O famoso guerrilheiro antifranquista, que promoveu a exumação, morreu pouco antes de seu centésimo aniversário.
Por Natalia Junquera | 07/02/2022
Em janeiro de 1937, no meio da Guerra Civil, 26 residentes de Angüés (Huesca) foram assassinados por pertencerem a CNT. Eles foram retirados da prisão provincial e executados sem julgamento ou sentença. O mais jovem tinha 19 anos, o mais velho 55. Entre eles havia cinco grupos de irmãos. Neste domingo, seus familiares puderam enterrá-los em um lugar digno, com seus nomes e sobrenomes, no cemitério de Huesca graças à associação ARICO, que, junto com o Círculo Republicano Manolín Abad de Huesca, promoveu a exumação das sete valas comuns em que foram sepultados e, sobretudo, graças à vontade de Martín Arnal, guerrilheiro antifranquista, referência histórica do anarcossindicalismo aragonês e o primeiro a solicitar a abertura destes locais de sepultamento clandestinos. “Ele morreu há alguns meses, à beira de completar 100 anos de idade”, explica Javier Ruiz, arqueólogo. “Ele nos acompanhou durante todo o processo de exumação. Ele conhecia todas as vítimas, queria encontrá-las para que todas pudessem ser enterradas com dignidade, e tê-lo lá enquanto abrimos a cova contando-nos como elas eram impressionante. É uma pena que ele tenha perdido o evento de hoje”.
Arnal, como muitos outros parentes das vítimas, foi para o exílio na França até a morte de Franco. Neste domingo, sua filha e neta estiveram presentes à homenagem, na qual lembraram que ainda há muitas sepulturas a serem abertas. Román, um dos irmãos de Martín, estava em um dos sete que foram exumados graças a uma doação da Diputación de Huesca. Outro de seus irmãos, José, também foi assassinado em agosto de 1936, mas seus restos mortais ainda não foram recuperados.
Ao lado da pedra tumular foi erguida uma escultura com 26 perfurações, uma para cada uma das vítimas que foram atingidas por balas em janeiro de 1937. A cerimônia contou com a presença de representantes de todos os níveis de governo: o conselho provincial, as prefeituras de Huesca e Angüés e o Ministério da Presidência. Diego Blázquez, Diretor Geral da Memória Democrática, lembrou que a busca, localização e identificação daqueles que desapareceram durante a Guerra Civil e a ditadura “representa uma dívida urgente” que a Espanha deve resolver “por razões de humanidade e coexistência”. Blázquez elogiou a dedicação e a generosidade das associações memoriais na promoção de exumações e fechamento de feridas, e lamentou que Martín Arnal tenha morrido antes de ver os resultados de seus esforços. “Infelizmente, em casos como este, estamos muito atrasados”. O diretor geral da memória democrática encerrou seu discurso recordando María Domínguez, “a primeira prefeita democrática, uma ilustre aragonesa que também perdeu sua vida e seu nome enterrado sob a terra anônima” e cuja memória foi reabilitada recentemente pelo Governo de Aragão.
“Foi um evento muito emotivo”, resume Javier Ruiz, vice-presidente da Arico. “A primeira vez que começamos a falar sobre isto foi em 2017. Estávamos muito interessados em entregar os restos mortais a seus parentes para que eles pudessem encerrar seu luto”.
Tradução > Liberto
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