
O período da pandemia tornou a vida das mulheres muito mais difícil. Esses dois anos de uma complicada situação causada pela COVID-19 e por sua resposta abriu caminhos para a intensificação de nossa exploração, a precarização da vida e o acirramento da violência contra as mulheres. Aproveitando o caos gerado pela peste, os de cima também colocaram em prática uma política de extermínio de direitos, impedindo o avanço de pautas essenciais às mulheres.
O impacto mais profundo se sente na mesa: vivemos uma situação de miséria generalizada, a palavra carestia voltou a nossas bocas quando o custo da comida, do gás e tudo o que é mais básico ficou muito mais caro. A comida acabou na geladeira de muitas casas, o desemprego se intensificou e os poucos trabalhos que restaram pagam mal e têm poucas garantias – muitos não trazem direitos essenciais como o salário mínimo, afastamento em momentos de doença, férias e 13º salário. Quando a fome atinge o povo tão drasticamente, atinge diretamente a vida das mulheres. Muitos lares são mantidos por mulheres, sendo elas, muitas vezes, as únicas provedoras das crianças. O mesmo agronegócio que exporta soja, incentivado também com dinheiro público, enquanto padecemos a alta dos preços da comida, envenena nossa saúde e o leite materno com o uso dos agrotóxicos. E isso nos mostra o quanto esse cenário de miséria é produzido pela aliança entre Estado e capitalismo. Assim, somos atingidas triplamente por uma política da fome e da morte e da retirada de direitos.
Quando o desemprego bate mais forte nas mulheres, especialmente quando uma em cada três mulheres negras estão desempregadas, a dependência econômica e junto a ela as agressões psicológicas, morais, sexuais e físicas, passam a fazer parte do cotidiano de muitas. Além disso, com todo o adoecimento, sobrou para as mulheres o trabalho de cuidar. Mais da metade das mulheres de nosso território passou a cuidar de outras pessoas, acumulando o trabalho de prover e pagar as contas, o cuidado da casa e dos doentes. Condenadas a sair para trabalhar sem conseguir se proteger do vírus e ficar o resto do tempo em casa para se afastar da chance de infecção, muitas companheiras mulheres se depararam com a violência e o feminicídio.
A subnotificação desses casos sempre foi grande e piorou ainda mais com o os ataques e o desmonte progressivo do Sistema Único de Saúde – SUS e do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, além da dificuldade de acesso à denúncia e às medidas protetivas, dada a paralisação, o despreparo e a ineficácia do atendimento em delegacias especializadas e instituições jurídicas e de apoio. Com isso, sentimos o luto de quatro assassinatos de mulheres todos os dias em 2021, cometidos por seus próprios maridos ou ex-maridos, namorados, noivos, mantendo o Brasil na 5ª posição mundial em taxa de feminicídios.
Desse modo, as dificuldades que nós mulheres – negras, indígenas e periféricas – enfrentamos para viver aumentaram de uma forma alarmante. Ocupadas e assoladas por esses ataques, foi necessário nos mobilizar para sobreviver, para construir redes de solidariedade, apoio mútuo e autodefesa de nossos corpos e de nossas comunidades. Estagnaram nossos avanços em muitas outras pautas, como a luta pela educação sexual; ampliação de acesso a métodos contraceptivos e aborto de gestação; meios de proteção contra a violência doméstica e patriarcal; e a garantia de trabalho e remuneração dignos para as mulheres. Todas essas lutas urgentes para garantir as nossas vidas.
Resistir aos ataques
Este 8 de março anuncia a entrada de um ano difícil e fundamental para a luta dos e das de baixo. Um ano no qual se acirram as tensões políticas e as ameaças de ataques cada vez mais profundos dos capitalistas e da direita conservadora e protofascista, que desejam destruir ainda mais os direitos das mulheres trabalhadoras.
Para este ano, nossa resposta é fincar cada vez mais nossos pés no território e nos espaços sociais das classes oprimidas. É tomar para nós a responsabilidade por nossa libertação, e pela construção e luta por pautas que ampliem nossos direitos. Nosso caminho é a auto-organização, o ombro a ombro, e a rebeldia de quem já busca no hoje a construção de um mundo novo com socialismo e liberdade, e, por isso, necessariamente feminista, antirracista e anticapitalista.
ARRIBA LAS MUJERES QUE LUCHAN!
CONTRA O ESTADO, O CAPITALISMO E O PATRIARCADO!
MULHERES FORTES CONTRA A POLÍTICA DA FOME E DA MORTE!
Coordenação Anarquista Brasileira
Março de 2022
cabanarquista.org
agência de notícias anarquistas-ana
A vasta noite
não é agora outra coisa
se não fragrância.
Jorge Luis Borges
Perfeito....
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!