Por Jonathan Thornton | 25/11/2021
A Country Of Ghosts, de Margaret Killjoy, é um livro extraordinário, um que demonstra o poder da ficção especulativa e fantasia como uma ferramenta para imaginar novas maneiras de viver fora de regimes repressivos. É costumeiro para resenhistas de fantasia preguiçosos comparar qualquer obra vagamente política de ficção especulativa e fantasia de uma escritora a Ursula K. Le Guin, mas, neste caso, o romance de Killjoy novel é um sucessor genuíno à exploração de uma sociedade anarquista e anticapitalista de Le Guin emThe Dispossessed (1974). A Country Of Ghosts traz um personagem de um poder imperial colonizador entrando em contato com uma sociedade anarquista em um mundo fantástico secundário do século XIX e,disso, Killjoy explora como uma sociedade utópica pode se organizar de uma forma radicalmente diferente da nossa com eloquência, cordialidade e humanidade. Originalmente publicado pela Combustion Books em 2014, A Country Of Ghosts é republicado este ano pela AK Press como o primeiro livro em sua série Black Dawn, dedicada a imaginar futuros anticapitalistas, anticolonialistas e antirracistas na honra das obras de Octavia E. Butler, o que dá um excelente tom à missão da linha.
A Country Of Ghosts conta a estória de Dimos Horacki, um jornalista de Borol que é enviado à linha de frente da guerra para trazer um relatório das façanhas do herói de guerra borolian Dolan Wilder. Viajando com o Exército Imperial, Dimos logo experimenta a brutalidade de Wilder e seus homens e a violência que impõem aos assentamentos locais nas montanhas Cerrac. Quando seu relatório honesto de testemunho visual é interceptado por Wilder, ele é enviado a uma missão suicida e capturado pela Companhia Livre do Mountain Heather. Dimos descobre que as montanhas são o lar do país anarquista de Hron e, como cria laços com a milícia e aprende sobre seu estilo de vida e cultura, é apresentado a uma forma de viver livre da opressão tirânica do Império Borolian.
Como muitos textos utópicos clássicos, a anarquia de Hron é mostrada a nós pelos olhos de um forasteiro, o que nos permite aprender sobre a cultura da sociedade e sua organização enquanto o protagonista aprende sobre ela. Dimos é um personagem excelente para isso; como um jornalista político, um homem gay e um órfão criado pelo Estado, Dimos tem um entendimento contrastante das várias camadas de opressão que modelam Borol. O Império Borolian é vagamente baseado no Império Britânico e seus métodos de expansão colonialista, seu uso de violência e seu apagamento de culturas indígenas, e sua redução de seu próprio povoa uma classe alta privilegiada e uma classe trabalhadora faminta e espezinhada são bem familiares. Dimos talvez tenha um cinismo saudável sobre o Império Borolian, o que o faz disposto a ouvir seus novos amigos que conhece em Hron, especialmente depois que viu em primeira mão as atrocidades cometidas pelo Exército Imperial, mas ele ainda tem muitas questões sobre como a sociedade em Hron funciona. À medida que explora as montanhas Cerrac, aprende algumas respostas àquelas perguntas por meio das várias personagens que encontra e com quem interage: Sorros Ralm, o miliciano que se torna seu primeiro amigo; Nola, sua parceira e uma mulher com uma brilhante mente militar; Grem, Dory, Joslek e Desil, os membros mais jovens de Mountain Heather com quem passa o tempo.
O que faz A Country Of Ghosts tão irresistível é que as lições de Dimos não são transmitidas simplesmente pela discussão com outras personagens, embora isso aconteça muito. Killjoy habilmente constrói seus argumentos ao deixar suas personagens dar o exemplo. O romance é uma ficção de ciência social excelente, espelhando várias formas diferentes em que as pessoas podem abordar a vida em uma sociedade anarquista. Através de Dimos, podemos ver em primeira mão como as Companhias Livres são capazes de auto-organização, sem ter que recorrer a cadeias de comando hierárquicas. Cada assentamento em Hron, desde os vilarejos de Holl e Molikari à grande cidade-refúgio de Hronople, tem seu próprio jeito particular de auto-organização, que é construído à base de liberdade, cooperação e respeito mútuo. Em contraste à pobreza e violência em Borol, as pessoas de Hron acharam uma forma de viver fora das restrições rígidas do capitalismo e império. Killjoy explora como uma sociedade pode operar com respeito à autonomia pessoal, ainda capaz de funcionalmente se unir e se defender,e na qual não há leis, mas ainda há consequências que previnem assassinatos e violência. Adicionalmente, essas liberdades permitem às pessoas de Hron uma existência livre das atitudes racistas e colonialistas do Império Borolian, com pessoas interagindo em um nível mais pessoal. Dimos descobre que, como uma pessoa queer, ele tem muito mais liberdade com os Hron para explorar sua sexualidade e para estar com outras pessoas do que jamais teve em Borol, e a diferença de como as várias pessoas que encontra trata estrangeiros, comparada à violência brutal que pessoas das montanhas Cerrac recebem nas mãos do Exército Imperial, é surpreendente.
A Country Of Ghosts funciona como uma exploração da anarquia e como literatura. O estilo de escrita de Killjoy é ponderado e elegante, e a estória é estruturada em volta de vários conflitos armados entre as Companhias Livres e o Exército Imperial, criando considerável ação e tensão para manter o leitor interessado. As personagens de Killjoy são humanas e credíveis e ela não recorre a atalhos ou respostas fáceis para trazer para casa seus argumentos políticos a marteladas. É um romance que ficará comigo por muito tempo e estou ansioso para ler mais obras de Killjoy e ver onde a AK Press leva sua série Black Dawn daqui em diante.
Tradução > Sky
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