No marco do décimo oitavo “Atlanticazo” realizado pelas comunidades costeiras em defesa do mar, ante os avanços dos projetos petroleiros, no “Enredando Las Mañanas”, entrevistamos Fernanda, integrante da Assembleia por um Mar Livre de Petroleiras. Contou sobre as mobilizações deste último 4 de junho, às quais se somam cada vez mais localidades costeiras, chegando até Ushuaia. Informou sobre o que ocorre no Golfo San Matías, com a tentativa de construir um porto e oleoduto para exportar hidrocarbonetos provenientes de Vaca Muerta e quais são os avanços dos diversos projetos petroleiros. Detalhou a função do Ministério de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação, que aprova informes de impactos ambientais insuficientes e não ouvindo a voz de moradores nas audiências públicas. “Há toda uma campanha publicitária, notas públicas, permanentemente falando a favor da indústria Petroleira, da excelência da tecnologia, ocultando a verdadeira informação sobre os impactos negativos que gera em todos os territórios. E menosprezando as comunidades que nos organizamos inclusive até tratando-nos de “fascistas ambientais” para isolar-nos da população.”, afirmou. Por Rede Nacional de Meios Alternativos.
Conte-nos sobre o “Atlanticazo” de domingo e desde quando já vêem saindo todos os 4 e por quê?
Ontem foi o décimo oitavo “Atlanticazo”. Uma ação que vem se realizando desde janeiro de 2022. Esse 4 [de junho] foi o primeiro e foi uma mobilização massiva em nossa cidade e também se fez em outros pontos da costa e do país. Se deu como resultado da resolução do Ministério de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação que decidiu autorizar a exploração sísmica em três áreas marítimas a 300 km da costa, apesar de que em uma audiência pública realizada esse ano, deu como resultado uma forte oposição ao projeto petroleiro. O Ministério decidiu dar-lhe curso e isso desencadeou uma resposta massiva por parte das comunidades costeiras e de todo o país que acompanhou nossa reivindicação com muita força e contundência. A partir desse momento seguimos sustentando todos os 4 de cada mês, não só em Mar del Plata mas em outras localidades.
Quê outras localidades se somaram?
A partir de toda a ação que vinhamos realizando faz quase dois anos, vem se formando uma rede de comunidades costeiras. Em princípio a cidade de Buenos Aires, Mar del Plata, Necochea, Miramar, Bahía Blanca, Mar Chiquita, o Partido da Costa e pouco a pouco pudemos estender esta rede até o resto das províncias que tem frente marítima e hoje já há comunidades em Río Negro, Chubut. En Santa Cruz está começando a se desenvolver e na Tierra del Fuego, que é uma comunidade onde historicamente houve off shore, desde a década de 70. Ali nunca havia se dado um processo de oposição e hoje já há mobilizações todos os 4, que fazem algumas ações de visibilização e de presença. Também “atlanticazos” em Ushuaia e Río Grande.
Comente-nos o que está ocorrendo no Golfo San Matías?
No Golfo San Matías há um processo de resistência que vem se dando encabeçado pela comunidade de Las Grutas mas somadas a outras que estão na zona e que tem que ver com o avanço do extrativismo petroleiro que pretende seguir avançando, destruindo e despojando nos territórios. O governo provincial, no ano passado, apresentou um projeto de modificação da lei 3308 que protegia o golfo San Matías das atividades hidrocarboníferas. Quer dizer, não se podia fazer exploração, e tampouco instalar nenhum porto de saída de hidrocarbonetos. Isto é porque o Golfo é uma área de muita riqueza biológica e ademais conhecida a zona por atividades de mergulho. O governo apresenta o projeto de modificação que é aprovado pela legislatura de Río Negro com a oposição da comunidade, habilitando a que se instale um porto na zona de Punta Colorada, desde o qual sairiam hidrocarbonetos provenientes de Vaca Muerta, quer dizer que para isso também há que construir um oleoduto, o que se vai exportar através desses portos é petróleo. O oleoduto será desde Vaca Muerta atravessando todos os territórios até chegar à costa rionegrina.
Em 3 de junho houve uma ação simultânea em diversos pontos do percurso convocado por organizações, sindicatos e comunidades tehuelche e mapuche de Río Negro e Neuquén para manifestar-se contra a construção do oleoduto que hoje já está em um processo de consulta pública fraudulenta. Também para manifestar-se contra esta modificação ilegal porque é o que definitivamente termina habilitando que o projeto de exportação de hidrocarbonetos avance.
Como está a situação a respeito do avanço da exploração sísmica?
Há vários momentos nos quais foram se dando avanços do projeto petroleiro. Uma foi quando a Câmara Federal de Mar del Plata decide dar baixa na medida cautelar em meio das férias judiciais no verão. Alegando que o governo e as corporações cumpriam com todos os parâmetros que se requeriam para gerar o controle e planejamento em casos de que houvessem inconvenientes. Só algumas precauções pontuais, mas habilitando que a empresa Equinor comece a fazer exploração sísmica a 300km da costa. Esse processo não começou porque por um lado o navio sísmico não estava disponível e por outro, porque para estas áreas marítimas a janela de tempo de trabalho é de outubro a março pelas condições que se dão, requer que seja na primavera-verão. Então ainda não começaram mas vem anunciando que com total segurança, coisa que nós pomos em dúvida, que começarão em outubro. O pomos em dúvida porque entendemos que a resistência segue crescendo e que em comunidade ainda estamos em um plano de luta para defender o mar e nossos territórios costeiros.
Por outro lado seguem fazendo consultas públicas por outras áreas marítimas. Houve uma no ano passado, uma consulta por outro bloco que finalmente obteve sua declaração de impacto ambiental em abril deste ano. Essa área marítima está em uma zona que limita com o Uruguai e agora em maio abriu-se uma consulta virtual por outras áreas CAN 107 e CAN 109, que estão a 200km da costa de Mar del Plata, muito mais perto que as outras.
O que estamos vendo é que enquanto as comunidades seguimos nos organizando, o governo e as corporações seguem avançando por fora da voz do povo, não a ouvindo, seguem com as autorizações que são meros trâmites administrativos para eles. O único que fazem é convocar uma audiência virtual muito “aparelhada” por Petroleiras. Porque definitivamente os trabalhadores dessas empresas seguem anotando para participar como se fossem moradores das comunidades e o que termina sucedendo é que o Ministério, independentemente, do resultado da consulta pública, da licença ambiental. Não tem sentido. Por isso como Assembleia já decidimos não participar mais. Não damos mais aval a esse “circo midiático-administrativo” que se dá no marco do Ministério do Ambiente que hoje não cumpre nenhuma função em termos de proteção do ambiente e da sociedade.
Nestas audiências no geral são maioria de moradores ou termina sendo maioria de gente alheia ou pró Petroleiras?
A maior participação se dá por parte de moradores das comunidades dos territórios mas o que vemos é que as vozes a favor vem pela mão de gente vinculada economicamente à atividade Petroleira, ou é trabalhador da mesma, ou é parte da atividade subsidiária à Petroleira ou pertence a algum sindicato que de alguma forma vai se beneficiar com o projeto. Como é o caso da CGT local, porque já tem seus acordos políticos com o governo nacional, lhes prometeram postos de trabalho e outras coisas mais. As vozes a favor vem com interesse econômico por trás. As vozes de moradores são contra com argumentos mais que válidos, o que se diz a favor são os mesmos espelhinhos coloridos que se reproduzem cada vez que o extrativismo baixa em um território, seja através de megamineração a céu aberto, fracking, projetos imobiliários, etc. Sempre falam de milhares de postos de trabalho, de sair da pobreza, dos milhares de dólares que vão chegar. Desenvolvimento econômico.
Há toda uma campanha publicitária, notas públicas, permanentemente, falando a favor da indústria Petroleira, da excelência na tecnologia, ocultando a verdadeira informação sobre os impactos negativos que gera em todos os territórios, não somente na Argentina mas em todo o mundo. E menosprezam as comunidades que nos organizamos inclusive até tratando-nos de “fascistas ambientais” para isolar-nos da população.
Qual é o desafio que temos as comunidades para enfrentar estes projetos extrativistas?
Em princípio o grande desafio é seguir organizando-nos. Levamos quase dois anos de organização Assembleária, autogestiva, de coração, sem recursos. É um grande desafio porque vivemos hoje, submergidos na necessidade cotidiana de sobreviver, isso é muito difícil para a maioria de nós poder participar e por este tempo voluntário e comprometido a serviço de uma causa comum. Para muitos significa deixar horas de estar com nossas famílias, as vezes resignar horas de trabalho para poder sustentar as atividades que se realizam desde as Assembleias. Isso requer poder chegar com as mensagens a toda a comunidade para que cada vez sejamos mais para aportar um grãozinho de areia, ainda que seja pequeno para sustentar a resistência porque o que se vê é um panorama tremendo para todos os territórios costeiros.
É um grande desafio neste momento tão vertiginoso de nossa sociedade, sustentar comunidade em resistência mas é o único caminho, de maneira individual, não vamos chegar. É a grande força que temos como povo, gerar ações e enfrentarmos os problemas que nos desafiam permanentemente.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
o pardal
foge do frio
no bolso do espantalho
Cláudio Feldman
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!