A guerra supõe o fracasso do espirito humano, o sofrimento dos setores mais vulneráveis, e o negócio dos poderosos. Se queres a paz prepara a paz, não a guerra. A paz é a revolução mundial do proletariado.
Por Alfonso Aramburu Suárez, Antimilitarista e Ex-membro do MOC, SOS Balkanes e Assembleia de Não Violência de Euskadi | 04/05/2023
Nas guerras de hoje, são as mulheres e homens da classe trabalhadora, uma vez mais, os que suportam em seus corpos, em sua economia e em suas condições de vida, o maior impacto do dano causado. Porque as guerras não são entre nações, nem entre culturas, mas entre interesses, fundamentalmente de ordem econômica: a guerra não é um método de resolução de conflitos, mas uma arma de subjugação das pessoas e espolio dos povos.
Na atualidade, a guerra é inerente ao sistema neoliberal capitalista, que expolia o planeta e impõe desigualdades cada vez maiores entre os seres humanos. A economia de guerra, global e permanente, supõe – entre outras calamidades – o aumento da transferência da riqueza das maiorias às elites, como estamos vendo com os obscenos benefícios declarados das multinacionais e os menos conhecidos do complexo militar-industrial, que se converte em um dos setores mais rentáveis de uma economia capitalista caída que, como vemos, recorre à morte e à destruição para manter a alta dos lucros das elites.
Por tudo isso, neste Primeiro de Maio, a classe trabalhadora reivindicamos, além das exigências clássicas da data assinalada, também o cessar das hostilidades armadas e a não colaboração com os que estimulam, legitimam e ordenam as matanças. Reivindicamos, também, a reconversão da indústria armamentista para fins de caráter civil e ambiental.
No entanto, desde certo sindicalismo cada vez mais corporativistas – incluídos muitos dos sindicatos que ainda se proclamam de classe – segue se colocando como prioridade a manutenção do emprego acima de qualquer outra consideração.
Nos dizem desde estas forças sindicais – e também políticas –, que seria suicida para seus interesses corporativos invocar qualquer mudança que possa supor pôr em perigo os postos de trabalho, incluída a conversão da indústria militar. Há quem recorre ao velho argumento das famosas condições objetivas, que segundo dizem não se dão neste momento para reivindicar este tipo de coisas – que o pobre obreiro não entenderia…– para acusar de utópicos a nós que as defendemos.
Na realidade, isto não é nem um pouco novidade. Uma parte do movimento obreiro sempre se alinhou com seus Estados-nação correspondentes, priorizando sua vinculação nacional a seu pertencimento de classe em situações de guerra, com os mesmos argumentos falaciosos que esgrimem agora.
Talvez não seja tão conhecida essa outra parte da classe trabalhadora organizada que se opôs firmemente ao belicismo, inclusive declarando greves nas fábricas de armas e chamando à deserção dos soldados-obreiros nas guerras interimperialistas, como a que vivemos agora mesmo, ou frente às guerras imperialistas contra os povos oprimidos.
O movimento espartaquista alemão ou os Industrial Workers of the World nos Estados Unidos, assim como o anarcossindicalismo ibérico se posicionaram claramente contra a guerra, e deixaram bem claro a origem capitalista-imperialista de guerras às quais se opuseram com todas as suas forças.
Também o feminismo anticapitalista se vinculou logo à luta contra as guerras, e o congresso de Haya contra a Primeira Guerra Mundial iniciou um caminho de feminismo antimilitarista que ainda perdura.
De maneira que quem ontem e hoje defendem, desde a esquerda, a indústria militar como fator de desenvolvimento e criação de postos de trabalho, na realidade estão comprando seus argumentos do inimigo de classe e do patriarcado, que é quem sai realmente favorecido da economia de guerra.
A guerra em primeira linha a leva majoritariamente a classe trabalhadora, com armas fabricadas pela classe trabalhadora, sob as ordens de governos eleitos, em ocasiões, pela mesma classe trabalhadora que a sofre. Nos matamos seguindo as ordens e acatando decisões políticas emitidas desde cômodos escritórios longe dos lugares de destruição.
A classe trabalhadora majoritariamente é a que compõe as massas de pessoas refugiadas expulsas de suas vidas e trabalhos, convertidas em exiladas forçadas ou em carne de canhão. Os exércitos, as armas, não garantem a paz e a segurança, pelo contrário. Por isso nos opomos ao comércio e ao envio de armas a qualquer país, assim como aos envios de forças militares aos cenários bélicos.
Por outro lado, a respeito do incremento do gasto militar aprovado nos parlamentos e imposto pela OTAN, não podemos senão rechaçá-lo, e propor que essa grande quantidade de capital se destine a fins sociais (pensões, saúde, educação, etc.) junto ao apoio social e institucional a insubmissos e desertores de todas as guerras.
Não há nenhuma lei econômica que negue a possibilidade da conversão da indústria militar em civil, pelo menos se temos uma concepção saudável da economia como a fórmula para manter o sustento da humanidade e não como uma teologia de mercado em benefício dos poderosos.
Existem numerosos exemplos de conversão. Por exemplo, no início do século passado, se deu a exitosa conversão de parte da indústria armamentista basca em fábricas de bicicletas, como a prestigiada marca ORBEA, quando alguém se deu conta de que sua experiência em fabricar tubos para escopetas e revólveres poderia servir igualmente para fabricar bicicletas ou carrinhos para bebês.
A criatividade humana é perfeitamente capaz de levar a cabo a conversão da indústria militar se há vontade para fazê-lo. A ciência econômica e a política deveriam dedicar-se a facilitá-la e possibilitá-la em vez de pôr obstáculos e desculpas para não levá-la a cabo.
Faz tempo que deveríamos ser conscientes de que não se trata só de distribuir a riqueza e o trabalho, mas que também há que questionar para que serve esse trabalho e essa riqueza. Para a morte ou para a vida?
Se queres a paz prepara a paz, não a guerra. A paz é a revolução mundial do proletariado.
Fonte: https://www.elsaltodiario.com/antimilitarismo/antibelicismo-paz-clase-proletariado-patriarcado
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!