Queremos acreditar que as nossas posições sobre o que se está a passar na Ucrânia serão claras para a maioria dxs leitorxs do Jornal MAPA, mas, para o caso de não serem, aqui vão:
Estamos contra esta guerra. Nem Putin, nem Otan. Antimilitaristas, não tomamos campo entre quem bombardeia, seja o exército ucraniano sobre Donbass, sejam os mísseis e tanques de Moscou sobre a Ucrânia. Tomamos partido, sim, por quem sofre a força bruta dos nacionalismos, por quem sai à rua com a coragem para deixar claro que os povos têm outra maneira de se relacionar.
Pessoas na Ucrânia, antiautoritárias, antifascistas, ativistas LGBT, algumas das quais mantêm projetos de mídia independentes, pedem a nossa solidariedade enquanto combatem a invasão nas ruas. E ao mesmo tempo sempre disseram #FckZouaves #FckAzov #FckImperialism. Para os que escrevem que “os movimentos da praça de Maidan em 2014 foram de extrema-direita, financiados pela CIA”, aconselhamos a leitura do texto “Guerra e Anarquistas: Perspectivas Antiautoritárias na Ucrânia”, escrito em coletivo e publicado no CrimethInc. pela primeira vez a 15 de fevereiro de 2022, que dá conta da complexidade e da participação de antifascistas nas lutas que derrubaram o governo da altura. Rejeitamos a propaganda de que “são todos nazis”, como afirmam Putin e os seus simpatizantes. Essa que diz que “o meu imperialismo é melhor que o teu”.
Repetimos hoje as palavras que William Sands escreveu para o Jornal MAPA em 2015: “Simplificar a guerra atual na Ucrânia, ou como uma batalha entre os interesses democráticos ocidentais e as aspirações imperiais pós-soviéticas, ou como movimentos políticos neo-fascistas e lutas de libertação nacional, não ajuda à compreensão das verdadeiras causas desta guerra”.
Distanciamo-nos de quem diz coisas como “a Rússia foi provocada e tem direito a retaliar”. Afirmações como esta sugerem um processo de desculpabilização de ações inaceitáveis. O atual governo russo, que desenvolve há anos um projeto imperialista, pretende agora subjugar outro país – bastante rico em matérias-primas como urânio, carvão, gás natural, e grandes produções agrícolas –, ao mesmo tempo que reprime constantemente as vozes dissidentes internas.
Estes mesmos recursos interessarão também a Joe Biden, cujas políticas imperialistas são igualmente reconhecidas. No entanto, ser contra o imperialismo norte-americano não pode significar que se desculpe outro imperialismo. Tal como escrito no texto do CrimethInc.: “O imperialismo russo moderno baseia-se na percepção de que a Rússia é a sucessora da URSS – não no seu sistema político, mas em termos territoriais. O regime de Putin vê a vitória soviética na Segunda Guerra Mundial não como uma vitória ideológica sobre o nazismo, mas como uma vitória sobre a Europa que mostra a força da Rússia.”
Neste momento, seguimos com atenção as situações de Chernobyl e de outras centrais nucleares da Ucrânia, atos bélicos próprios de quem não olha a meios para atingir os seus fins.
A lei marcial imposta na Ucrânia obriga a que todos os homens entre os 18 e os 60 estejam proibidos de sair do país. São aconselhados a pegar em armas e a defender a sua “pátria”. A guerra evidencia que o patriarcado, expresso de forma natural nos nacionalismos e nas disputas pelo poder de Estado, é uma brutalidade para todas as pessoas.
Estamos solidárias com todas as pessoas na Ucrânia que foram apanhadas por uma guerra que não compraram, bem como com a diáspora ucraniana espalhada por vários países. Sabemos que os imigrantes ucranianos que vivem em Portugal se têm encontrado em vigílias nas cidades de Lisboa, Porto e Faro e estamos atentas. Possíveis refugiados/as serão bem-vindxs.
Rejeitamos ainda qualquer russofobia. Expressamos toda a nossa solidariedade com o povo russo, que irá sofrer uma crise sem precedentes, e estamos a seguir organizações de apoio aos detidos em manifestações contra a guerra que tiveram lugar imediatamente em território russo (a imagem em destaque neste texto é mostra a Polícia antimotim russa a prender uma manifestante cuja máscara diz “Não à guerra”.). Ao longo dos próximos dias, iremos partilhar informação sobre projetos de base em vários países da região, que nos inspiram com as suas ações de solidariedade e de resistência.
Esperamos que as nossas palavras não sejam confundidas com outros discursos que acabam por legitimar esta guerra. Após 10 anos de jornal Mapa, queremos que as nossas posições sobre os interesses das classes dominantes e das elites e oligarquias políticas, o militarismo, a Otan e a Europa-fortaleza estejam claras.
jornalmapa.pt
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