Autor: Júlia Cruz | Data: 20 de janeiro de 1918 | Fonte: A Greve, N.º 23 – Ano 1 (2.ª Série)
No presente momento em que as grandes nações se batem por uma luta de interesses, as classes produtoras morrem pelas ruas de fome e frio. Que situação horrorosa a da classe trabalhadora, criada por indivíduos que nenhum respeito nutrem pela existência dos que tudo produzem. Donde provém este mal? Da desorganização da classe operária, e sobretudo da má educação que existe no elemento feminino que este período tem um papel importante a desempenhar na momentosa questão da carestia da vida.
Há uma necessidade absoluta de se organizarem os trabalhadores dentro dos seus sindicatos profissionais, ás mulheres se reconhece as mesmíssimas necessidades de se organizarem para a grande luta de amanha em face da situação desgraçada em que se encontra a sociedade atual.
A mulher tem um papel importante a desempenhar, e como tal, tem-se de lhe fazer sentir de que ela não deve ser a besta de carga no lar, uma boneca de cordelinhos, que se mexe para todos os lados, que o homem entende que a deve levar.
As classes dominantes têm conservado sempre a mulher na maior ignorância para mais facilmente a poderem dominar; têm procurado mantela sempre na escravidão, e para impedir que saia da sua condição, triste rodearam-na de ridículas preocupações, menosprezaram o seu trabalho, a sua influência na sociedade; anularam-na na família e colocaram-na em segundo lugar: criaram a honra para que não queira ser escrava, a sociedade a vilipendie. Estou certa que muitas das minhas companheiras de infortúnio ao lerem isto deixarão assomar aos lábios um sorriso de desdém; parecer-lhes-á que digo um absurdo ou uma loucura; mas se se detiverem a reflexionar compreenderão que o que lhes digo não é nenhuma invenção minha, mas o reflexo do que se passa na sociedade.
A nós que nos querem senão pelo proveito que podemos dar, ora satisfazendo os caprichos dos imbecis, ora para que trabalhemos sem descanso, sem se lembrarem jamais que nós também temos um coração capaz de sentir generosos impulsos e um cérebro que pode conceber e assimilar ideias científicas e nobres.
A nós obrigam-nos brutalmente a seguir a vontade de outro… a esposa do burguês pode gozar as caricias do amor. A mulher do trabalhador apenas tem tempo para ouvir os toeses insultos que este no seu desespero lhe dirige. Terá o inefável consolo de que se seu filho é soldado e seu esposo está em greve, faça fogo sobre ele; em troca poderá, para compensar estes benefícios, morrer de fome sem maldizer os causadores da sua desgraça, porque então seria uma má patriota.
Companheiras: visto que todos são contra nós, visto que sobre nós querem desafogar as suas iras e fazer-nos alvo das suas infâmias, unamo-nos, mas duma maneira enérgica, que não de azo a que nos continuem considerando como essas débeis e incapazes. Não sejamos por mais tempo ruins e cobardes; e para nos libertar do jugo capitalista e da escravidão do homem bestializado pelo meio social existente unamo-nos todas numa só força, para assim levarmos a cabo a nossa emancipação. O momento aproxima-se da grade hecatombe burguesa, e nós mulheres preparemo-nos numa só força, para quando for preciso vira á rua protestar contra a especulação dos capitalistas, as mulheres sejam o porta-voz da sua libertação moral e material.
Fonte: https://ultimabarricada.wordpress.com/2023/04/06/mulheres-unir-fileiras/
agência de notícias anarquistas-ana
Branco instante
entre verde e azul:
garça ou pensamento.
Yeda Prates Bernis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!