A cada período eleitoral os partidos políticos lançam plataformas detalhando suas promessas passo a passo. Essas plataformas não são seguidas à risca — políticos raramente cumprem suas promessas e muitas vezes é até melhor que não as cumpram — mas oferecem um esboço da visão de mundo que cada partido diz representar. Anarquistas têm uma abordagem diferente: em vez de oferecer um projeto pré-fabricado, propomos trabalhar as coisas em coletivo, de forma dinâmica, em acordo com os princípios de autodeterminação, horizontalidade, apoio mútuo e solidariedade. Ainda assim, sempre que as pessoas têm contato com ideias anarquistas pela primeira vez, sempre tem alguém que quer ver um modelo claro. Para responder a isso, reunimos um exemplo de programa anarquista — um conjunto de propostas que poderiam ser colocadas em prática no decorrer de uma revolução — como um exercício imaginativo, para tornar mais fácil imaginar que tipo de mudanças práticas anarquistas podem querer aplicar aplicar.
Para deixar claro, este programa não representa nosso coletivo como um todo, nem o movimento anarquista internacional. Devem haver tantos programas quanto anarquistas no mundo. Ao ler isso, reflita sobre o que ressoa e o que não ressoa; pense sobre quais mudanças você deseja fazer no mundo e quais meios de mudança são consistentes com seus valores e desejos.
Como Usar Esse Programa
O que temos a seguir é o oposto de um programa político comum. Não está entalhado em pedra e não pretende representar uma vontade geral, o público, o povo ou qualquer abstração desse tipo.
Anarquistas entendem a liberdade como decorrente de um processo contínuo; é algo que criamos individualmente e em comunidade todos os dias de nossas vidas. Na nossa opinião, a liberdade não pode ser definida por um pedaço de papel em uma urna, nem concedido a nós por uma instituição que concentra todo o poder de decisão e implementação. Cada uma dessas práticas, na verdade, destrói a liberdade. Acreditamos também que definir e alcançar liberdade para nós mesmas é a melhor forma de garantir nosso bem-estar.
As análises anarquistas do capitalismo, do estado, do patriarcado e do colonialismo se mostram úteis em inúmeras lutas sociais nas últimas décadas, assim como nossas críticas ao reformismo, revolução autoritária e esquerda institucional. E, talvez o mais importante, assim mostraram nossas práticas de apoio mútuo e auto-organização. As formas anarquistas de luta também se mostraram compatíveis com uma série de outras lutas que deixaram sua marca no mundo, bem como influenciar e informar o anarquismo como um conceito vivo.
Não apresentamos um programa com a premissa de que podemos reivindicar uma verdade absoluta, nem de que esse programa possa abordar todas as visões de libertação com as quais atuamos solidariamente. Além de apresentar uma visão completa, ainda achamos a necessidade de expressar alguma visão, não importa quão parcial. A experiência recente mostrou que não podemos vencer uma revolução que nem sequer somos capazes de imaginar.
Esse é o principal propósito deste documento: ajudara a imaginar que mudanças começaríamos a trabalhar em se nós conseguíssemos abolir o governo ou criar uma zona autônoma. Nenhuma proposta aqui é uma verdade absoluta que queremos impor, forçando todo mundo a apoiar uma única visão do que é liberdade e revolução. Em vez disso, este documento oferece um jeito de ver princípios e objetivos que muitos de nós lutariam por, que inevitavelmente mudariam e cresceriam ao longo do caminho enquanto entramos em conflitos e diálogos com outras pessoas com outras visões. O ponto não é convencer todo mundo de que nossa visão de liberdade é a correta. Estaremos mais livres quando cada um de nós puder imaginar nosso melhor mundo possível a cada momento.
Nem as pessoas escrevendo, publicando e traduzindo acham que este documento é um programa político válido ou uma proposta completa. Nossa esperança é que isso servirá de um ponto de partida para discussão e debate, ajudando pessoas a articular visões semelhantes, conflitantes ou simplesmente diferentes. Quanto mais pessoas imaginarem o mundo dos seus sonhos e refletirem sobre como incontáveis tais mundos podem caber em um único mundo, rompendo com o projeto homogeneizador ocidental, maior será nossa inteligência coletiva.
Este programa lida com alguns tópicos doloridos que nenhum único coletivo tem o direito de decidir sobre. Nós concluímos que seria menos danoso abordar estes tópicos de forma imperfeita do que evitá-los completamente e fingir que eles não existem. Nós esperamos que nossas tentativas inadequadas irão inspirar outros a fazerem melhor. A incompletude deste programa expressa um princípio anarquista fundamental: ninguém nunca pode expressar as necessidades de todo mundo. O que quer que esteja faltando, cabe a você preencher, e a todos nós apoiar uns aos outros durante o processo de cumprirmos isso juntos.
No fim deste documento, existe um pequeno glossário que explica o que queremos dizer quando usamos certos termos.
>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:
https://es.crimethinc.com/2022/05/20/como-seria-um-programa-anarquista-um-exercicio-de-imaginacao
agência de notícias anarquistas-ana
outono
outrora
era outro
Alonso Alvarez
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!