Em diálogo com El Destape, Goldgel apresenta seu novo romance, Modesta Dinamita (editada pelo selo Blatt & Ríos), um percurso por várias vozes pela vida de Floreal, um gráfico anarquista.
Por Ignacio Dunand | 07/09/2021
Modesta Dinamita [Modesta Dinamite] não é um romance convencional. Usando o recurso narrativo de primeira pessoa e diferentes vozes para retratar um protagonista, o escritor Víctor Godgel se dispõe a contar a história de Floreal, um gráfico¹ anarquista. Por meio das pinceladas de sua vida, refletidas em capítulos viciantes nos quais se mescla a ternura e o humor com a violência e a incerteza de viver em uma Buenos Aires em disputa, o romance oferece uma análise minuciosa do anarquismo como movimento político. Em diálogo com El Destape, o autor apresentou seu último trabalho pelo selo Blatt & Ríos.
– Qual foi a inquietação que te levou a escrever Modesta Dinamita?
Várias coisas e situações me levaram a escrever Modesta Dinamita mas o horizonte que tive em todo momento foi querer contar a história de um anarquista, de nome Floreal, com a motivação de poder entender o que foi o anarquismo como movimento na Argentina, e inclusive o que significa hoje na prática.
Tive um familiar, um tio de minha avó, que se chamava Floreal. E era anarquista. Mas isso era o único que eu sabia sobre essa corrente. O romance foi um bom processo de aprendizagem que também me permitiu imaginar como tivesse sido a vida de alguém como ele, na Cidade de Buenos Aires, na década de 1920.
– O romance é uma ficção em que convivem situações e personagens reais. Que coisas te chamaram a atenção durante o processo de pesquisa?
Realidade e ficção foram se misturando de tal maneira que, hoje em dia, me custa diferenciá-las quando volto às páginas do livro. Os pequenos detalhes me surpreenderam. Trabalhei sobre conhecimentos herdados e adquiridos que qualquer pessoa com interesses políticos tem na Argentina: Simón Radowitzky, os anarquistas expropriadores estudados por Osvaldo Bayer, o atentado a Falcón, aspectos e figuras bem conhecidas da época.
Outra coisa que me chamou atenção, por exemplo, foi o fato de que alguém como Silvio Gesell (pai fundador da Villa Gesell) tivesse uma fama enorme na Europa como pensador de certos setores de um anarquismo ligado à propriedade e à imaginação de um mundo sobre as bases de liberdades individuais e liberdade privada. A verdade é que aprendi muitas coisas escrevendo Modesta Dinamita.
– Me atraiu a decisão narrativa que você tomou: vários personagens contam a história de Floreal, o protagonista.
Quando terminei de escrever meu primeiro romance – em terceira pessoa e com uma narrativa mais linear – fiquei com a curiosidade de como seria explorar a primeira pessoa e usar múltiplos pontos de vista, algo que outros escritores que admiro sabem fazer com muito talento. Daí que me propus fazer este complicado projeto. Poder encaixar todas estas vozes me levou 10 anos. Cada uma era um mundo, um romance inteiro. Conseguir que todas encaixem é um trabalho enorme.
– Que análise você faz do anarquismo na atualidade?
É um movimento heterogêneo que cada pessoa vive de maneira diferente. Por um lado, está a caricatura dos anarquistas. Pensam como pessoas que querem, basicamente, destruir o Estado e a sociedade pondo bombas. Essa caricatura de pensar as pessoas anarquistas como terroristas é muito recorrente na mídia. Lembro que quando Patrícia Bullrich era ministra da Segurança se utilizou muito essa imagem demonizada das pessoas anarquistas para pensar no ativismo Mapuche. De fato, há pouco circulou em Viedma um panfleto que falava de “anarco mapuches”.
Por outro lado, estão as pessoas que se inspiram em princípios anarquistas para organizar sua atividade política. Desde organismos como a Coordinadora contra la Represión Policial e Institucional (CORREPI), que tem como princípio básico se manter com uma distância absoluta com respeito ao Estado, até pessoas que levam o anarquismo à prática pedagógica em aulas e propõem junto às/aos estudantes a melhor maneira de se organizar.
[1] Aqui escolhemos a palavra “gráfico” para traduzir o original “imprentero”. A imprenta no idioma espanhol, significa a prensa ou a gráfica, no sentido de impressora de jornais, livros, etc.
Tradução > Caninana
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