Por Eslla Fassler | 31/01/22
Projetos de fonte aberta inspiram ativistas a distribuir aquecedores seguros para barracas que podem ser feitos por apenas $7.
À medida que as temperaturas caem acentuadamente e o número de desabrigados aumenta nos Estados Unidos, anarquistas formam uma rede descentralizada que constrói e distribui aquecedores seguros para barracas, à base de álcool, para pessoas desabrigadas.
“O projeto não é algo novo, foi desenvolvido ao longo dos anos, de muitas formas diferentes”, escrevem os membros do HeaterBloc, um coletivo de base em Portland que lançou o guia de código aberto para a construção dos aquecedores, em uma mensagem à Motherboard. “Começa com uma ideia, então se constrói em cima dela. Ela evolui, espalha-se, toma vida própria. Este ano, tivemos apenas sorte o suficiente para decidir por um design seguro e eficiente em termos de custo-benefício”.
As unidades custam cerca de sete dólares cada quando seus componentes são comprados no atacado, e eles podem ser usados para cozinhar e aquecer pequenos ambientes por horas. Se o aquecedor cai, a chama automaticamente se apaga e, com a ventilação apropriada, o risco de intoxicação por monóxido de carbono é mínimo porque alcoóis isopropilos entram em combustão de forma limpa.
O guia de instruções foi traduzido para diversos idiomas e grupos que constroem e distribuem os aquecedores artesanais apareceram em áreas rurais e cidades grandes pelos Estados Unidos, incluindo em Pittsburg, Filadélfia, Nova Iorque, San Diego, Atlanta, Tacoma, Kansas City, Dallas, Kalamazoo, Elm Fork, Texas e Spokane, em Washington. Alguns grupos estão começando a explorar a adaptação do design para uso em campos de refugiados, em áreas que passaram por faltas severas de energia como no Texas e para o número crescente de pessoas nos Estados Unidos que não têm acesso a utilidades.
De acordo com princípios anarquistas, a rede opera sem hierarquias e cooperativamente. “Ver a comunidade que surgiu em torno dessa necessidade e ver as pessoas tomarem atitudes reais para ajudar comunidades desabrigadas com a questão do aquecimento por todo o país é incrível porque isso está literalmente salvando vidas”, escreve o coletivo. “Isso é tudo que realmente importa”.
Entre 2000 e 2019, aproximadamente 5 milhões de pessoas morreram no mundo inteiro por questões relacionadas ao frio. Nos Estados Unidos, algo entre 580,000 a 1.5 milhões de pessoas ficaram desabrigadas antes da pandemia, e a falta de suporte financeiro durante a crise exacerbou o problema. Em muitos lugares, o governo local e a polícia responderam a isso destruindo comunidades de tendas com escavadoras e tentando forçar as pessoas a abrigos que são geralmente lotados e que não são seguros — quando abrigos são ofertados.
“É difícil expressar ao cidadão médio como é estar desabrigado no inverno”, escrevem os membros do HeaterBloc em sua declaração. “Um frio inescapável que enche seus pulmões com gelo e faz com que não sinta suas extremidades. Um frio úmido que leva seu corpo à exaustão e que você faria qualquer coisa para escapar dele”.
Meadows*, um membro que já foi desabrigada de um grupo de apoio mútuo com base em Seattle que está construindo os aquecedores, conta à Motherboard que o projeto reduz os danos em variados níveis. Pessoas desabrigadas com frequência são forçadas a queimar lixo em suas barracas para se aquecer, o que as coloca em risco de intoxicação por monóxido de carbono e danos cerebrais. Aquecedores também preservam a autonomia das pessoas e sua segurança ao permiti-las rejeitar ter que dormir com estranhos pela sobrevivência e reduzem o uso de drogas.
“Há uma porcentagem muito grande de pessoas desabrigadas que não usa drogas, e a razão pela qual estão em condição de rua não tem a ver com drogas”, diz Meadows, que pediu para ser identificada com o pseudônimo porque grupos de apoio mútuo são alvos frequentes da polícia e de agitadores de direita. “Contudo, as drogas fazem você sentir mais calor, além de ajudarem a passar o tempo, e fazem a situação ‘luta ou vaza’ mais suportável. Quando grupos de apoio mútuo são realmente capazes de fornecer mais aquecedores às pessoas, vimos realmente uma redução no uso de drogas e um aumento no número de sorrisos”.
Meadows diz que observou as pessoas se tornando mais alertas quando recebiam os aquecedores. “Toda semana, durante o inverno, eles já estavam à beira da hipotermia”, afirma. “Então voltamos para a manutenção dos aquecedores, eles estavam completamente diferentes. Estavam ativos e presentes. E, estavam tipo, ‘uau, esses aquecedores são incríveis'”.
Mas, na realidade, todas as pessoas merecem moradias aquecidas reais, dizem os grupos de apoio mútuo. O projeto suplementa a organização dos moradores, defesa contra despejos e tomada de prédios vazios, os quais pretendem assegurar que todos tenham um teto.
“Quando você é pobre, não tem voz. Quando está desabrigado, não é tratado como ser humano. Nosso desejo é que o HeaterBloc não fosse mais necessário”, escreve o HeaterBloc. “Que a sociedade aceitasse e cuidasse de todos os seus membros, reconhecendo que a moradia é um direito humano ao invés de um luxo”.
Tradução > Sky
agência de notícias anarquistas-ana
pinga torneira
tic tac do relógio
luz com poeira
Carlos Seabra
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!