bakunin, em A ilusão do sufrágio universal, cita que o estabelecimento da democracia garantiria a liberdade do povo, uma vez que os poderes emanam diretamente de uma eleição popular, os governantes assim elegidos não representam a liberdade e o bem-estar da população? A resposta para essa provocação pode-se encontrar no livro O Príncipe de Maquiavel.
Através de sua escrita, Maquiavel ensina a forma como um governante deve se portar diante do povo, entretanto, esse governante não deve agir com todos os princípios “bons”. Ao se candidatar ao poder, esse governante deve criar uma imagem atendendo as expectativas do que a população quer, mesmo ele não representando verdadeiramente a figura que ele criou. A partir disso, quem tiver mais poder sobre o povo, terá mais domínio sobre os votos.
Caso esse governante seja eleito, a população não consegue fiscalizar as ações prometidas inicialmente por ele, ou saber se ele está realmente cumprindo o papel de beneficiar os direitos das camadas mais populares. Ainda em O Príncipe, Maquiavel diz que o governante, se possível, deve ser amado e temido pelo povo, mas caso haja uma escolha, a melhor escolha é ser temido. Em suas palavras, o governante “deve firmar suas decisões como irrevogáveis e manter sua posição de modo que ninguém consiga enganá-lo nem fazê-lo mudar de opinião”. Para Bakunin, essa dominação é um sentimento de superioridade fruto de uma elevação de postos.
Bakunin, ainda em A ilusão do sufrágio universal, dá um exemplo da diferença entre a classe governante e a massa dos governados. A classe governante representa a burguesia. O poder está nas mãos da burguesia, e é o povo, operários e camponeses que obedecem. Com esse tipo de dominação e poder concentrados na mão daqueles que não fazem parte do povo, como pode a burguesia expressa nas leis e no governo, o sentimento presente na massa dos governados?
Contudo, na época de eleições, mesmo a burguesia sendo orgulhosa e separada como é do povo – se tiver ambição política – deve-se curvar a massa dos governados, ou seja, a Soberania Popular. Terminadas as eleições, o povo volta ao trabalho e continua ignorante na maioria dos problemas. O controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ilusão, “uma vez que no sistema representativo, o controle popular é apenas uma garantia de liberdade do povo, e é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.”
Na busca cada vez mais acirrada pela dominação através do poder, muitos governantes tendem a usar as redes sociais como um meio de manipulação, já que a sociedade se encontra cada dia mais ligada e presente virtualmente.
O filósofo Leandro Karnal, em resposta a uma pergunta sobre o poder das redes sociais, diz que cada vez mais estamos gritando para sermos observados e que ouçam a nossa opinião. Karnal nos dá um exemplo de quando batemos centenas de fotos em uma viagem e as postamos nas redes: essas fotos não serão vistas por ninguém ou serão vistas por cinco mil amigos de Facebook que não irão ver as fotos, mas apenas sentirão inveja da observação que estaríamos atraindo. Ele cita isso como um problema que o preocupa, pois a realidade virtual está se sobressaindo a real. Ainda, Karnal cita Hamlet, e é esse vazio que Hamlet estranharia.
Com essa reflexão, temos uma ideia da manipulação política cada vez mais crescente através das redes sociais. Essa manipulação é imprimida com a ideia de que irão fazer aquilo que o povo supostamente quer. Entretanto, o povo não possui um certo conhecimento sobre o assunto e, mesmo assim, compartilham essas ideias em suas redes, criando um ciclo de mentiras que são observadas por outros e passadas adiante.
Essa conexão da dominação de classes pelo poder através da ideia de “democracia”, é observada por Mafalda em seu quadrinho, pois quando ela lê o significado do que é um regime político democrático, ela ironiza-o, pois assim como Bakunin diz, tudo não se passa de uma ilusão que não garante verdadeiramente a liberdade do povo.
Milene Maeda
Fonte: https://falauniversidades.com.br/democracia-a-ilusao-da-liberdade-por-mikhail-bakunin/
agência de notícias anarquistas-ana
Joaninha caminha
no braço da menina.
Olhar encantado.
Renata Paccola
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!