[México] “Consideramos isto como um crime de Estado”

Posicionamento lido no protesto contra o assassinato de 39 migrantes nas instalações do INM em Ciudad Juárez.

A liberdade não descerá ao povo. O próprio povo deve ascender à liberdade” – Emma Goldman

Estamos aqui para denunciar o terrível assassinato de 39 pessoas de diferentes nacionalidades ocorrido na segunda-feira, 27 de março de 2023, nas instalações do instituto nacional de migração em Ciudad Juarez, México. Neste momento, outras 20 pessoas estão em leitos hospitalares, lutando por suas vidas.

Lutando por suas vidas. Esse foi o único crime que essas pessoas cometeram, porque vieram a esta cidade na fronteira em busca de um futuro melhor, fugindo da violência que o capital provoca nos países da periferia e depois nos obriga a absorver em nossos corpos construindo muros e prisões que sem escrúpulos chama de “abrigos”.

Queremos deixar claro que consideramos isto como um crime de Estado. Repetimos. É um crime de Estado: as pessoas morreram como consequência de uma série de atos e omissões do Estado quando foram ilegalmente privadas de sua liberdade, após terem sido criminalizadas nas ruas de Ciudad Juárez; a estas detenções ilegais e arbitrárias devemos acrescentar que a situação das estações migratórias, estadias provisórias e outros lugares criados sob a lei de migração são centros de detecção que se transformaram em centros de extermínio nos quais as pessoas são privadas de sua liberdade, superlotadas e trancadas com cadeados. Neste contexto, afirmar que o que aconteceu é o trabalho das próprias vítimas é um verdadeiro desafio às regras mais simples da lógica e do direito internacional dos direitos humanos.

Em várias ocasiões, organizações não governamentais e centros de direitos humanos denunciaram as condições de privação ilegal da liberdade e superlotação nesses centros de detenção, bem como práticas sistemáticas de detenção, dissuasão e deportação. Assim, sabemos que o espaço físico em que os detentos são mantidos é pequeno e sem ventilação. As organizações têm denunciado repetidamente as práticas de detenção sem comunicação, a falta de assistência médica e de água potável, bem como a contínua desinformação para dissuadir as pessoas de procurar asilo, que é um direito humano estabelecido no sistema internacional. Todas essas práticas violam a dignidade das pessoas e fazem parte de uma cadeia de circunstâncias que levaram às mortes lamentáveis que hoje têm toda a Ciudad Juárez em luto.

Quem é o culpado? Aquele que com desdém e xenofobia não abriu o cadeado? Aquele que só observava enquanto as celas queimavam? Aquele que conhecia a situação destes centros de detenção deu luz verde para a continuação destas políticas de extermínio? Ou aquele que tem o poder chama estes centros de extermínio com eufemismos como “abrigos” e ainda tem o cinismo de culpar as vítimas de sua política migratória de GENOCIDA?

Exigiremos justiça. Justiça para as vítimas e suas famílias. E também exigimos o fim dessas políticas de migração que criminalizam as pessoas em movimento. Um fim às fronteiras que separam os seres humanos. Um fim para as nações que nos oprimem e nos dividem.

A solidariedade do povo de Juarez com todas as pessoas em mobilidade.

Nenhum ser humano é ilegal,

Sem fronteiras, sem bandeiras!

A migração não é um crime, a livre mobilidade é um direito humano.

Morte ao Estado, que viva a Anarquia!

La Cizaña Trashumante, projeto de difusão anarquista, Ciudad Juárez, México 29 de março de 2023.

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

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Urhacy Faustino